segunda-feira, 18 de abril de 2016

PRIMEIRO ROUND



Término do primeiro, de um combate em três rounds. Vitória parcial da Oposição, com um belíssimo cruzado de direita (sem conotações, por favor) no queixo do adversário. 

Agora começa uma agonia que pode levar sete meses. Poderia levar menos, se Dilma renunciasse. Mas este não é o seu perfil. Seus poucos apoiadores a chamam de “guerreira”. Eu concordo, mas o que o Brasil menos precisa, hoje, é de guerreiras. O país precisa de alguém que acerte seu caminho, que o tire do atoleiro da falta de credibilidade política, da inércia econômica, do descalabro financeiro. Que corrija os erros e os desmandos de uma administração incompetente, equivocada, que, por pura estupidez arrogante destruiu a ampla base partidária que possuía no início de seu primeiro mandato. Que não soube ler, em seu analfabetismo funcional, as tendências dos mercados internacionais, o aprofundamento da crise fiscal, a pressão inflacionária, a realidade do país.

O mantra do não vai ter golpe foi mais um dos equívocos. Ninguém em sã consciência pode querer convencer a população brasileira de que o Supremo Tribunal Federal, cujos membros foram todos indicados por Lula ou Dilma, aceitou o rito do impeachment por que é golpista. Que dois terços da Câmara de Deputados estejam mancomunados com um Golpe. Ou que milhões foram às ruas com o intuito de promovê-lo. Perderam tempo e substância tentando vender esta ideia.

Mais uma vez, eu digo. O processo de impeachment é uma infecção oportunista. Entra por uma pequena ferida, um mero arranhão na pele de um Governo, causados por pedaladas aqui e ali, verbas extras acolá, arrepios quase inconsequentes, mas que ferem a lei. Desde o alvorecer da República, vários Governos provocaram estes cortes na própria pele, alguns até consideráveis lanhos em sua epiderme. Quase todos, entretanto, contavam com a vitamina C de sua popularidade, os anticorpos de sua base partidária, a penicilina de seus acertos administrativos. Collor não teve isto. E padeceu da febre que matou seu mandato. A baixíssima imunidade de Dilma, sem apoio popular e político, permitiu à infecção se generalizar. A culpa dessa situação cabe a ela própria. À sua burrice teimosa, ao seu autoritarismo surdo, à sua inépcia administrativa, ao seu discurso com frequentes erros de raciocínio e de vernáculo. Até a pequenos detalhes, como impor à Imprensa Nacional e a seus assessores a asneira gramatical de chamá-la de Presidenta.  Se tivesse um mínimo de autocrítica, renunciaria. Seria o melhor para nós todos e até para ela. Mas, como disse no início, esse não é o seu perfil...

Fiz questão de assistir à votação do Congresso na íntegra. Queria observar as vísceras políticas da Nação. Todos os deputados federais teriam de mostrar sua cara. Era, pois, uma oportunidade imperdível de conhecer quem nos representa.
Em primeiro lugar, um ponto para a solidez das instituições. Noves fora pequenos tumultos no início, a votação foi limpa, livre e de viva voz. Aliás, ponto também para os manifestantes de parte a parte, espalhados pelo Brasil, e sua demonstração ímpar de civismo, tolerância e paz.

Agora, foi espantoso notar que noventa e nove, vírgula nove por cento dos deputados descumpriram a postura regimental de apenas declarar seu voto. Antes, a quase totalidade dos líderes, em seus discursos no pódio, havia também desrespeitado a praxe de não permitirem mais de um orador e coibirem o uso de cartazes e faixas. É assim que vão respeitar outras regras? Posso até entender que um político carregue em seu DNA a volúpia dos holofotes, que uma plateia garantida de dezenas de milhões de espectadores seja um irresistível apelo à palavra, mas alguns, muitos, extrapolaram. E ainda se deram ao luxo de lançar olhares abespinhados a quem, mui justamente, solicitava atendimento ao preceituado, como a dizer transgrido mesmo, e daí?

