quinta-feira, 4 de maio de 2017

REDES SOCIAIS



Os portugueses são ótimos em ditados. Cheguei até a escrever um post há muito tempo, intitulado de “Anexins”, para descrever essa peculiaridade lusa e mostrar alguns exemplos.

Hoje, ponderando sobre as maravilhas do nosso tempo, lembrei-me de um. Não há bela sem senão. E, nestas minhas graves ponderações, a “bela” é a grande revolução social do século XXI – as redes sociais.

Facebook, Twitter, Snapchat, Linkedin, Pinterest, WhatsApp....  Quem, querendo estar presente, visto e ouvido, enfim, “antenado”, pode dar-se ao luxo de prescindir destes nomezinhos, esconder-se no silêncio e no ostracismo de um mundo desvirtual? Que profissional de qualquer área permite-se hoje desvincular-se destes canais universais de contato? Que adolescente arrisca-se a se isolar do intenso e contínuo tráfico de mensagens de sua “turma”?

As vantagens, para quem precisa, ou sente urgência interior, de comunicar-se, são extraordinárias. Uma comunidade de amigos ao alcance de um clique, a qualquer hora. A multiplicação exponencial de uma teia de conhecidos, disponíveis a um pedido de amizade. Lembretes que nunca mais nos deixarão esquecer de um aniversário. Mensagens prontas para qualquer ocasião, de funerais a bar mitzvahs, emoticons que substituem frases inteiras (com vantagens, em muitos casos...). Curtir & compartilhar tornaram-se os verbos do momento. Tudo fácil, rápido, dinâmico. O planeta aos pés.

A “bela”. E o “senão”?

As estatísticas estão aí. Atualmente, quase 50% da população adulta do mundo civilizado baseiam mais e mais sua percepção das notícias no que lhes chega pelas redes sociais. E esse número aumenta rapidamente. Segundo as previsões mais conservadoras, em cinco anos os jornais e as televisões deixarão de ser o meio informativo por excelência.

Cientes disto, muitos jornalistas já estão abandonando a mídia tradicional e abrindo seus canais informativos nas redes. Sabem que o poder de divulgação de um viral, que pode atingir milhões de pessoas em minutos, é incomensurável. É o fato virando notícia imediatamente após ocorrer, capturado por celulares que estão no local e despejados crus e sem retoques nas telinhas dos smartphones de um universo cada vez maior. É a informação sem photoshops, sem censura, sem copydesks nem revisores.

Isso é mau? Não necessariamente, se tudo o que veiculasse na net fosse verdade. Mas, há o fenômeno cada vez mais presente das Fake News, uma indústria de veiculação da mentira e da desinformação que, se ligada a interesses políticos, econômicos ou simplesmente sensacionalistas, pode provocar danos consideráveis ou reações imprevisíveis.

Outro aspecto que poderia ser um dos atributos de formosura da bela é o livre território no qual qualquer opinião e qualquer mensagem podem ser lançadas no ar, sem restrições nem entraves. Isto acabou por provar-se um desagregador, em vez de um traço de união. Discussões virulentas, venenos destilados sem dó nem piedade, transformam num campo de batalha verbal o que deveria ser uma troca amena de saudações. Algumas extrapolam os limites do virtual e desaguam nas ruas e nos estádios.

Essa imensa caixa de ressonância acaba por afetar o mundo dos adolescentes. Bullyings, invejas, insegurança, inconformismos e necessidade de afirmação, coisas que nós todos experimentamos nessa idade cruel, ganham dimensões brutais quando jogadas na espiral de divulgação alargada das redes. O impacto numa mente jovem e cheia de dúvidas e angústias pode ser fatal. Aí está o fenômeno tenebroso da baleia azul.

Um mundo novo e que se renova a velocidades quase incompreensíveis. Mais uma vez, o ser humano terá que se adaptar para sobreviver.

Oswaldo Pereira

Maio 2017   

8 comentários:

  1. Velocidades quase incompreensiveis. Como em Freud essa frase é o umbigo do sonho do seu texto. Compreensíveis ou não ficam na mesma categoria. O "quase", é q muda tudo.Me fez enxergar o mundo tal como é. Controle descontrolado.ou vice versa. Festa permanente, e, ou. Solidão brutal.

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    1. Num assomo de hubris, eu ainda coloquei um "quase", como se pudesse eu entender, pouco que fosse, do mundo atual. Qual o que...

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  2. Tudo é dificil para eu entender! Vou continuar a ler jornais ( se houver...) ouvir rádio e ver televisão , tudo baralhado e descontrolado ´mas é isso que eu vou ter de fazer!É o« senão» da« bela »que citas ! No Outono da minha vida...já não estou muito «antenada»...

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    1. Nossa geração é a última que ainda vai pelo "tradicional"... Estamos indo embora e aí tudo dependerá da "nuvem" cibernética.

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  3. Continuo lendo diariamente o jornal. É fantástica a velocidade das noticias pela internet. Mas também milhares podem dar notícias que muitas vezes não são corretas.
    O jornal tem responsáveis que fazem as críticas aos assuntos se corretos ou não. Claro que é impossível vivermos nos dias de hoje e no amanhã sem a velocidade que temos com o uso da internet.Hoje está a fala do MORO pedindo que o povo não vá para Curitiba no dia 10, mas é ele quem fala e isso é fantástico. " Não há BELA sem SENÕES . Perfeito .

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    1. Eu também ainda gosto de uma manhã com um jornal aberto à frente... Mas, se não posso acessar a Net, sinto que falta algo...

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  4. Jose Antonio S. Bordeira8 de maio de 2017 às 18:27

    Andei sumido. Mas suas “redes sociais” me encontraram. Esse dilema atual, que no final do seu post, tomou seu lugar no quadro: “... o ser humano terá que se adaptar para sobreviver.” Mas as preocupações com o tema vão tomando corpo. Você, de Lisboa, apresenta-nos a “bela e seu senão” e, na edição de hoje do jornal Estado de S.Paulo (pág. A2), o jornalista Carlos Alberto di Franco publica o artigo “Valor da informação”. Velocidades vertiginosas, profusão de notícias, textos superficiais e o anseio de se postar com rapidez. Tudo comprometendo a boa comunicação e os bons fundamentos do jornalismo: fontes confiáveis, busca em base de dados, pesquisa em documentação e algum nível de investigação. Preocupações pertinentes e correlatas. Bela coincidência! Abraços. Zeca

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    1. Estamos (não exatamente nós, os sobreviventes da geração nascida na metade do século XX) mas a humanidade, mais velozes mas mais superficiais. É um "trade-off". Vale a pena?

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