Foi Adriana Calcanhoto quem disse. O
carioca não gosta de sinal fechado. Se ela generalizou, eu também posso. E
ainda tenho mais autoridade para falar, pois nasci em Copacabana.
E o carioca que vi hoje na Lagoa, ao
palmilhar minha santa caminhada pela manhã nascente, me decepcionou e me
entristeceu.
No início da semana passada, com o
famigerado pique da pandemia entrando em sua fase mais contundente, a
Prefeitura do Rio editou uma lei tornando obrigatório o uso de máscaras. Apesar
de estar muita das vezes contra algumas medidas determinadas pelos governos
estadual e municipal deste recanto onde vivo, achei a medida adequada. Na mesma
ocasião, o porta voz do Prefeito indicou que, inicialmente, e esperando o
acatamento natural da população ao édito, nenhuma medida impositiva seria
tomada. Se caso, evidentemente, as pessoas não correspondessem ao chamamento,
penas mais severas poderiam ser adotadas, como, por exemplo, a imposição de multas.
Hoje constatei o quanto a desobediência,
o desrespeito e a indisciplina, como o repúdio ao proverbial semáforo vermelho
da Calcanhoto, estão entranhados na alma carioca. Bem mais de metade das
pessoas que hoje vi não usavam máscaras. E muitas das poucas que a usavam,
puxadas para baixo, protegiam apenas o seu queixo...
Partindo do princípio de que a parcela
da população que se exercita ao redor da lagoa Rodrigo de Freitas está entre as
mais bem informadas, intelectualizadas e com o melhor acesso a uma educação de
nível superior do Rio, este espetáculo de mau comportamento social deixou-me desconcertado.
E convencido de que, sem uma penalidade suficientemente dolorosa, como ao
bolso, por exemplo, o carioca se recusará a acatar uma orientação, mesmo que
ela seja para sua proteção individual e a de quem o cerca.
É esse mesmo carioca que, pelo seu
perfil desrespeitoso, marca daqueles que acreditam ter só direitos, e que os deveres se aplicam exclusivamente ao resto da
humanidade, reagirá ainda pior caso seja confrontado com as penalidades que,
pelo visto, terão de ser implementadas.
Com este tipo de atitude não chegaremos
a lugar nenhum. Nem estou falando de COVIDs e pandemias. Estou falando de uma
sociedade que, para ter direitos, tem de saber cumprir os seus deveres. Estou
falando de futuro viável e civilizado. Estou falando de uma cidade onde o
individualismo petulante, a ignorância arrogante e o desprezo pelos outros
poderão destruir o ideal de civilidade de que tanto precisamos.
Nós, os cariocas, somos conhecidos e até
admirados pela nossa irreverência. Mas, às vezes, é preciso que nos tornemos
menos inconsequentes. Desrespeitar leis com dribles de corpo é uma arte
carioca. Engraçada, mas de duvidável mérito num momento como este.
Oswaldo
Pereira
Maio
2020
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDisse tudo, revoltado amigo
ResponderExcluirNão me agrada esse ar gozador
De quem tá nem aí pro perigo
Não reconhecem que o amor
Tem que se levar sempre consigo
A todos sem distinguir cor,
Sexo, religião, classe social.
Virá isso dos tempos da Capital?
Se virá, não sei, não sinto e não creio
ExcluirQue isto aconteça em meu viver
Décadas serão gastas de permeio
Gerações e gerações até se ver
Um povo sério e livre deste feio
E costumeiro vício de se crer
O rei da esperteza, macho e bamba
E seja irreverente só no samba
É também gostaria que, sem prejuízo da importantíssima sadia irreverência, na "hora do pega p´ra capar" a civilidade estivesse mais presente ... Mas também entendo que, na crispação a que o país desceu e com os exemplos "de cima" que nos entram até pelas frestas da janela, esperar um mínimo de civilidade é como esperar que o timeco do Vasco seja campeão ...
ResponderExcluirJaime
Rsrsrs... É até mais difícil que isto, caro Jaime...
ExcluirPara mim resumo dizendo:
ResponderExcluirSer Humano é um projeto que não deu certo.
bjs Zezé
Aliás vimos o Flavio Migliacio dizendo algo parecido em sua carta de suicida.
ResponderExcluirJá dizia Vinícius:
Excluir"Eu tento entender, mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: Escute, amigo
Se foi para desfazer, porque é que fez?..."
Realmente fico estarrecida com pessoas emboladas em frente à Caixa Econômica, na orla, em pagodes clandestinos... E em todas essas circunstâncias, a maioria sem máscara. E ninguém pode dizer que é falta de informação, já que a Globo, assistida por mais de 90% da população, fala sobre isso o tempo todo. Uma lástima.
ResponderExcluirPois é, Sandrinha. Ô raça...
ExcluirPor aqui, em SPA, a coisa se repete.. Grande parte da população de SPA é de baixa formação, mas de total acesso à informação e estranhamente se mostram preocupados, medrosos, mas seguir as regras que é bom não fazem... O que mais tem é mascara com nariz de fora e protegendo o queixo. Bem, até onde sei nosso prefeito vai começar a liberar a abertura de novos segmentos do comércio, com algumas regras. vamos ver..
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