Thomas Edison é famoso por muitas coisas, inclusive por ter sido um grande frasista. O gênio é 1% inspiração e 99% perspiração,
é uma de suas mais conhecidas frases. E esta outra. A maioria dos fiascos aconteceu a pessoas que não conseguiram enxergar
quão próximas estavam do sucesso quando desistiram.
Perseverança.
Se não fosse esta capacidade de continuar tentando, mesmo quando tudo dá errado,
Elvis Aaron Presley não teria sido Rei.
Apesar
de aluno médio na escola, sua pior nota sempre foi em Música. Daí sua decepção
quando, aos dez anos, em vez de uma bicicleta ou um rifle de brinquedo, ganhou
da mãe uma guitarra. Fazer o quê. Já que era assim, decidiu investir na prenda
e, sempre de ouvido, foi aprendendo a tocar.
Aos
14, já arriscava participar de alguns concursos musicais do meio rural em que
vivia, com pouco sucesso. A essa altura, a família já se mudara do Mississippi
e fora morar em Menphis, no Tennessee. Cada vez mais atraído pela cena da pop music americana, agitada pelo
terremoto recente do rock’n’roll, o
garoto caipira foi procurando beber nas fontes do hillbilly, da soul e dos blues. Isto seria determinante para a
criação do rockabilly, o tipo de
ritmo que o iria consagrar.
Mas,
a deusa da fortuna só o iria bafejar ligeiramente em 1954, quando, com 18 anos
e querendo fazer um disco demo para
presentear à mãe, foi aos estúdios da Sun
Records e gravou “My Happiness”. A
experiência ficou só nisto, embora Sam Phillips, o dono da gravadora, tenha
guardado uma cópia. Havia alguma coisa no jeitão daquele garoto que o agradara.
Good ballad singer, disse ele à
secretária.
A
vida seguiu e Elvis arranjou um emprego de chofer de caminhão, ao mesmo temo
que era rejeitado por vários grupos musicais. Não entende nada de harmonia, era uma das várias frases que ouvia.
Outra era continue a dirigir caminhões,
rapaz.
Foi
com surpresa, então, que meses depois recebeu um chamado de Phillips para que
voltasse à Sun e fizesse uma audição.
O próprio Sam contratara três instrumentistas para acompanhá-lo. O dia,
entretanto, foi totalmente infrutífero. Nada parecia dar certo. Às dez da
noite, quando os músicos se preparavam para guardar seus instrumentos, Elvis
pegou a guitarra e começou a cantar That’s
All Right e a mexer-se como um louco. Os outros, empolgados, decidiram acompanhar.
De repente, Sam Phillips, que aparentemente assistira a tudo, abriu a porta do
estúdio e disse: Recomecem isso aí. Eu
vou gravar.
O
resto vocês sabem. Em novembro de 1955, Elvis, já então famoso no sudeste
americano, decidiu mudar para uma gravadora conhecida nacionalmente, a RCA. Seu
primeiro single, Heartbreak Hotel, disparou
nas paradas de sucesso. Quando 1956 entrou, Elvis Presley entrava em outra
dimensão. A dos mega stars.
À
batida inebriante do rockabilly, Elvis
juntou seu belo rosto juvenil, umas compridas costeletas e o rebolado que iria
desencadear, simultaneamente ao delírio das adolescentes de então, uma severa
condenação dos conservadores e até do FBI, que o considerou uma ameaça à
juventude dos Estados Unidos. Ed Sullivan, cujo programa de TV era líder
nacional de audiência, declarou-o unfit
for family viewers (impróprio para a família expectadora) e, escandalizado
com as ancas giratórias de Presley, apelidou-o de Elvis the Pelvis.
De
nada adiantou. A onda de sucesso era avassaladora e todos tiveram de engolir
seus ácidos comentários. Ele era o Rei.
Eu
tinha 15 anos quando ouvi Heartbreak Hotel
pela primeira vez. A bem da verdade, não me impressionou muito. As paradas musicais
que nos chegavam pelo Rádio e pelos 78 rotações (tradução para a galera jovem: um disco de acetato que tocava numa coisa
chamada vitrola) tinha outros
favoritos, como os Platters, Little
Richards, Pat Boone, Everly Brothers e que tais. Só sabia que ele andava
num Cadillac cor-de-rosa com um pente quebrado no bolso.
Mas,
logo depois fui para os Estados Unidos e fiquei exposto ao imenso sucesso de
Elvis. Ainda lá estava quando ele foi convocado para o serviço militar. Uma
comoção nacional.
Ao
dar baixa do Exército, ainda no topo de sua popularidade, Elvis decidiu ir para
Hollywood, praticamente abandonando a estrada
dos shows e aparições televisivas por uma carreira de ator. Não decolou. Seus
filmes foram demolidos pela crítica e acabaram por perder bilheteria. Quando
decidiu voltar à cena musical, em 1968, o mundo mudara. A Invasão Britânica havia dominado o planeta.
Ainda
assim, suas atuações on the road enchiam
os anfiteatros. Mas, já não era o mesmo. Com a saúde em declínio, dominado pelo
cardápio de drogas que consumia, suas apresentações foram-se tornando um
desastre, uma exibição patética de um artista em desconstrução.
De
uma certa maneira, sua morte precoce em agosto de 1977, aos 42 anos, resgatou o
mito. Hoje, adoradores que nunca o viram ao vivo fazem seu ramadan de peregrinação a Graceland, a mansão onde repousa. Continua
vendendo discos que, até agora, somam mais de 600 milhões. E inspirando visões
que asseguram que ainda anda por aí. E mantém sua coroa de Rei.
Oswaldo Pereira
Agosto 2017