Outra evidência foi de que, além do Tiririca (que, aliás, portou-se rigorosamente dentro do regulamento), existem vários outros palhaços na Assembleia. Teve um que até espocou um rojão de confetes ao microfone. Meu Deus, quem elege estes caras? Como estes ridículos clowns chegaram até o Congresso? Será pela magia daninha do voto por legenda?

Bem, de qualquer modo, os dados estão lançados. Será que temos alguma coisa a temer?...

Oswaldo Pereira
Abril 2016
  


18 comentários:

  1. Quociente eleitoral, Quociente partidário e voto em legenda...
    affff

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  2. Perfeita explicação da situação (constrangedora) atual. Parabéns !
    Fico aqui torcendo de longe, sempre na esperança de ver as nossas cores continuarem verde e amarela.

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  3. Ontem estive até às duas da manhã para assistir ao show histérico dos deputados brasileiros e....... sempre a pensar no que iria no dia seguinte o meu competentíssimo primo Oswaldo escrever. Pronto ! Já vi, como sempre, MUITO BOM !!!
    obrigada graça

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    1. Obrigado, querida prima. Você já aqui morou e tem um carinho especial por esta terra deve estar se perguntando: o que vocês fizeram com o Brasil?

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  4. Caro Osvaldo, você está certo quando diz que a renuncia não faz parte do perfil da PresidentA, infelizmente, e o Brasil ficará praticamente parado, ou quase, até Novembro. É muito tempo e o desemprego e inflação vão aumentar e muito. Grande abraço do Thomaz.

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    1. Que triste sina, amigo Thomaz. A pergunta é: como deixamos as coisas chegarem a este ponto...

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  5. Caro Oswaldo
    Mais uma vez você descreve muito bem o momento crítico que vivemos .
    Afora o ganho político da votação foi triste ouvir as manifestações histrionicas e histéricas.

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  6. Caro Oswaldo
    Mais uma vez você descreve muito bem o momento crítico que vivemos .
    Afora o ganho político da votação foi triste ouvir as manifestações histrionicas e histéricas.

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  7. Estamos sim a temer e a tremer. Aí eu me lembrei de um programa de rádio e dp acho que de tv tambem, o Edifício Balança mas não cai. E assim vai o Brasil. O cordão dos puxa sacos cada vez aumenta mais. Deixo eles pra lá.

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    1. Como dizia o "primo pobre" do inesquecível Balança: a situação está abacadabrante...

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  8. Oswaldo, essa, digamos, matilha que pensa que nos representa no Congresso (e grande parte ali não teve votos, mas ascensão por empurrãozinho e brechas na legislação da Casa) continua sendo, há gerações, amadora, interesseira e desonesta. O perfil de nossa classe política esteve ali, presente e atuante na votação. Se houver mesmo a queda da Dilma, espero que o tal governo de transição nos traga algum alento. Até eu acordar...
    Abraços
    Ana Flores

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    1. Só que, ao acordarmos, o Governo de transição poderá ter acabado... E se ele continuar, será apedrejado pelo PT na oposição, afogado pelos acordos que fez para existir, asfixiado por um sistema político viciado. E a bola será rolada mansamente para Lula fazer o gol em 2018. Afff...

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  9. Olá oswaldo
    o seu comentário sobre a situação politica que estamos vivendo , esta muito bem elaborado ,aliás como todos os seus escritos.
    um grande pais como o Brasil não pode mais ficar a merce de políticos oportunistas . já é hora de todos nos sejamos mais ativos neste processo de acerto necessário para o Brasil.
    Abraços
    Emilio

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  10. Me espanto o fato de que só agora os brasileiros se deram conta da camarilha que nos representa. No fundo, somos nós mesmos os culpados, pelo nosso desinteresse, comodismo e alienação política. Espero que isto melhore. As redes sociais estão ajudando a abrir várias janelas. Tomara que o vento da mudança entre...

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