sexta-feira, 18 de agosto de 2017

TURISMO


Grupos. Séquitos. Hordas.

Rios. Torrentes. Tsunamis.

É a maré dos turistas. E as cidades-alvo veem suas ruas, suas praias, seus monumentos, seus bares, seus restaurantes e seu dia-a-dia afogados em ondas e mais ondas de gente ávida por selfies, comida típica e diversão barata. Não necessariamente nesta ordem.

Com o esfacelamento do turismo exótico em terras africanas e nos mistérios orientais, engolfados em rebeliões internas, guerras cruéis e desassossego político, os europeus sedentos de sol voltaram-se este ano para endereços dentro de seu próprio continente, especialmente os que prometiam céu azul, areia banca, águas mornas e suaves brisas vespertinas.

Assim, já que Grécia e Italia penam os dissabores de ver barcos e mais barcos de refugiados aportarem às suas costas, veranistas de todo os nortes concentraram sua mira, e seu sonho de um verão dos deuses, nas Ilhas Baleares, no sul e no leste espanhóis, nas Canárias. E em Portugal.

Na Espanha, a coisa já está ultrapassando os limites. Não há mais quartos livres na hotelaria de Barcelona e em Palma de Maiorca esgotaram-se os centímetros de areia para estender a toalha de praia. Em Tenerife e Lanzarote o sol já não chega para todos e muito menos tapas para matar a fome no final do dia. Em alguns lugares, há locais se rebelando contra a invasão às vezes predatória e que contabiliza mais prejuízos do que ganhos. Tem havido demonstrações de turistofobia em vários lugares.

Por aqui, ainda não chegamos a isto, mas é visível o significativo aumento na revoada estival deste ano nas ruas de Lisboa, do Porto, de Coimbra. O Algarve, preferido por dez entre dez beach lovers, e agraciado recentemente pela indústria de viagens com o apelido de A Califórnia Europeia, regurgita gente por todos os lados. Estima-se que 35 milhões de turistas deverão visitar Portugal em 2017. Contratempos à parte, é um grande sucesso financeiro e de prestígio internacional.

E eu fico pensando no Brasil. Seria a nossa hora. 2017. Um ano depois dos Jogos do Rio. Uma dádiva da natureza envolvida em sol, céu, mares e florestas. Uma linha de praias brancas com dezenas de quilômetros, recôncavos de baías virgens e colinas verdes, montanhas míticas. E penso nas oportunidades perdidas, no sonho de um Rio olímpico que se desfaz lentamente no pântano do descaso, da incompetência e da corrupção. No fosso intransponível criado pela insegurança, pela falta de vontade política para resolver o problema, pelos projetos corroídos pela ferrugem dos desmandos, estruturas carcomidas pela estupidez e pela irresponsabilidade.

Mais uma que perdemos...

Oswaldo Pereira
Agosto 2017


8 comentários:

  1. É isso Oswaldo. Perdemos e continuamos perdendo. Apesar desse berço esplêndido estamos longe de saber aproveitá-lo. E o pior é que onde se tem alguma estrutura o preço é absurdo. Melhor ir para o exterior.
    Grande abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E do exterior vem pouca gente. Preços, distância e insegurança fazem o trabalho de afastar muita gente.

      Excluir
  2. A irresponsabilidade dos políticos e a cegueira até então do povo nos levou a isso. Perdemos e muito e não temos certeza se, agora enxergando o que aconteceu, teremos homens que possam dirigir o país cambaleando com as dívidas....

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você bateu no ponto certo. Será que ainda temos chance de reverter o quadro? Com Lula à frente nas pesquisas para 2018, duvido muito...

      Excluir
  3. Andar pelo mundo é um presente
    "dos deuses". Quanto ao aparato dos "pacotes" que vendem os paraísos é na maioria das vezes
    no mínimo, tolo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Excursões tipo "se hoje é terça-feira, isto aqui deve ser a Bélgica" nunca fizeram meu estilo. Gosto de sentir o ar, provar o cheiro das ruas, os sons das gentes. Se não, o que teremos para contar depois?...

      Excluir