«Oi
Antonia, que bom te ver de novo aqui no ZanziBar...»
«Pois
é... Pelo menos aqui o dono é consciente. Mesas distanciadas, máscaras
obrigatórias. Tomara que venha logo o famoso passaporte e ele passe a
exigi-lo para entrar aqui.»
«Não
acredito... Você está falando do passaporte do vacinado?»
«É
claro que sim! Por que? Você é contra?»
«Valha-nos
Deus... Não me diga que você, tão ciosa das liberdades individuais, tão contra
preconceitos e discriminações, seja a favor de uma coisa destas. Qual é? Vamos
criar duas classes de cidadãos? Vai vir por aí mais um nós contra eles?»
«Para
com isso! Aqui se trata de uma defesa da saúde pública. Pública, ouviu
bem? De todos. As vacinas estão aí. Até o fim do ano, só não vacina quem não
quer. E quem não quer, põe em risco os outros que preferiram se proteger...»
«Peraí.
Me explica este raciocínio. Se esses outros estão vacinados, como
podem estar em risco? Além disso, o que você está questionando é o direito de
ir e vir. Só circula quem estiver devidamente munido do salvo conduto?
Olhe que isto já aconteceu uma vez... Além de ser claramente
anticonstitucional.»
«Não
me venha com estas alusões baratas. Estamos numa pandemia, sacou? É uma
situação excepcional. Campanhas de vacinação têm sido usadas sempre que há um
perigo sanitário grave. Gripe, sarampo, febre amarela. Tente viajar para a
Índia. Sem estar com o certificado de vacinação contra a febre amarela, não
consegue. É um meio de proteção.»
«Eu não quero viajar para a
Índia. Quero andar livremente pela minha cidade, entrar no ZanziBar, no metrô,
no restaurante. Sem lenço nem documento, como dizia o Caetano. Sem ser obrigado
a tomar vacinas...»
«Mas por que este negacionismo?
Você já não tomou vacina contra tétano, difteria, hepatite, sarampo, tuberculose,
paralisia infantil? Então...»
«Aí está. O termo da moda. Negacionismo...
Tomei todas essas que você indicou. Mas, eram vacinas feitas como manda o
figurino, testadas durante anos antes de serem aplicadas. Nós somos as
cobaias dessas vacinas contra a COVID. Ninguém sabe o que pode acontecer.
Aliás, quando o assunto é coronavírus, ninguém tem certeza de nada. Não existe Ciência,
com C maiúsculo, formada sobre a COVID. É tudo achismo. Não nasci
para rato de laboratório...»
«Achismo ou não achismo, é a
proteção que temos. Podem não ter preenchido todos os protocolos, mas é o que
temos. Há uma guerra, não há tempo para frescuras. Vai ver se numa tenda de
hospital na frente de batalha, o médico vai exigir ambientes esterilizados para
extrair uma bala. Agora, me diga com sinceridade. Digamos que você está entre
entrar no ZanziBar, em que o dono exige que só frequentem clientes vacinados, e
um outro bar que não está nem aí para isso. Por uma questão de proteção pessoal,
qual dos dois você escolheria?»
«O que tiver o melhor chope.
Preste atenção, Antonia. O que eu quero é exatamente isto. A liberdade de
escolha. Siga o meu raciocínio. O Brasil tem 220 milhões de habitantes. Após 18
meses de pandemia, tivemos 15 milhões de casos de contaminação e 500 mil
mortes. Portanto, as minhas chances são de 6% de ser infectado e de 0,2% de
bater as botas. Prefiro este risco ao risco de vacinas experimentais.»
«Estatísticas são bonitas quando
acontecem com os outros. Quando acontece com você ou com quem você ama, o
percentual é 100%. Eu, por mim, vou logo vacinar e tirar o passaporte. E
só vou querer do meu lado quem fizer isto...»
«Quer dizer, se eu não estiver
devidamente documentado, nós só vamos conversar...»
«Pelo WhatsApp...»
Oswaldo Pereira
Junho 2021