Os portugueses são ótimos em ditados. Cheguei até a escrever um post há muito tempo, intitulado de “Anexins”, para descrever essa peculiaridade lusa e mostrar alguns exemplos.
Hoje, ponderando sobre
as maravilhas do nosso tempo, lembrei-me de um. Não há bela sem senão. E, nestas minhas graves ponderações, a “bela”
é a grande revolução social do século XXI – as redes sociais.
Facebook, Twitter, Snapchat, Linkedin, Pinterest,
WhatsApp.... Quem,
querendo estar presente, visto e ouvido, enfim, “antenado”, pode dar-se ao luxo
de prescindir destes nomezinhos, esconder-se no silêncio e no ostracismo de um
mundo desvirtual? Que profissional de
qualquer área permite-se hoje desvincular-se destes canais universais de
contato? Que adolescente arrisca-se a se isolar do intenso e contínuo tráfico
de mensagens de sua “turma”?
As vantagens, para quem
precisa, ou sente urgência interior, de comunicar-se, são extraordinárias. Uma
comunidade de amigos ao alcance de um clique, a qualquer hora. A multiplicação
exponencial de uma teia de conhecidos, disponíveis a um pedido de amizade. Lembretes
que nunca mais nos deixarão esquecer de um aniversário. Mensagens prontas para
qualquer ocasião, de funerais a bar mitzvahs,
emoticons que substituem frases
inteiras (com vantagens, em muitos casos...). Curtir & compartilhar
tornaram-se os verbos do momento. Tudo fácil, rápido, dinâmico. O planeta aos
pés.
A “bela”. E o “senão”?
As estatísticas estão
aí. Atualmente, quase 50% da população adulta do mundo civilizado baseiam mais
e mais sua percepção das notícias no que lhes chega pelas redes sociais. E esse
número aumenta rapidamente. Segundo as previsões mais conservadoras, em cinco
anos os jornais e as televisões deixarão de ser o meio informativo por excelência.
Cientes disto, muitos
jornalistas já estão abandonando a mídia tradicional
e abrindo seus canais informativos nas redes. Sabem que o poder de divulgação
de um viral, que pode atingir milhões
de pessoas em minutos, é incomensurável. É o fato virando notícia imediatamente
após ocorrer, capturado por celulares que estão no local e despejados crus e
sem retoques nas telinhas dos smartphones
de um universo cada vez maior. É a informação sem photoshops, sem censura, sem copydesks
nem revisores.
Isso é mau? Não
necessariamente, se tudo o que veiculasse na net fosse verdade. Mas, há o fenômeno cada vez mais presente das Fake News, uma indústria de veiculação
da mentira e da desinformação que, se ligada a interesses políticos, econômicos
ou simplesmente sensacionalistas, pode provocar danos consideráveis ou reações
imprevisíveis.
Outro aspecto
que poderia ser um dos atributos de formosura da bela é o livre território no qual qualquer opinião e qualquer
mensagem podem ser lançadas no ar, sem restrições nem entraves. Isto acabou por
provar-se um desagregador, em vez de um traço de união. Discussões virulentas,
venenos destilados sem dó nem piedade, transformam num campo de batalha verbal o
que deveria ser uma troca amena de saudações. Algumas extrapolam os limites do
virtual e desaguam nas ruas e nos estádios.
Essa imensa caixa de
ressonância acaba por afetar o mundo dos adolescentes. Bullyings, invejas, insegurança, inconformismos e necessidade de
afirmação, coisas que nós todos experimentamos nessa idade cruel, ganham dimensões
brutais quando jogadas na espiral de divulgação alargada das redes. O impacto
numa mente jovem e cheia de dúvidas e angústias pode ser fatal. Aí está o
fenômeno tenebroso da baleia azul.
Um mundo novo e que se
renova a velocidades quase incompreensíveis. Mais uma vez, o ser humano terá
que se adaptar para sobreviver.
Oswaldo Pereira
Maio 2017
Velocidades quase incompreensiveis. Como em Freud essa frase é o umbigo do sonho do seu texto. Compreensíveis ou não ficam na mesma categoria. O "quase", é q muda tudo.Me fez enxergar o mundo tal como é. Controle descontrolado.ou vice versa. Festa permanente, e, ou. Solidão brutal.
ResponderExcluirNum assomo de hubris, eu ainda coloquei um "quase", como se pudesse eu entender, pouco que fosse, do mundo atual. Qual o que...
ExcluirTudo é dificil para eu entender! Vou continuar a ler jornais ( se houver...) ouvir rádio e ver televisão , tudo baralhado e descontrolado ´mas é isso que eu vou ter de fazer!É o« senão» da« bela »que citas ! No Outono da minha vida...já não estou muito «antenada»...
ResponderExcluirNossa geração é a última que ainda vai pelo "tradicional"... Estamos indo embora e aí tudo dependerá da "nuvem" cibernética.
ExcluirContinuo lendo diariamente o jornal. É fantástica a velocidade das noticias pela internet. Mas também milhares podem dar notícias que muitas vezes não são corretas.
ResponderExcluirO jornal tem responsáveis que fazem as críticas aos assuntos se corretos ou não. Claro que é impossível vivermos nos dias de hoje e no amanhã sem a velocidade que temos com o uso da internet.Hoje está a fala do MORO pedindo que o povo não vá para Curitiba no dia 10, mas é ele quem fala e isso é fantástico. " Não há BELA sem SENÕES . Perfeito .
Eu também ainda gosto de uma manhã com um jornal aberto à frente... Mas, se não posso acessar a Net, sinto que falta algo...
ExcluirAndei sumido. Mas suas “redes sociais” me encontraram. Esse dilema atual, que no final do seu post, tomou seu lugar no quadro: “... o ser humano terá que se adaptar para sobreviver.” Mas as preocupações com o tema vão tomando corpo. Você, de Lisboa, apresenta-nos a “bela e seu senão” e, na edição de hoje do jornal Estado de S.Paulo (pág. A2), o jornalista Carlos Alberto di Franco publica o artigo “Valor da informação”. Velocidades vertiginosas, profusão de notícias, textos superficiais e o anseio de se postar com rapidez. Tudo comprometendo a boa comunicação e os bons fundamentos do jornalismo: fontes confiáveis, busca em base de dados, pesquisa em documentação e algum nível de investigação. Preocupações pertinentes e correlatas. Bela coincidência! Abraços. Zeca
ResponderExcluirEstamos (não exatamente nós, os sobreviventes da geração nascida na metade do século XX) mas a humanidade, mais velozes mas mais superficiais. É um "trade-off". Vale a pena?
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