Há dias, um dileto amigo meu propôs-me
um duelo. Seu nome é Homero Ventura, que permite ser chamado pelos mais íntimos
pelo simpático codinome de Homerix. Mais novo do que eu uns bons 15 anos, um pirralho portanto, Homerix e eu
conseguimos comungar algumas grandes paixões. Beatles e Bond, por exemplo.
Poderia ser outra, o futebol, mas ele é um santista roxo, e eu um rubro-negro
de pai e mãe. Mas há uma outra devoção que nos une. Somos ambos apaixonados
pela escrita. Homerix mantém, há quase 10 anos, se não me engano, um saboroso blog e, sem dúvida, foi o grande
inspirador para que eu me aventurasse a lançar o meu PALAVRA ESCRITA.
O desafio, jogado na arena do whatsapp, foi em forma de versos. Um
duelo num oásis desse deserto de ideias em que se transformaram as redes
sociais, palco de confrontos cabeludos e vociferações insensatas. Nossa disputa
é pelo estilo, pelo verbo bem colocado, pela rima mais preciosa.
Essa esgrima acabou ficando tão rica que
achei por bem reproduzi-la aqui.
O ponto de partida foi o seguinte enigma
proposto por Homerix:
A
varanda cá de casa é leste-oeste.
A
solar incidência é belo saldo.
Em
busca de ação que bem se preste,
Ler
é atividade a que respaldo.
Se
me permite, proponho breve teste.
E
venho aqui desafiar-te, ó Oswaldo:
Dado
o estilo que emprego neste artigo,
Que
livro estou a ler, ínclito amigo?
Ao que eu respondi, errando:
De
Português é com certeza
E
poeta de rima esmerada
Seria
Pessoa em sua varanda acesa
Pelo
sol de uma manhã iluminada?
Homero voltou à carga, dando-me uma
segunda chance:
Com
certeza, é uma trova portuguesa,
E,
claro, estou tentando imitar
Um
gênio que descreve com destreza
As
viagens de um aventureiro ao mar
A
buscar consagração e riqueza
E
tudo o que a Terra tem a dar.
Entretanto,
a dúvida consome:
Inda
não deste ao escritor o nome!
Com esta dica, acertei no alvo:
Ora,
claro o verso em ditirambo
A
cadência do vate consagrado
Deixou-me
até um pouco bambo
E
perdido por tão lindo arrazoado
Sem
dúvida, desta saga de leões
O
arauto só podia ser Camões
A partir daí, o pinga-fogo prosseguiu.
Homero
Agora
que me falta um rega-bofes,
Decidi
entrar fundo no universo,
Que
não permite nossa mente mofe
E
afasta o raciocinar disperso.
Mais
de mil, ai, são tantas estrofes
E
oito vezes, o número de versos.
E
em motes decassílabos, eu tento
Descrever-lhe
o estilo a contento.
Eu
Que
contento meu amigo Homero
Sabê-lo
tão preciosa pena
Não
se perde em reles lero-lero
Nem
se afasta de uma rima plena
É
perfeita sua métrica e espero
Poder
eu emular-lhe o tema
E
fazer poesia a sério
E
que à alma traga refrigério
Homero
Quando
de tarde sentar-me ao notebook
Elaborarei
a tréplica devida
Sem
qualquer vício ou truque
Gran
Camões dar-me-á a guarida
Seguirei
a batalha em bom muque
Enquanto
continuar-lhe a vida
Desta
forma bem nos alegramos
Cultivando
do cérebro os ramos!
Eu
Estarei
esperando o nobre repto
Que
virá, como sói, de estilo certo
Pois
sei que, caro amigo, és adepto
De
ter o bom idioma sempre perto
Deslize
pelas teclas do teu lapto(p)
A
tua inspiração de peito aberto
E
assim prosseguiremos esta lide
Até
que nos esqueça o COVID
Homero
Adorei-lhe
o anglicismo, fero Oswaldo,
Inda
mais com o recurso parentado
Evitando
o consoante saldo
Do
incômodo ‘p’ lá instalado.
Este
nosso duelo vai dar caldo
Pois
que temos o gosto do babado
Até
quando nessa laia então iremos?
Até
quando nos caírem os remos?
