No século IX, auge da idade de ouro
islâmica, a região fazia parte do Al-Andaluz.
Sua planície e o rio que a cruzava pertenciam ao emirado de Córdova, governado
por Muhammad (ou Maomé) I. Maomé tinha bom gosto, cultura e dezenas de
excelentes arquitetos à sua disposição. Nas margens desse rio, cujo nome era Fonte de Água, ordenou a construção de
um palácio para seu deleite e seu harém. Fonte
de Água em árabe escreve-se al-Majrit.
Quando, 700 anos depois, o rei de León, Afonso VI, a conquistou durante sua
avançada para Toledo, a pequena vila que crescera ao redor do palácio já havia
transformado o nome al-Majrit. Ela
agora se chamava Madrid.
Hoje, ela está no centro geográfico,
político, econômico e cultural da Espanha. Em 2010, a prestigiada revista Monocle a qualificou como a décima
cidade mais habitável do planeta. Dez milhões de turistas a visitam todos os
anos. Para quem está passando uma temporada em Portugal, ela está aqui ao lado.
Menos de uma hora de voo, e você está no Aeroporto de Barajas. E a aventura
começa.
Minha aventura inicial teve um sabor
amargo. Logo na primeira viagem de metrô, um ardiloso (ou ardilosa) punguista
surrupiou-me a carteira e lá se foram documentos e cartões bancários. Minha
manhã de abertura em tierras madrileñas foi
um rosário de ligações às agências bancárias e um périplo apressado entre a
delegacia de polícia e o Consulado, para obter uma documentação que me permitisse
pegar o avião de volta.
Mas aí, de repente, a tarde abriu-se num
delicioso sol de verão e, aos poucos, o amargo do início foi sendo substituído
pelo sabor de um delicioso prato de presuntos de diversas categorias no Museo del Jamón. Daí para a frente,
Madri venceu.
A primeira palavra que os sentidos
escolhem é imperial. A cidade foi
feita para ser a capital de um império, cujo limite era a metade de um mundo
que os espanhóis dividiam com os portugueses. Sua arquitetura, desenhada ao
longo de grandes avenidas, parece falar disto em todas as rebuscadas fachadas
barroco-clássicas, em seus parques, nas suas fontes e em suas praças.
Onde, no século XVI, os não-crentes
ardiam nos autos-de-fé da Inquisição, você hoje, mesmo crendo apenas nos
desígnios do destino, pode caminhar num enorme quadrilátero cercado de prédios
palacianos e arcadas elegantes, repletas de lojinhas charmosas e restaurantes
ao ar livre. É a Plaza Mayor.
PLAZA MAYOR |
PUERTA DEL SOL |
Lá chegando, tire logo um selfie de seu pé em cima do Km 0, e saiba que você está bem no
centro de Madri e da Espanha, de onde partem e aonde chegam todos os caminhos.
Só então olhe a Praça, que vive em permanente adoração ao Sol que lhe dá nome.
Coloridas tribos de artistas de rua, estátuas vivas, dançarinos, acrobatas e
músicos de toda sorte cutucam o hippie que
você deve ter no fundo da alma. Cantarole mentalmente Let the Sun Shine In e faça uma reverência.
Parar para descansar? Nem em pensamento.
Mergulhe no caudaloso rio de gente que flui nas largas avenidas radiais que
saem da Praça, como a Calle del Arenal ou
a Calle de Alcalà. Deixe-se levar
pela correnteza e você aportará na Fonte de Cibeles e no início da Gran Vía. Faça uma prece ao deus dos
caminhantes e palmilhe essa broadway latina
até chegar à Plaza de España. E
então, só então, escolha uma esplanada, dê um merecido repouso às pernas e
regale o estômago vazio com os petiscos da terra.
GRAN VÍA |
No dia seguinte, se bem lhe aprouver,
alimente o espírito. Juntinhos, ao redor do Paseo
del Prado, estão três dos mais importantes museus de arte da cidade. O Thyssen, o Reina Sofia e o maior e mais famoso deles todos. O Museo del Prado.
Como qualquer dos mais comuns mortais,
você já deve ter visto fotografias e reproduções do Las Niñas de Velásquez, dos autorretratos de Rembrandt, das Majas de Goya, d’O Jardim das Delícias de Bosch, do Autorretrato de Dürer, d’O
Batismo de Cristo de El Grieco. Pois todas elas, junto com centenas de
outras, estão a um palmo do seu nariz no Prado.
São horas de puro êxtase.
Se a viagem for curta como a minha,
arranje ainda um tempo para ir à Catedral
de la Almudena, a imensa igreja sede de Madri. E, impreterivelmente, ao Palácio
Real. Construído no mesmo sítio onde Maomé I erguera o seu no século IX e dera
origem à cidade, o edifício reafirma o caráter monumental da capital espanhola.
Tudo é grande, majestoso, imperial.
PALÁCIO REAL DE MADRI |
Por fim, coma uns churros con chocolate no San
Ginés e ande. Ande sempre. Há vielas, esquinas, feiras populares, como a de
El Rastro, cantinhos, portas, janelas, cheiros sons e cores esperando por você.
E depois, volte para casa com a sensação que ainda há muito, muito para ver
neste destino certo que é Madri.
Oswaldo
Pereira
Agosto
2019
Olá Oswaldo.
ResponderExcluirBela descrição de Madrid. Merece ser visitada pela sua história e pelo acervo Cultural que possui.
Sem falar das deliciosas iguarias.
Est á anotada sua recomendação.
Abraços Emílio Gonzalo e Tânia.