Em meados de 2015, Michel Temer percebeu
que tinha de fazer alguma coisa. O Governo a que ele pertencia estava
naufragando. Atrelado, pela segunda vez, como Vice-Presidente na chapa de Dilma
Rousseff, Temer rapidamente reconheceu que sua carreira política estava sendo
puxada para o abismo criado pela mais incompetente, desastrada e corrupta
Administração de que se tem notícia neste país.
Logo no começo do segundo mandato, ele
começou a agir. Uma opinião aqui, uma declaração ali, uma confidência a ouvidos
descuidados foram os primeiros movimentos. Aos poucos, ele se descolava da base
de apoio de Dilma, preparava seu bote salva-vidas num Titanic que, com o casco
rompido por um iceberg de nome Lava-Jato, adernava perigosamente.
Com os cochichos de um provável impeachment da Presidente circulando
pelos corredores de Brasília, ele sentiu que era a sua vez de dar um passo em
frente. Publicou uma carta de rompimento com Dilma e virou suas baterias contra
o transatlântico presidencial que, a esta hora, com os porões carcomidos e
cheio de ratos, afundava. Segurando a coordenação política nas mãos, liderou o
processo e, com o triunfo inevitável, acabou conquistando seu pequeno nicho na
História do Brasil. Um curso de ambição e oportunismo em uma só lição.
Sérgio Moro parece ser um aluno atento. Elevado
à categoria de super-herói num país tão à falta deles, Moro, se não for um ser
humano totalmente desprovido de sonhos, vaidades, expectativas, amor próprio e
necessidade de reconhecimento, deve ter sentido o bafejar da glória passando
pelo seu rosto. Seria impossível que não o sentisse, nas inúmeras e apaixonadas
demonstrações de admiração e respeito que inundaram o país.
Seria também inadmissível que não fosse
capaz de ouvir as sereias cantando nos rochedos da atual maré política
brasileira. Até o advento da pandemia, o país estava deslanchando. Mais do que
isso, Bolsonaro representava a ressurreição pátria, depois de anos amargando o
desalento do inferno podre de um país ao saque. Ao mesmo tempo que a Economia
ganhava momento, e a esperança num
sólido e sustentado crescimento livre das chagas dos propinodutos dominava a
cena nacional, a crença no mito Bolsonaro
já iluminava o caminho para sua reeleição em 2022. Em bom português, não tinha
para ninguém.
O COVID-19 veio misturar as estações. É
inevitável que o Brasil, da mesma forma que a grande maioria dos países, passará
por um duro e cruel purgatório. De imprevisível duração, a depressão econômica
vai gerar um descomunal desemprego, perdas patrimoniais possivelmente
irreversíveis, um empobrecimento geral e o ressurgimento do espectro da fome.
Fragilizado por este enredo de horrores, o Governo Bolsonaro, que já contava
com a má vontade de uma classe política privada de seus impunes e obscenos
rega-bofes e de uma imprensa dominada por uma esquerda com sede de vingança,
poderá ver seu capital eleitoral drasticamente reduzido.
Com isto no radar dos partidos, a
temporada de caça foi aberta. 2022, afinal, pode ser um terreno sem dono. Mesmo
assim, até recentemente, todo o espectro político à esquerda de Bolsonaro (ou
seja, quase tudo) ainda não conseguira vislumbrar um nome viável. Os candidatos
mais próximos, Dória ou Maia, não tinham cacife para entrar nesse jogo com
chances de ganhar. Quer dizer, não vislumbrava até o dia 24 de abril.
Aprendiz de talento, Sérgio Moro jogou a
lança na arena com a sua auto demissão. Assim
como Michel Temer, aproveitou o momento de tormenta e pulou do barco atirando.
E, imediatamente, encontrou o bote de apoio que o esperava para levá-lo a 2022.
Só que para lá chegar, vai ter de amansar tubarões, agradar serpentes marinhas,
alimentar cardumes de piranhas. Vai ter de vender sua alma ao diabo. Ou, se já
a vendeu, vai ter de entregá-la.
Oswaldo
Pereira
Maio
2020
Interessante paralelo entre Temer e Moro. Só acho que as semelhanças entre os dois acabam por aí. Seria mais inteligente do Moro se ele apoiasse um futuro candidato em vez de "ser" o candidato. Ele teria mais influencia no Governo e ficaria menos vulnerável aos ataques da imprensa. Eu acho que o Moro ainda não tem experiencia suficiente na política para tentar uma Presidência. Mas quem sou eu para adivinhar o que vai acontecer nos próximos 2 anos no mundo.
ResponderExcluirBem observado. Mas Moro vai (ou melhor, já está sendo) ser influenciado por uma irresistível pressão da oposição para ser candidato. Na minha humilde opinião, ele não passa de um vendilhão ambicioso, mas grande parte do país ainda o vê como um nome respeitável.
ExcluirDecepção geral. Caberia um estudo do tipo " De como enganar uma nação inteira."
ResponderExcluirMas como ele caiu na desgraça de quem elegeu Bolsonaro e já está na desgraça de outros por causa da lava jato, será que ainda tem muito espaço na política?
Caro Zé,
ExcluirNa política há sempre espaço para tudo. Não há idealismos nem lealdades. O inimigo de ontem pode ser o amigão de hoje, se ambição e oportunismos estiverem em jogo.
Também vai depender do que for descoberto dos esquemas do Flavio Bolsonaro
ResponderExcluirPode ser. Mas para mim o processo de encaminhamento de uma candidatura Moro em 2022 já está em andamento.
ExcluirComo fica essa aliança do Bolsonaro com os políticos mais corruptos do Brasil reunidos no Centrão?
ResponderExcluirAliança de Bolsonaro com políticos??? Esta para mim é nova. Quem são esses políticos? Gostaria de saber mais.
ExcluirAh sim! Marun/Aleluia. Bela dupla. O problema é que sem renovar o Congresso, nada feito.
ExcluirSão eles que mandam..
Ola oswaldo.
ResponderExcluirComo voce dabe politica nao e a minha area.
So sei que tudo se repete .
Um candidato bem relacionado com os que mandam e sempre mandaram pode ser a opcao ate que desagrade alguem. E ahi volta tudo de novo.
Abracos
Emilio