Eu
Nem
quis esperar pela manhã
E
ter a noite por boa conselheira
Apressei-me
em atender meu justo afã
E
oferecer esta resposta alvissareira
A
poesia veneramos como irmã
Os
versos nos escapam da algibeira
Portanto
tenho fé que remaremos
Muito
além do que singrou Gaspar de Lemos
Homero
Em
prol do conhecimento geral
Quis
saber mais desse Gaspar
Que
chegou ao Brasil com Cabral
Comandando
a nau alimentar
E,
retornou com carta a Portugal
Aquela
de Caminha a revelar
Aos
olhos do Rei Venturoso
A
visão do país assombroso
Mas
não satisfeito ele ficou
De
já fazer da história
E
no ano seguinte retornou
Exercendo
sanha exploratória
E
ao longo da costa encontrou
Baías
que nos ficam na memória
A
com nome de Todos os Santos
E
a Guanabara de tantos encantos
Eu
Gaspar
foi um grande aventureiro
De
D. Manuel fez-se amigo e paladino
Vasco
da Gama conheceu-o por primeiro
Lá
nas Índias onde um trágico destino
O
havia abandonado sem dinheiro
E
trouxe-o para a Corte. Fez-se fino.
Elegante,
sagaz e ambicioso
Conquistou
D. Manuel, O Venturoso
O
Rei, entusiasmado e mui atento
Deu-lhe
o comando de uma naveta crucial
Responsável
pelo provisionamento
Das
caravelas da esquadra de Cabral
E
então, à procura de bom vento
Afastaram-se
da rota original
E
Gaspar, deserdado no Oriente
Veio
parar em um outro continente
A coisa tem prosseguido a passos
rápidos. Depois de mais alguns decassílabos, resolvemos agora partir para o
soneto. Homero criou até um grupo no whatsapp,
e mais amigos seus estão aderindo. Um verdadeiro oásis, neste inclemente
deserto da quarentena.
Oswaldo
Pereira
Maio
2020
Bravooo!!! Divertido,sóbrio e surpreendente. Seguindo assim, chegareis a escrever uma outra historia do Brasil, talvez.
ResponderExcluirQuem sabe? rsrsr..
ExcluirNoto que o magnâmimo duelo
ResponderExcluirBem se expande de forma expedita
Pois que encontra registro paralelo
No espetacular Palavra Escrita!
Sê bem-vindo, ó blog tão belo
Teu par do Homerix felicita!
Que teu poder bem fundo se finque
Para tanto forneço-lhe o link:
https://obpereira.blogspot.com/2020/05/duelo-num-oasis.html
Caro Homerix, que bela homenagem
ExcluirApregoar meu blogue tão modesto
Poetas que como você agem
'Stão sempre prontos a fazer tão belo gesto
Mas diante de você sou mero pagem
Um simples trovador bissexto
Incapaz de criar com tal destreza
Um fecho tão precioso. Que Beleza!
Que mal se me da entender la rima en portugués....
ResponderExcluirSe potesse, lo tradurrei in Italiano...
Excluir0brigado pelo oásis nessa quarentena. E que o duelo continue.
ResponderExcluirAí Zé, por que não entras nesta?..
ExcluirTivera eu capacidade e maestria
ExcluirQuem sabe até me arriscaria
Tá vendo como é fácil?...
ExcluirBelo duelo de palavras bem escritas
ResponderExcluirFazem de teu blog elogios sem criticas
Deliciando como sempre você o faz
As horas de quarentena e me satisfaz.
Já vi que temos novo trovador
ExcluirQue lá do alto dos Andes vem apor
A esta nossa lide mais encantos
Venha daí, Almirante, mais uns tantos
Sempre acreditei que a rima foi inventada para fazer rir, ou pelo menos, sorrir.Obrigada. É o q está faltando. Umas boas gargalhadas e um pouco de calma q nos alimente a alma.
ResponderExcluirA rima vem, quando se quer, seja homem ou mulher, basta ter o tempo certo, que a trova vem de certo...
ExcluirQUI DILIIIICIIIA de duelo. Que todos pudessem ter sido no passado dessa forma. bjs
ResponderExcluirJá pensou? Bolsonaro e Moro duelando em decassílabos?...
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