Como
todo aluno do 4th grade (correspondente
à nossa 4ª
série do ensino fundamental) das escolas californianas, meu neto de
10 anos recebeu, neste mês
de janeiro,
a
tarefa preparar um trabalho, que inclui a construção de uma
maquete, a confecção de um poster com
fotografias e ilustrações e um texto explicativo, sobre uma das
Missiones. E eu,
claro, como avô, fui logo convocado para trabalhar no projeto.
Para
entender bem do que se trata, as Missiones constituem
um importante capítulo na história cultural da Califórnia.
Construídos entre 1769 e
1823, salpicando a costa ocidental da América do Norte desde o sul
de São Diego até ao norte de São Francisco, os 21 conglomerados
demonstram o esforço dispendido pela Igreja Católica na tentativa
de catequese da população indígena.
A
região, na época, pertencia ao Reino de Espanha e era habitada por
várias etnias dos pele
vermelhas, cujos corações e
mentes os frades franciscanos
que para lá foram se dispuseram a conquistar. Com o objetivo de
converter, educar e “civilizar” os índios, e
prepará-los para o exercício de uma cidadania colonial,
ou o que isso pudesse
significar, os padres acabaram por introduzir na cultura nativa o
plantio de frutas e vegetais, a criação de gado e, o que viria a
ter um forte impacto nas
hostes tribais, o cavalo.
Assim,
uma Mission estendia-se
como uma pequena aldeia, com igreja, escolas, armazéns, currais,
hortas, pomares, lavouras, poços artesianos, praticamente
autossuficientes e produtivas.
Atraídos para este meio pela oratória e pela energia dos
religiosos, os índios trabalhavam na construção dos templos e dos
edifícios, cuidavam das plantações e dos animais. Em troca, dentro
de uma disciplina monástica, recebiam educação religiosa e
secular, além de comida e alojamento.
Mas, não eram todos. Muitos não quiseram abrir mão de sua cultura
e do seu espaço livre, em
troca de uma fé que não entendiam e de uma subserviência que
repudiavam.
Desta
forma, o resultado final deste obra teve altos e baixos. Como tudo.
Com a independência do México, do qual a Alta Califórnia era
parte, os padres espanhóis perderam o apoio. Aos pouco, muitas
Missões foram abandonadas, suas terras sendo absorvidas lentamente
nos ranchos dos californios, os
californianos que falavam espanhol. A maior mudança, entretanto,
veio em 1848, quando a região integrou-se nos Estados Unidos e,
especialmente, um ano depois, quando notícias sobre descoberta de
importante veios de ouro deflagrou um dos maiores deslocamentos de
gente da crônica americana – a gold rush de
1849. Por fim, muitos
terrenos foram distribuídos pelo Governo
a apoiadores políticos ou
grandes fazendeiros. Alguns voltaram às mãos da Igreja.
Atualmente,
entretanto, os lugares históricos de todas as vinte e uma missões
estão conservados e fazem parte de um concorrido roteiro turístico
cultural. E sua importância os insere no currículo escolar da
Califórnia.
E
então, a “equipe” familiar teve de se
por em marcha. O que envolveu uma belíssima viagem até uma das
missões para tomada de fotos, visita aos prédios antigos, absorção
in loco da
sua saga
e de suas
lições. A mim, coube trabalhar na montagem da maquete, que não
pode utilizar nenhum recurso profissional. É
só cola, papelão, tesoura, fita crepe, pincel
e tinta. Uma linda aula de americanidade.
SAN GABRIEL ARCÁNGEL: A MISSÃO ESCOLHIDA PARA O TRABALHO |
Todos
os anos, milhões de meninos e meninas de 10 anos fazem esta mesma
coisa. Assim se perpetua e se reverencia este
capítulo do passado. Dá gosto ver como um país “moderno” como
os Estados Unidos prioriza tanto em seu ensino o culto de sua
História.
Não
sei o que acontece aqui em
Pindorama, mas desconfio, pelo que leio às vezes na imprensa, que a
nossa História está desaparecendo nos ralos abertos por programas
didáticos medíocres, professores mal pagos e mal preparados,
política educacional equivocada ou mal intencionada, desprezo
institucional e descaso generalizado. Nosso presente é o que é,
nosso futuro está na balança. Se apagarmos o passado, o que
restará?
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2016
Que liiiindo !!!!! Estou emocionada com o empenho e cumplicidade do avô neste trabalho tão edificante e maravilhoso !
ResponderExcluirAvô é para isto e mais... E nada supera a doce ventura de sê-lo...
ExcluirAvô é para isto e mais... E nada supera a doce ventura de sê-lo...
ExcluirMuito interessante!Aqui ,lá vamos fazendo alguma coisa depois de tanta coisa ter sido destruida...
ResponderExcluirPortugal é outro exemplo de preservação do passado digno de aplausos. Nós, aqui no Brasil, estamos na contramão...
ExcluirGrande avô o neto vai reconhecer.
ExcluirAqui faz-se qualquer coisa pela nossa História
mas podia e devia ser melhor.
Um abraço
Mesmo assim, Portugal é um exemplo que o Brasil deveria seguir. Grande abraço
ExcluirMuito interessante!Aqui ,lá vamos fazendo alguma coisa depois de tanta coisa ter sido destruida...
ResponderExcluirMuito interessante!Aqui ,lá vamos fazendo alguma coisa depois de tanta coisa ter sido destruida...
ResponderExcluirParabéns Oswaldo, a história e a "história de nossa vida. Aqui vmos construindo o Museu do "AMANHÃ" e o que colocar dentro? Só o Eduardo Paes deve saber. E, chamou um arquiteto caríssimo da Espanha. Abraço, Cleusa.
ResponderExcluirPrecisamos, e muito, é de um Museu do Ontem. Sem ele, não há amanhã...
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