A
semana americana foi dominada por dois assuntos. O propalado teste
nuclear norte-coreano (ainda não confirmado pelos órgãos de defesa
dos Estados Unidos) e a “executive order” de Barack Obama
sobre a venda de armas.
Para
que se entenda melhor do que estamos falando, uma executive
order (literalmente traduzida como ordem executiva) é uma peça de legislação promulgada, com força de lei, pelo Presidente, sem passar pelo Congresso. No Brasil, seria mais ou menos o equivalente à Medida Provisória, sendo que esta, como o nome diz, tem efeito limitado no tempo e, para vigorar para além de seu limite temporário, precisa ser aprovada pelo Legislativo. Diferentemente, a “ordem executiva” é permanente e só pode ser derrubada por ações legais. Por isso mesmo, ela só é permitida constitucionalmente para regular assuntos da administração interna do Executivo ou em casos de excepcional perturbação nacional, como revoltas internas, greves agressivas e predatórias ou graves ameaças externas. Franklin Roosevelt foi o maior emissor de executive orders (mais de 3.500 em doze anos de governo) mas, é preciso lembrar, em seu mandato aconteceram a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial.
order (literalmente traduzida como ordem executiva) é uma peça de legislação promulgada, com força de lei, pelo Presidente, sem passar pelo Congresso. No Brasil, seria mais ou menos o equivalente à Medida Provisória, sendo que esta, como o nome diz, tem efeito limitado no tempo e, para vigorar para além de seu limite temporário, precisa ser aprovada pelo Legislativo. Diferentemente, a “ordem executiva” é permanente e só pode ser derrubada por ações legais. Por isso mesmo, ela só é permitida constitucionalmente para regular assuntos da administração interna do Executivo ou em casos de excepcional perturbação nacional, como revoltas internas, greves agressivas e predatórias ou graves ameaças externas. Franklin Roosevelt foi o maior emissor de executive orders (mais de 3.500 em doze anos de governo) mas, é preciso lembrar, em seu mandato aconteceram a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial.
De
qualquer maneira, num país medularmente democrático como os Estados
Unidos, um ato individual do Executivo, sem o respaldo do Congresso,
costuma provocar um franzir de sobrancelhas e murmúrios maliciosos
sobre abuso de poder ou
iniciativas ditatoriais
do Presidente. Num ano
eleitoral como 2016, tudo fica mais sensível e os Republicanos não
perderam tempo em tirar o maior partido possível da situação. Até
porque o assunto é explosivamente polêmico.
A
Segunda Emenda à Constituição americana, de 1791, assegura o
direito ao indivíduo
de keep and bear arms (ter
e portar armas). A origem deste direito vem do fato de que, nos seus
primórdios e durante a Guerra da Independência, o exército das
colônias rebeldes era formado por milícias, ou
seja, cidadãos comuns
armados com seus próprios rifles e espingardas de caça. Mantê-los
era uma necessidade. Depois, para os peregrinos que corriam atrás de
terras e riquezas no Velho Oeste, aonde
a lei não havia ainda chegado, uma
arma de fogo era sua garantia pessoal de segurança e sobrevivência.
E o que dizer da figura lendária do cowboy justiceiro,
com seus colts pendendo
de ambos os lados das ancas, prontos a serem sacados numa fração de
segundo. Imagem-símbolo de um povo, entronizado
no seu imaginário por
milhares de estórias, livros e filmes.
Mexer
com este direito é mexer num vespeiro. E foi o que Obama fez esta
semana. No fundo, a corajosa iniciativa do Presidente tem toda a
razão de ser. Os Estados
Unidos têm registrado, nos últimos tempos,
mais de 30.000 mortes por arma de fogo ao ano. Desde
o ano 2000, e só em escolas
americanas, foram 193 mortos
e centenas de feridos em 147 tiroteios e chacinas, praticados por
gente comum, até
adolescentes, com poucos ou
nenhuns antecedentes criminais, isto é, pessoas que, num surto de
agressividade, utilizaram o arsenal que tinham em casa para
espalhar, sem qualquer motivo aparente, a morte. E o que Obama
determinou é
o que um mínimo de bom-senso aconselha (o
próprio título da legislação indica: Common Sense Gun
Safety Reform).
Proibir a venda de armas de fogo a quem tenha algum registro de
criminalidade ou de perturbações mentais. Poucos dos que cometeram
as hecatombes anteriores talvez sequer se enquadrassem na proibição.
Mas, é um começo. E Obama sabe que este mínimo é o máximo que
pode fazer dentro dos seus limites políticos.
Como
disse acima, a executive order é
uma excepcionalidade. Assim, é de praxe que o Presidente,
após sua promulgação, venha a público explicar sua atitude. Isto
aconteceu no dia 5. Numa conferência realizada do Salão Leste da
Casa Branca, com a presença da imprensa e em transmissão televisiva
para todo o país, a que
tive a felicidade de assistir, Barack Obama proferiu, no estilo
“conversa” que tanto o caracteriza, um lindo discurso. Atrás
dele, estavam, além do Vice-Presidente Joe Biden, alguns
dos familiares das
vítimas das
centenas de ocorrências.
Foram 37 minutos, em que a emoção o levou, num determinado momento,
às lágrimas.
E
eu
fiquei olhando para a cena e me lembrando da música do Caetano.
A lágrima clara sobre a pele escura… E
pensando na incongruência do mundo. Além de uma reação
furiosa dos Republicanos,
o receio de que uma legislação futura venha a controlar ainda mais
a comercialização
de armas fez com que as vendas batessem recordes nos últimos dias. O
tempora, o mores, diria
Cícero...
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2016
Muito legal!! Não sabia da Executive Order!!! Achoque vou copiar para meu Projeto AWoL!!
ResponderExcluirComo tudo por aqui é abreviado, faça isto ASAP...
ExcluirAssisti ontem pela CNN a entrevista ao vivo com o Anderson Cooper. Do lado de fora estavam representantes da associação americana que defende a Segunda Emenda de forma cega e intransigente. Não tiveram a coragem de entrar, embora convidados. Grande pais!!
ResponderExcluirSão estas forças antagônicas, mas livremente permitidas por um Estado de Direito impecável, que fazem este pa;is girar. Toda vez que aqui venho, sinto um grande prazer em assistir este espetáculo de democracia representativa ampla e segura. Que inveja!...
ExcluirDuvido que a NRF vá permitir qualquer modificação no "status quo" vigente!!!
ResponderExcluirPara não falar na toda-poderosa indústria de armamentos...
ExcluirDesculpem-me: é NRA...
ResponderExcluirAqui no Brasil são muitos aqueles defensores da liberdade de comprar armas. E, dizem sua certeza que ser o melhor, nada adiantaria a probição.
ResponderExcluirFiquei emocionada com as lágrimas do presidente, não conseguir se conter diante de sua impossibilidade até como presidente. Mas é a democracia que nos dá inveja.
Muita, muita inveja (no bom sentido, claro...)
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