Mais
uma praxe da democracia americana. No início de cada ano, o
Presidente faz o seu discurso sobre o Estado da União (State of
the Union Address). É uma
prestação de contas ao país, na qual o Chefe do Executivo procura
descrever a atuação do Governo, o resultado de suas ações,
políticas e administrativas, e o seu efeito sobre a situação e o
bem-estar do povo.
A
cerimônia tem lugar no Congresso, com a presença de deputados,
senadores, os juízes do Supremo, os Chefes do Estado-Maior das
Forças Armadas, e mais convidados a critério do Presidente, que vão
desde CEO's de grandes corporações, dirigentes de órgãos de
classe e desportistas com destaque até cidadãos comuns, inclusive,
como assim desejou Obama, pessoas que se manifestaram abertamente
contra as suas decisões.
Transmitido
por extensa rede televisiva, o discurso costuma ser campeão de
audiência, com as famílias americanas atentas em suas salas de
estar às palavras do Presidente. E, no dia 12, como ainda estava nos
Estados Unidos, participei desta contrita audiência.
Foi
o último State of the Union Address de Barack Obama. E ele
resolveu falar para a História. Embora tenha usado a parte inicial
de sua oração de quase uma hora para ressaltar as conquistas
recentes, como a retomada do crescimento econômico, a criação de
14,1 milhões de empregos em 2015, o fortalecimento de seus programas
sociais, como o Obamacare e as vantagens de sua política
externa de uso da diplomacia em vez da força, seu foco principal foi
o Futuro. O que queremos ser no futuro, como Nação
e como povo? Como fazer uma sociedade mais justa e
igualitária? Foram suas perguntas. As respostas que deu
baseiam-se no mesmo credo que vem pregando desde sua posse. Controle
maior do Big Business, incentivo maior ao pequeno e médio
empresário, maior integração social e racial, maior investimento
em tecnologia, principalmente aquelas que poderão proteger melhor o
meio ambiente, mais apoio ao indivíduo na sua adaptação a um novo
e mutante mercado de trabalho.
No
ponto mais divergente entre ele e os Republicanos, a ameaça do
terrorismo e as políticas de imigração, Obama sutilmente criticou
aqueles que semeavam o pânico e envenenavam a opinião pública
contra o mundo islâmico. “O terrorismo não representa uma
ameaça à integridade da Nação”, disse, para concluir que o
inimigo viceja em garagens, porões, na maioria jovens vivendo dentro
do território nacional, doutrinados e convertidos através da
Internet. É preciso combatê-los, sim, mas não às expensas do
relacionamento internacional com as nações muçulmanas, o
fechamento de fronteiras ou o envio de tropas. Quanto às críticas
de que o país havia enfraquecido durante sua Administração, Obama
falou, textualmente: Os Estados Unidos são a nação mais
poderosa do mundo. E ponto final.
Foi
a única vez que os chefes militares se levantaram para bater palmas.
Embora o discurso tenha provocado frequentes e calorosos aplausos da
maioria dos presentes, os Republicanos na plateia se manifestaram com
parcimônia. Coisas de um ano eleitoral. Mas, as pesquisas de
opinião, publicadas logo após a cerimônia, deram um percentual de
aprovação acima de 60%. Foi o melhor índice de Obama neste segundo
mandato. Uma indicação de que, embora manietado por um Congresso
hostil durante grande parte destes sete anos, Barack Obama conseguiu
avanços que o farão ser lembrado no Futuro que ele tanto procurou
visualizar em seu derradeiro State of the Union.
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En
passant. Assisti há dias a uma
entrevista do Donald Trump no canal Fox. Aos que acham que ele não
passa de um bufão e que suas chances eleitorais são quase nulas,
atenção! O cara é extremamente articulado, defende suas posições
com os pés no chão e com a cabeça bem
firme em cima dos ombros. É perigoso porque não tem nada a perder e
diz o que muito americano da Middle America gosta
de ouvir. Não estou fazendo qualquer comparação de fundo
ideológico, mas ainda em 1933 tinha muita gente na Alemanha que
classificava
um certo político extremado da Baviera como
um bufão
e sem a menor hipótese de chegar ao poder.
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2016
Perfeita análise!! Já estava com vontade de assistir, agora então!!
ResponderExcluirBom passo para confirmar um das previsões de Pai Homerix!
Notou Michelle? Segundo Renata ela estava sentadaao lado de um cientista refugiado sírio, que foi descoberto pelo Humans of New York, conhece? Precisa!!!
Rafaai Hamo é o nome dele. Uma história incrível, mesmo. Muitos pontos para Michelle (aliás, linda naquele vestido amarelo...)
ExcluirOlá Oswaldo
ExcluirNão tive a oportunidade de ver e ouvir o discurso deste estadista na TV mas que pelo que sei , sem duvida alguma deu conta do recado em sua difícil administração, pesar de tantas opiniões em contrario.
Sera lembrado sim e vamos torcer de que o próximo não entorne o caldo da pre-potencia.
Lindo artigo e mais uma vez parabens,
Emilio
Obrigado Almirante. O Obama já está na História, como primeiro negro a ser Presidente dos EUA. Mas, não só por isto. Vai deixar como legado o Obamacare, a sensatez diplomática, a recuperação econômica depois da crise de 2008. E pelo seu jeito tranquilo de ser.
ExcluirObrigado Almirante. O Obama já está na História, como primeiro negro a ser Presidente dos EUA. Mas, não só por isto. Vai deixar como legado o Obamacare, a sensatez diplomática, a recuperação econômica depois da crise de 2008. E pelo seu jeito tranquilo de ser.
ExcluirAssisti também daqui e, como a tua análise esgotou o assunto, o que deixou a turma sem contestação foi o futuro americano desligado das contingências eleitorais em que o Trump pudesse usar para os sofismas eleitoreiros. Para mim Obama calou qualquer tergiversação. Agora seu Trump, só matando, mas num país armado com esse ele está armando sua própria tramp. Tem cara de quem vai sair algemado.
ResponderExcluirSaiu antes da revisão. Só acrescentando: ou os americanos seguem a doutrina Obama, que nada senão a percepção do mundo de hoje de pluripotências dentre as quais a maior é a americana, de longe, não podendo mais serem os sherffes do mundo, ou vamos para um buraco que ninguém sabe onde é o fundo.
ResponderExcluirCaríssimo Lustosa, como só estive na California, não pude sentir a "middle America". Mas, o avanço de Sanders, adversário de Hillary nas primárias, indica que os Democratas receiam escolher uma mulher para concorrer, caso Trump seja nomeado pelos Republicanos.
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