quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O ESTADO DA NAÇÃO





Mais uma praxe da democracia americana. No início de cada ano, o Presidente faz o seu discurso sobre o Estado da União (State of the Union Address). É uma prestação de contas ao país, na qual o Chefe do Executivo procura descrever a atuação do Governo, o resultado de suas ações, políticas e administrativas, e o seu efeito sobre a situação e o bem-estar do povo.

A cerimônia tem lugar no Congresso, com a presença de deputados, senadores, os juízes do Supremo, os Chefes do Estado-Maior das Forças Armadas, e mais convidados a critério do Presidente, que vão desde CEO's de grandes corporações, dirigentes de órgãos de classe e desportistas com destaque até cidadãos comuns, inclusive, como assim desejou Obama, pessoas que se manifestaram abertamente contra as suas decisões.

Transmitido por extensa rede televisiva, o discurso costuma ser campeão de audiência, com as famílias americanas atentas em suas salas de estar às palavras do Presidente. E, no dia 12, como ainda estava nos Estados Unidos, participei desta contrita audiência.

Foi o último State of the Union Address de Barack Obama. E ele resolveu falar para a História. Embora tenha usado a parte inicial de sua oração de quase uma hora para ressaltar as conquistas recentes, como a retomada do crescimento econômico, a criação de 14,1 milhões de empregos em 2015, o fortalecimento de seus programas sociais, como o Obamacare e as vantagens de sua política externa de uso da diplomacia em vez da força, seu foco principal foi o Futuro. O que queremos ser no futuro, como Nação e como povo? Como fazer uma sociedade mais justa e igualitária? Foram suas perguntas. As respostas que deu baseiam-se no mesmo credo que vem pregando desde sua posse. Controle maior do Big Business, incentivo maior ao pequeno e médio empresário, maior integração social e racial, maior investimento em tecnologia, principalmente aquelas que poderão proteger melhor o meio ambiente, mais apoio ao indivíduo na sua adaptação a um novo e mutante mercado de trabalho.

No ponto mais divergente entre ele e os Republicanos, a ameaça do terrorismo e as políticas de imigração, Obama sutilmente criticou aqueles que semeavam o pânico e envenenavam a opinião pública contra o mundo islâmico. “O terrorismo não representa uma ameaça à integridade da Nação”, disse, para concluir que o inimigo viceja em garagens, porões, na maioria jovens vivendo dentro do território nacional, doutrinados e convertidos através da Internet. É preciso combatê-los, sim, mas não às expensas do relacionamento internacional com as nações muçulmanas, o fechamento de fronteiras ou o envio de tropas. Quanto às críticas de que o país havia enfraquecido durante sua Administração, Obama falou, textualmente: Os Estados Unidos são a nação mais poderosa do mundo. E ponto final.

Foi a única vez que os chefes militares se levantaram para bater palmas. Embora o discurso tenha provocado frequentes e calorosos aplausos da maioria dos presentes, os Republicanos na plateia se manifestaram com parcimônia. Coisas de um ano eleitoral. Mas, as pesquisas de opinião, publicadas logo após a cerimônia, deram um percentual de aprovação acima de 60%. Foi o melhor índice de Obama neste segundo mandato. Uma indicação de que, embora manietado por um Congresso hostil durante grande parte destes sete anos, Barack Obama conseguiu avanços que o farão ser lembrado no Futuro que ele tanto procurou visualizar em seu derradeiro State of the Union.

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En passant. Assisti há dias a uma entrevista do Donald Trump no canal Fox. Aos que acham que ele não passa de um bufão e que suas chances eleitorais são quase nulas, atenção! O cara é extremamente articulado, defende suas posições com os pés no chão e com a cabeça bem firme em cima dos ombros. É perigoso porque não tem nada a perder e diz o que muito americano da Middle America gosta de ouvir. Não estou fazendo qualquer comparação de fundo ideológico, mas ainda em 1933 tinha muita gente na Alemanha que classificava um certo político extremado da Baviera como um bufão e sem a menor hipótese de chegar ao poder.

Oswaldo Pereira
Janeiro 2016





8 comentários:

  1. Perfeita análise!! Já estava com vontade de assistir, agora então!!
    Bom passo para confirmar um das previsões de Pai Homerix!
    Notou Michelle? Segundo Renata ela estava sentadaao lado de um cientista refugiado sírio, que foi descoberto pelo Humans of New York, conhece? Precisa!!!

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    1. Rafaai Hamo é o nome dele. Uma história incrível, mesmo. Muitos pontos para Michelle (aliás, linda naquele vestido amarelo...)

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    2. Olá Oswaldo
      Não tive a oportunidade de ver e ouvir o discurso deste estadista na TV mas que pelo que sei , sem duvida alguma deu conta do recado em sua difícil administração, pesar de tantas opiniões em contrario.
      Sera lembrado sim e vamos torcer de que o próximo não entorne o caldo da pre-potencia.
      Lindo artigo e mais uma vez parabens,
      Emilio

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    3. Obrigado Almirante. O Obama já está na História, como primeiro negro a ser Presidente dos EUA. Mas, não só por isto. Vai deixar como legado o Obamacare, a sensatez diplomática, a recuperação econômica depois da crise de 2008. E pelo seu jeito tranquilo de ser.

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    4. Obrigado Almirante. O Obama já está na História, como primeiro negro a ser Presidente dos EUA. Mas, não só por isto. Vai deixar como legado o Obamacare, a sensatez diplomática, a recuperação econômica depois da crise de 2008. E pelo seu jeito tranquilo de ser.

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  2. Assisti também daqui e, como a tua análise esgotou o assunto, o que deixou a turma sem contestação foi o futuro americano desligado das contingências eleitorais em que o Trump pudesse usar para os sofismas eleitoreiros. Para mim Obama calou qualquer tergiversação. Agora seu Trump, só matando, mas num país armado com esse ele está armando sua própria tramp. Tem cara de quem vai sair algemado.

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  3. Saiu antes da revisão. Só acrescentando: ou os americanos seguem a doutrina Obama, que nada senão a percepção do mundo de hoje de pluripotências dentre as quais a maior é a americana, de longe, não podendo mais serem os sherffes do mundo, ou vamos para um buraco que ninguém sabe onde é o fundo.

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    1. Caríssimo Lustosa, como só estive na California, não pude sentir a "middle America". Mas, o avanço de Sanders, adversário de Hillary nas primárias, indica que os Democratas receiam escolher uma mulher para concorrer, caso Trump seja nomeado pelos Republicanos.

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