quarta-feira, 23 de novembro de 2016

WESTWORLD



O filme “Westworld” foi realizado em 1973. Custou 1,2 milhão de dólares e já rendeu acima de 11 milhões, ao longo de mais de quatro décadas. Com um roteiro escrito por Michael Crichton (já então um escritor de sucesso, cujo best seller “O Enigma de Andrômeda” fora lançado dois anos antes) e dirigido pelo próprio autor, virou cult.  Na época de seu lançamento, a ideia de um parque de diversões, em que androides construídos como perfeitas réplicas dos humanos seriam anfitriões prontos a satisfazer qualquer desejo, foi uma bela “sacada”. O mundo despertava para a cibernética user friendly, isto é, a desmistificação do uso do computador, antes privilégio de analistas e programadores, e sua transformação em ferramenta do dia-a-dia. Influenciado, segundo ele próprio, pelas possibilidades que se abriam e por uma visita à Disneyworld, em que se deslumbrou com os animatronics do “Piratas do Caribe”, Crichton criou a sua ficção.

O filme acabou sendo pioneiro na utilização, ainda que em forma primitiva, da computação gráfica e foi a primeira vez que se usou a expressão virus para descrever a “doença” que atacava os computadores internos dos robôs.  Some-se a isto a icônica interpretação de Yul Brynner como Gunslinger (o Pistoleiro), e a película encontrou seu lugar na História.


Quarenta e três anos depois, a HBO resolveu beber na mesma fonte e recriar Westworld, agora como uma requintada série de TV. Segundo o famoso canal, a produção está destinada a ocupar o lugar do seu mais bem-sucedido seriado, o extraordinário Game of Thrones, que se encaminha para as últimas temporadas. Como já foram ao ar oito dos dez episódios da primeira parte de Westworld, dá para ensaiar uma crítica inicial.

Em primeiro lugar, fica um pouco difícil compará-la com o filme de 1973.  Embora a trama central repouse na concepção imaginada por Crichton, a dimensão das duas realizações estabelece dois patamares distintos. O filme teve a duração de 88 minutos. A série terá dez capítulos de uma hora por temporada, o que facilmente poderá significar mais de sessenta horas de exibição. No cinema, Delos (o nome do Parque) oferecia três mundos aos seus clientes. Roma, Idade Média e o Velho Oeste. Na TV, só existe o ambiente western, embora nada impeça que outras variações, ou narrativas, para usar o jargão do atual roteiro, venham a ser criadas. Há também uma versão (não confirmada) de ligação entre os dois parques, segundo a qual o presente Westworld seria uma reconstrução do antigo Delos, destruído, como o filme mostra, por uma rebelião dos androides.  Nessa mesma vertente hipotética, o personagem vivido agora por Ed Harris (o Homem de Preto) seria nada mais nada menos que o antigo Gunslinger de Yul Brynner.

Mas, se formos comparar Westworld com Game of Thrones, aí a coisa complica. Apesar de ambas contarem com duplas de talentosos roteiristas (Lisa Joy e Jonathan Nolan pela primeira. Davis Benioff e D. B. Weiss pela segunda), a fonte literária na qual uma e de outra buscaram seus argumentos difere diametralmente. Guerra dos Tronos tem como âncora conceitual a alentada obra A Song of Ice and Fire, cinco volumosos tomos escritos por um verdadeiro gênio, o americano George R. R. Martin. A única referência de Westworld é o roteiro criado por Michael Crichton há quarenta e três anos. O que implica na ausência de uma linha mestra de longa duração na administração criativa do tema.

A série é boa, não me levem a mal. É esmerada e elegante, move-se num ritmo condizente com a trama intrincada, tem uma trilha sonora instigante. A fotografia é primorosa. E conta com um elenco de primeiríssima qualidade. Além de Ed Harris, lá estão Evan Rachel Wood, Thandie Newton, até o nosso Rodrigo Santoro. Pairando acima de todos, o mago Anthony Hopkins.

Mas, daí a ser a sucessora do mundo mágico de Westeros, da saga insuperável dos Starks, Lannisters, Targaryans, Baratheons e outros, não sei não...

Oswaldo Pereira
Novembro 2016





4 comentários:

  1. Só vi o primeiro! E gostei menos do que esperava.
    Boa a comparação com GoT. Não sabia que era aficionado!
    Viu meus posts sobre o assunto?

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    1. Sim, li. Eu também escrevi uns três posts sobre GoT. Sou fã de carteirinha. Já li os livros do Martin e fui a Dobrovnik, a Sevilha e à Irlanda para ver os locais das filmagens. Bota aficcionado nisto...

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