Quando eu estava no serviço
militar, conheci um oficial paraquedista que passara por uma terrível experiência.
Na época, o Exército procurava aperfeiçoar as táticas de emprego das forças
aerotransportadas, e havia já feito uma experiência de saltos sobre o mar que
não acabara bem. A maioria dos paraquedistas chegara à água com seus
paraquedas e dois deles tinham-se afogado, enredados nas cordas de seu
equipamento. Para o próximo exercício, a ser realizado sobre o mar do Leme e à
noite, a recomendação foi que, a uns três metros antes de chegar à superfície,
os soldados se desvencilhassem do paraquedas e atingissem a água livres de seu
cordame.
Segundo este meu conhecido,
ele e seus companheiros foram lançados dos aviões a uma altura média de 300
metros sobre Copacabana, suficientes para a abertura correta do velame ou
permitir o recurso ao paraquedas reserva, caso o principal apresentasse
defeitos. O resto era descobrir o momento
certo de destravar o ferrolho antes do mergulho. O problema foi exatamente
este. Na escuridão, era difícil precisar onde estava a superfície. Assim que
ele vislumbrou um tênue reflexo nas ondas abaixo, livrou-se do paraquedas. Mas
ele não estava a três metros da água. Estava a trinta. Sobreviveu apenas porque
um dos barcos de resgate estava perto e conseguiu recolhê-lo, desacordado, mas
vivo.
Estou contando esta história
porque, nos meus absortos pensamentos, consegui enxergar uma analogia com a
presente situação. Na minha modesta opinião, o PMDB, a Oposição e as legiões
que defendem o impeachment largaram-se
no espaço cedo demais.
Sob a grave ameaça de
parecer repetitivo, volto a dizer que o processo de impeachment, apesar de requerer uma base legal para respaldar seu
início, é medularmente um processo POLÍTICO. Se assim não fosse, seu mérito
seria definido pelas Cortes, e não pelo Congresso. Se a sua razão para prosperar
fosse a correta medida de sua adequação aos princípios da Lei, seriam juízes, e
não parlamentares, os detentores da decisão final. Seria o júri, e não o plenário.
O argumento, e não o voto.
Desta forma, o sucesso ou a
derrota de uma iniciativa de impedimento de um Presidente depende, mais do que
qualquer outra coisa, da vontade política dos membros de nossas duas casas legislativas.
E será que eu preciso contar
aqui o que inspira um político no nosso atual momento?
São várias as coisas. Mas
uma é fundamental. A Sobrevivência. Qualquer pessoa que escolha enveredar pela
carreira pública e nela se manter sabe perfeitamente que seu nome jamais poderá
se afastar da ribalta das campanhas, dos cargos eletivos, do poder que emana
dos mandatos. Um ostracismo involuntário, o afastamento das convenções partidárias,
o sepultamento de uma candidatura são o anátema, a maldição que assombra todo
político.
E é aí que o Governo vem,
nestes dias que antecedem a fase crucial da novela do impeachment, mostrando todo o seu poder de fogo, como canhões na
murada de um navio que parecia soçobrar. No amplo balcão onde vende
ministérios, diretorias, chefias e que tais, vende também a promessa da
sobrevivência para partidos nanicos, deputados de modesto cacife e legendas de
aluguel. A cada transação fechada, um precioso voto na hora do desfecho. Saindo
cedo demais, o PMDB abriu as vagas para o troca-troca.
Outro importante fator são
as ruas. E o PT parece ter retomado a iniciativa. Só tenho visto bandeiras
vermelhas. A formidável manifestação contra a Dilma foi quase há um mês e sua
lembrança esmaece-se no consciente de um povo que costuma ter memória curta.
Afinal, AGORA é que é a hora. Agora teria de ser o momento das grandes
passeatas, das vibrantes convocações, das eloquentes palavras de ordem, de uma
ação retumbante da Oposição, dos grandes discursos dos líderes do PSDB, do PMDB
e seus aliados. Onde estão os caras
pintadas de hoje? Será que pularam cedo demais?
Oswaldo Pereira
Abril 2016
Parece que saltar no escuro é tudo que a nossa espécie vem fazendo há alguns milênios. Talvez isso tenha sido a causa de grandes êxitos e tb de grandes desastres.
ResponderExcluirSe pudéssemos ver o Futuro, a vida perderia a graça...
ExcluirSe pudéssemos ver o Futuro, a vida perderia a graça...
ExcluirO futuro não existe, pq quando chega, já é o presente e quando se vai, fica sendo o passado.
ExcluirO futuro não existe, pq quando chega, já é o presente e quando se vai, fica sendo o passado.
ExcluirE o presente é só um nano-átimo de segundo, antes de virar passado. Nossa vida é um imenso estoque de ontens.
ExcluirO tempo é contínuo. Isso é bom né ?
ResponderExcluirSe não fosse, já pensou a confusão?...
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