A
imagem da pescadora de conchas Honey Ryder, saindo das águas do Caribe com seu
biquini branco e uma faca na cintura, marcaria para sempre, não só a
filmografia de James Bond, como também a própria história cinematográfica da
década de 1960. A cena seria repetida pelos anos afora, toda vez que alguém se
predispusesse a oferecer uma resenha do cinema do século XX.
Depois do encontro nas areias de Crab Key, Bond, a garota e Quarrel escapam da perseguição inicial dos guardas de Dr. No, através dos rios e pântanos da ilha, mas acabam sendo confrontados com um dragão mecânico e armado com metralhadoras e lança-chamas. Quarrel morre na refrega; Ryder e Bond são aprisionados e, após passarem por uma minuciosa descontaminação, drogados e paparicados, são levados à presença do vilão.
Após um sofisticado jantar, em um não menos sofisticado salão, durante o qual Dr. No procura em vão aliciar Bond para a sua organização criminosa, os convidados são aprisionados.
Bond, é claro, escapa da cela e, por um tortuoso sistema de dutos, consegue chegar à estação de controle, onde No se prepara para interferir no lançamento de um veículo espacial americano. Utilizando uma indetectável técnica chamada toppling, o propósito é fazer com que os russos levem a culpa e provocar um conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética, que é o master plan da SPECTRE.
Bond consegue abortar a ação de No manipulando os instrumentos da estação e expondo um reator nuclear, o que dispara uma sequência de destruição que vai explodir todo o complexo de Crab Key. Não sem antes provocar a morte de seu inimigo numa luta final e libertar Honey Ryder. Os dois são encontrados horas mais tarde por Felix Leiter balouçando languidamente numa canoa ao sabor das ondas caribenhas. THE END.
O filme, apesar de seu diminuto orçamento (custou pouco menos de US$1 milhão – só para comparação, Cleopatra, produzido na mesma época, custou US$44 milhões), acabou por definir muitas das características que se tornariam permanentes na série e, principalmente, entronizar muitos dos atores nos papéis principais.
BERNARD LEE (M) |
Bernard Lee, por exemplo, como M, o sisudo chefe do MI6, participaria de 10 filmes. Lois Maxwell, a inesquecível Moneypenny (fora inicialmente escolhida para o papel de Sylvia Trench, mas recusou por acha-lo sensual demais), continuaria por 14.
LOIS MAXWELL (MONEYPENNY) |
Alguns perderam o bonde, e decidiram abandonar seu personagem após Dr. No. Jack Lord (Felix Leiter) e Peter Burton (Major Boothroyd ou Q) não apareceriam nas próximas produções.
As figuras femininas, entretanto, foram um capítulo à parte. Pode-se dizer que o termo Bond girl nasceu no instante em que Ursula Andress, uma atriz suíça de 26 anos, emergiu do mar. Uma escolha de última hora (feita a partir do momento em que os produtores viram uma foto sua tirada pelo marido, o ator John Derek), Andress teve sua voz dublada no filme, dado o seu forte sotaque alemão.
Os ingredientes para o futuro estavam todos ali. E algumas notáveis coincidências. Dr. No estreou no London Pavillion em 5 de outubro de 1962. Costumo dizer que um raio cósmico deve ter cruzado os céus de Londres pois, no mesmo dia 5, era lançado, nas lojas de discos londrinas, o compacto de estreia de um novo conjunto, com P.S. I Love You de um lado e Love Me Do do outro. Eram os Beatles.
Onze dias depois, começava a Crise dos Mísseis Cubanos. Nem a SPECTRE poderia ter imaginado um cenário daqueles. A Guerra Fria esquentava. Nunca antes e, felizmente, nem depois, o mundo esteve tão próximo de uma guerra nuclear. A realidade copiava a ficção. E a ficção ganhava seu espaço. Até hoje, a bilheteria de Dr. No retornou 60 vezes o custo da produção. E contando....
(continua)
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2021
MUITO BOM....
ResponderExcluirThanks, prima.
Excluirotimo fresumo meu aigo, gostei muito
ResponderExcluirObrigado. Espero que goste também dos próximos.
ExcluirGostei muito!
ResponderExcluirObrigadissimo, querida Fernanda.
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