quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ELVIS


Thomas Edison é famoso por muitas coisas, inclusive por ter sido um grande frasista. O gênio é 1% inspiração e 99% perspiração, é uma de suas mais conhecidas frases. E esta outra. A maioria dos fiascos aconteceu a pessoas que não conseguiram enxergar quão próximas estavam do sucesso quando desistiram.

Perseverança. Se não fosse esta capacidade de continuar tentando, mesmo quando tudo dá errado, Elvis Aaron Presley não teria sido Rei.

Apesar de aluno médio na escola, sua pior nota sempre foi em Música. Daí sua decepção quando, aos dez anos, em vez de uma bicicleta ou um rifle de brinquedo, ganhou da mãe uma guitarra. Fazer o quê. Já que era assim, decidiu investir na prenda e, sempre de ouvido, foi aprendendo a tocar.

Aos 14, já arriscava participar de alguns concursos musicais do meio rural em que vivia, com pouco sucesso. A essa altura, a família já se mudara do Mississippi e fora morar em Menphis, no Tennessee. Cada vez mais atraído pela cena da pop music americana, agitada pelo terremoto recente do rock’n’roll, o garoto caipira foi procurando beber nas fontes do hillbilly, da soul e dos blues. Isto seria determinante para a criação do rockabilly, o tipo de ritmo que o iria consagrar.

Mas, a deusa da fortuna só o iria bafejar ligeiramente em 1954, quando, com 18 anos e querendo fazer um disco demo para presentear à mãe, foi aos estúdios da Sun Records e gravou “My Happiness”. A experiência ficou só nisto, embora Sam Phillips, o dono da gravadora, tenha guardado uma cópia. Havia alguma coisa no jeitão daquele garoto que o agradara. Good ballad singer, disse ele à secretária.

A vida seguiu e Elvis arranjou um emprego de chofer de caminhão, ao mesmo temo que era rejeitado por vários grupos musicais. Não entende nada de harmonia, era uma das várias frases que ouvia. Outra era continue a dirigir caminhões, rapaz.

Foi com surpresa, então, que meses depois recebeu um chamado de Phillips para que voltasse à Sun e fizesse uma audição. O próprio Sam contratara três instrumentistas para acompanhá-lo. O dia, entretanto, foi totalmente infrutífero. Nada parecia dar certo. Às dez da noite, quando os músicos se preparavam para guardar seus instrumentos, Elvis pegou a guitarra e começou a cantar That’s All Right e a mexer-se como um louco. Os outros, empolgados, decidiram acompanhar. De repente, Sam Phillips, que aparentemente assistira a tudo, abriu a porta do estúdio e disse: Recomecem isso aí. Eu vou gravar.

O resto vocês sabem. Em novembro de 1955, Elvis, já então famoso no sudeste americano, decidiu mudar para uma gravadora conhecida nacionalmente, a RCA. Seu primeiro single, Heartbreak Hotel, disparou nas paradas de sucesso. Quando 1956 entrou, Elvis Presley entrava em outra dimensão. A dos mega stars.

À batida inebriante do rockabilly, Elvis juntou seu belo rosto juvenil, umas compridas costeletas e o rebolado que iria desencadear, simultaneamente ao delírio das adolescentes de então, uma severa condenação dos conservadores e até do FBI, que o considerou uma ameaça à juventude dos Estados Unidos. Ed Sullivan, cujo programa de TV era líder nacional de audiência, declarou-o unfit for family viewers (impróprio para a família expectadora) e, escandalizado com as ancas giratórias de Presley, apelidou-o de Elvis the Pelvis.

De nada adiantou. A onda de sucesso era avassaladora e todos tiveram de engolir seus ácidos comentários. Ele era o Rei.

Eu tinha 15 anos quando ouvi Heartbreak Hotel pela primeira vez. A bem da verdade, não me impressionou muito. As paradas musicais que nos chegavam pelo Rádio e pelos 78 rotações (tradução para a galera jovem: um disco de acetato que tocava numa coisa chamada vitrola) tinha outros favoritos, como os Platters, Little Richards, Pat Boone, Everly Brothers e que tais. Só sabia que ele andava num Cadillac cor-de-rosa com um pente quebrado no bolso.

Mas, logo depois fui para os Estados Unidos e fiquei exposto ao imenso sucesso de Elvis. Ainda lá estava quando ele foi convocado para o serviço militar. Uma comoção nacional.

Ao dar baixa do Exército, ainda no topo de sua popularidade, Elvis decidiu ir para Hollywood, praticamente abandonando a estrada dos shows e aparições televisivas por uma carreira de ator. Não decolou. Seus filmes foram demolidos pela crítica e acabaram por perder bilheteria. Quando decidiu voltar à cena musical, em 1968, o mundo mudara. A Invasão Britânica havia dominado o planeta.

Ainda assim, suas atuações on the road enchiam os anfiteatros. Mas, já não era o mesmo. Com a saúde em declínio, dominado pelo cardápio de drogas que consumia, suas apresentações foram-se tornando um desastre, uma exibição patética de um artista em desconstrução.

De uma certa maneira, sua morte precoce em agosto de 1977, aos 42 anos, resgatou o mito. Hoje, adoradores que nunca o viram ao vivo fazem seu ramadan de peregrinação a Graceland, a mansão onde repousa. Continua vendendo discos que, até agora, somam mais de 600 milhões. E inspirando visões que asseguram que ainda anda por aí. E mantém sua coroa de Rei.

Oswaldo Pereira
Agosto 2017












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