Em 2012, a produtora
espanhola Diagonal TV lançou a primeira temporada da série Isabel. Havia esperado um ano para fazê-lo, pois enfrentara
problemas financeiros enquanto aguardava que a TVE (a estatal televisiva do país)
decidisse distribuí-la. Nesse meio tempo, aproveitou para retificar a sua linha
conceitual, transformando o que seria apenas um romance de época numa epopeia
medieval de alta qualidade. A compensação veio com o seu enorme sucesso, que
propiciou a montagem de mais duas temporadas.
O êxito é mais do que
merecido. Tive a oportunidade de assistir aos primeiros 13 capítulos
recentemente e encantei-me, principalmente, com dois dos atributos mais
reconhecidos da série. Sua refinada ambientação e sua impecável acuidade
histórica. Javier Olivares, um madrileno formado em História e com um master em Estética, e que foi o
responsável pela mudança de rumo do trabalho enquanto se aguardava seu
lançamento pela TVE, informaria depois que pelo menos 12 diálogos por capítulo eram
baseados em relatos e crônicas da época.
A ação começa em 1461,
ano que marca o início das lutas internas ligadas à sucessão do Rei Henrique IV
de Castela. Na disputa estão dois de seus irmãos, Alfonso e Isabel, e sua filha
Juana. Espanha é um conceito que
ainda não existe e a região divide-se em reinos que vivem numa dança frenética
de confrontos, alianças e traições. Para complicar, ao sul ainda estão os
mouros do reino de Granada, uma espinha na garganta da Cristandade e, ao norte,
uma França interessadíssima em tirar partido da situação. Num dos momentos mais
influentes de sua existência, a Igreja Católica detém um poderoso comando sobre
uma Europa assombrada pela Peste e pela Inquisição.
A quem está habituado
ao tenebroso espetáculo político que preenche os nossos dias, tudo soa familiar.
Para abocanhar o trono, vale tudo, literalmente. Nobres, cortesãos, cardeais, papas,
príncipes e reis vendem-se e compram-se. Todos têm um preço. E todos têm um
objetivo. O Poder.
Para não adiantar
nenhum spoiler, a não ser o
histórico, a primeira temporada termina com Isabel, já casada com Fernando II
de Aragão, herdando o trono de Castela. Não sei o que a série vai apresentar a
partir daí mas, se seguir os livros, deverá mostrar um dos mais fantásticos
períodos do país ibérico. O casal, entronizado nos registros como Los Reyes Católicos, uniu os espanhóis,
expulsou os árabes da península, patrocinou o sonho de Colombo e dividiu o
mundo conhecido com os portugueses. Um mundo que, exatamente neste instante,
deixava a Idade Média e entrava na Idade Moderna.
Resumindo, uma ótima
série sobre um momento único.
Oswaldo
Pereira
Maio
2017