Há dias, ouvi um texto lido pela Maria Bethânia sobre a corrupção, o descaso e a incúria criminosa com que os
políticos lidam com a coisa pública. Era um desabafo aberto ao vento, de uma atualidade
eterna, despejado por um homem que se via espoliado, enganado, vilipendiado,
ultrajado, e que se sentia impotente para reverter sua condição de vítima e
joguete nas mãos do poder. O autor? Fernando Pessoa. O ano? 1917. Há cem
anos...
Há mais tempo, li “Scandalmonger”, do
conceituado jornalista e escritor americano William Safire, em que ele, apoiado
em farta documentação da época, denuncia um rosário de falcatruas,
favorecimentos e deslizes dos Founding
Fathers, os excelsos fundadores dos Estados Unidos. Para que se situem bem,
estamos falando de gente do calibre de Thomas Jefferson, Alexander Hamilton e
George Washington.
Nesta semana, Park Geun-hie, presidente
da Coreia do Sul, foi impichada, por
alegado conluio que enriqueceu sua melhor amiga. Em Portugal, o ex-Primeiro Ministro
José Sócrates ainda tem muito de explicar à justiça e na Itália, em passado
recente, a Operação Mani Pulite (Mãos
Limpas) levou um sem número de parlamentares aos tribunais. Eu poderia escrever
mais uns dez parágrafos iguais a este com exemplos sobre a corrupção política só
neste nosso incipiente século.
O que todos estes casos têm em comum?
Todos os implicados acima viviam em países democráticos e haviam sido eleitos
pelo povo.
O que é, então? Serão os eleitores uns
cegos? Inocentes desvairados que jogam seus votos nas urnas como se fossem lixo
descartável? Cidadãos inconsequentes que desconhecem os conceitos mínimos de
cidadania? Ignorantes funcionais que não conseguem estabelecer uma basilar
relação de causa e efeito entre o critério, ou a falta dele, da sua escolha e o
seu futuro e o de seus filhos?
E aqui... Ah! Pindorama infeliz... Aqui,
esta maldição chegou ao paroxismo superlativo, à perfeição imperfeita de termos
o nosso organismo político totalmente apodrecido, mergulhado num mar fétido de
propinodutos, jabaculês, pixulecos, esquemas, agrados, molha-mãos, e outros
produtos paridos pela ganância, de um lado, pelo conformismo caprino de uma
população anestesiada, de outro.
Como reverter? Alguns falam em recomeçar
do zero. Mas, só se for para mudarmos nossa alma, refinarmos nossas
preferências, passarmos a encarar o exercício da cidadania como um lavor
constante, diário, sem desfalecimentos ou acomodações. Escolher com atenção,
vigiar com rigor, cobrar com persistência.
Se assim não for, o que adianta?...
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2016
Sinto-me como você ou seja perdida e desesperançada. Enquanto o ser humano que abraça a política e somente visa a manutenção no poder e o enriquecimento ilícito não vejo saída.
ResponderExcluirPark Geun-hie foi rapidamente retirada do poder e presa; já aqui só vemos presos a turma das empreiteiras para em seguida verem suas penas diminuidinhas pelas delações. Nossos 3 poderes estão entrelaçados e se apoiando uns nos outros. Já dizia Stanislau: restaure-se a moralidade ou locupletemos todos.bjs Zezé
Desalentador. E a tudo isto assistimos fazendo passeatas, vestindo a camisa amarela, postando diatribes no facebook. Enquanto isso, "eles" continuam em seus castelos cercados de impunidade por todos os lados. Que idiotas somos!
ExcluirO preço da liberdade! Com predadores não se brinca. Ou o Brasil acaba com a saúva ou ... se a humanidade não der conta de acabar com o poder do capital nas mãos de perversos, isso vai acabar com o planeta dos humanos
ResponderExcluirQue saudades da saúva...
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Oswaldo
ResponderExcluirA solução simplista e imediata é dar um aperto maior aos desmandos,fazer mais efetiva e rápidas as investigações, e ao se comprovar os desvios coloca-los-para fora de suas atividades sem muita delonga judicial. Pode ser que assim paguem os justos e pecadores, mas ser politico terá este risco assumido ao se candidatar.
Emilio Telleria
Concordo plenamente!
ExcluirConcordo plenamente!
ExcluirJá quanto ás nossas escolhas, independentemente das nossas opiniões e ideais, e apenas para cumprir o dever de participar, tenta-se escolher o que julgamos ser "do pior, o melhor"!
ResponderExcluirÉ uma escolha pobre, cujos efeitos são a situação de mediocridade administrativa que temos nos Governos atuais.
ExcluirÉ uma escolha pobre, cujos efeitos são a situação de mediocridade administrativa que temos nos Governos atuais.
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