Término do primeiro, de
um combate em três rounds. Vitória parcial da Oposição, com um belíssimo
cruzado de direita (sem conotações, por favor) no queixo do adversário.
Agora começa uma agonia
que pode levar sete meses. Poderia levar menos, se Dilma renunciasse. Mas este
não é o seu perfil. Seus poucos apoiadores a chamam de “guerreira”. Eu
concordo, mas o que o Brasil menos precisa, hoje, é de guerreiras. O país
precisa de alguém que acerte seu caminho, que o tire do atoleiro da falta de
credibilidade política, da inércia econômica, do descalabro financeiro. Que
corrija os erros e os desmandos de uma administração incompetente, equivocada,
que, por pura estupidez arrogante destruiu a ampla base partidária que possuía
no início de seu primeiro mandato. Que não soube ler, em seu analfabetismo
funcional, as tendências dos mercados internacionais, o aprofundamento da crise
fiscal, a pressão inflacionária, a realidade do país.
O mantra do não vai ter golpe foi mais um dos
equívocos. Ninguém em sã consciência pode querer convencer a população
brasileira de que o Supremo Tribunal Federal, cujos membros foram todos
indicados por Lula ou Dilma, aceitou o rito do impeachment por que é golpista.
Que dois terços da Câmara de Deputados estejam mancomunados com um Golpe. Ou
que milhões foram às ruas com o intuito de promovê-lo. Perderam tempo e
substância tentando vender esta ideia.
Mais uma vez, eu digo.
O processo de impeachment é uma infecção
oportunista. Entra por uma pequena ferida, um mero arranhão na pele de um
Governo, causados por pedaladas aqui
e ali, verbas extras acolá, arrepios quase inconsequentes, mas que ferem a lei.
Desde o alvorecer da República, vários Governos provocaram estes cortes na própria
pele, alguns até consideráveis lanhos em
sua epiderme. Quase todos, entretanto, contavam com a vitamina C de sua
popularidade, os anticorpos de sua base partidária, a penicilina de seus
acertos administrativos. Collor não teve isto. E padeceu da febre que matou seu
mandato. A baixíssima imunidade de Dilma, sem apoio popular e político,
permitiu à infecção se generalizar. A culpa dessa situação cabe a ela própria.
À sua burrice teimosa, ao seu autoritarismo surdo, à sua inépcia administrativa,
ao seu discurso com frequentes erros de raciocínio e de vernáculo. Até a
pequenos detalhes, como impor à Imprensa Nacional e a seus assessores a asneira
gramatical de chamá-la de Presidenta. Se tivesse um mínimo de autocrítica,
renunciaria. Seria o melhor para nós todos e até para ela. Mas, como disse no
início, esse não é o seu perfil...
Fiz questão de assistir
à votação do Congresso na íntegra. Queria observar as vísceras políticas da
Nação. Todos os deputados federais teriam de mostrar sua cara. Era, pois, uma
oportunidade imperdível de conhecer quem nos representa.
Em primeiro lugar, um
ponto para a solidez das instituições. Noves fora pequenos tumultos no início,
a votação foi limpa, livre e de viva voz. Aliás, ponto também para os
manifestantes de parte a parte, espalhados pelo Brasil, e sua
demonstração ímpar de civismo, tolerância e paz.
Agora, foi espantoso
notar que noventa e nove, vírgula nove por cento dos deputados descumpriram a
postura regimental de apenas declarar seu voto. Antes, a quase totalidade dos
líderes, em seus discursos no pódio, havia também desrespeitado a praxe de não
permitirem mais de um orador e coibirem o uso de cartazes e faixas. É assim que
vão respeitar outras regras? Posso até entender que um político carregue em seu
DNA a volúpia dos holofotes, que uma plateia garantida de dezenas de milhões de
espectadores seja um irresistível apelo à palavra, mas alguns, muitos,
extrapolaram. E ainda se deram ao luxo de lançar olhares abespinhados a quem,
mui justamente, solicitava atendimento ao preceituado, como a dizer transgrido mesmo, e daí?
Outra evidência foi de
que, além do Tiririca (que, aliás, portou-se rigorosamente dentro do
regulamento), existem vários outros palhaços na Assembleia. Teve um que até
espocou um rojão de confetes ao microfone. Meu Deus, quem elege estes caras?
Como estes ridículos clowns chegaram
até o Congresso? Será pela magia daninha do voto por legenda?
Bem, de qualquer modo,
os dados estão lançados. Será que temos alguma coisa a temer?...
Oswaldo Pereira
Abril 2016