O pequeno inseto mede cerca
de um centímetro. Podia ser um mosquito qualquer, destes que aporrinham o sono
numa noite de verão, que tiram um cristão do sério com sua zoada fininha e
enervante. Mas não é. Ou melhor, não é só.
Com o rabo e as pernas zebrados,
ele tem a força de um apocalipse. Seu nome para os íntimos é pernilongo raiado,
mas todo o mundo o conhece por sua denominação científica. Aedes aegypti. Duas palavrinhas latinas que querem dizer, como uma
praga bíblica, o odioso do Egito. Aqui
no Brasil, convivemos com ele há mais de século, onde sua raça encontrou
condições de insalubridade ideais para estabelecer suas colônias, sua
descendência e seu império.
Desde sua aparição, e até
recentemente, seu apelido era o mosquito
da dengue, uma doença que já era endemia no Brasil Colônia e pariu um
vocábulo para a nossa língua. Como um dos sintomas do mal é a sensação de
cansaço e prostração, a palavra dengoso nasceu
para adjetivar aqueles que gostam de fazer corpo mole...
Mas estes são outros tempos.
De uns dois anos para cá, o odioso do
Egito passou a trazer mais um item na sua bagagem, uma outra moléstia, com
nome que parece uma dança caribenha – a chicungunha (vamos a bailar la Chicunguña...), de características semelhantes à
dengue, cujos desdobramentos podem, eventualmente, levar à morte, no caso da
dengue hemorrágica. Mais uma chatice.
Agora, o último presente do mosquitinho é a zika, uma infecção que foi relacionada à
ocorrência de microcefalia em bebês ainda em gestação, transmitida pela mãe infectada
durante a gravidez. Coisa séria, seríssima, e que começa a assustar a população
brasileira e preocupar o mundo. Soou o alarme.
A história nacional do
combate ao mosquito é longa. Uma luta nunca vencida pelos órgãos responsáveis
pela saúde pública, haja vista que, só no ano passado, mais de um milhão (isso
mesmo, um número de sete dígitos) de casos de dengue foram reportados no país. O
Governo agora vem admitir que houve “leniência” no tratamento da situação. No
meu dicionário, leniência é governês para incompetência, descaso e
corrupção.
Mas, com a zika, o buraco é mais embaixo. Com 4 mil notificações de microcefalia e um megaevento
como as Olimpíadas às portas, não há mais tempo para brincadeiras. O próprio
Marcelo Castro, Ministro da Saúde, já declarou – “estamos perdendo feio”. Para
complicar ainda mais, a rede hospitalar pública do Estado do Rio de Janeiro
decretou falência administrativa e o Pedro Ernesto, hospital de referência da
região, está mandando os doentes para casa, não porque eles estejam curados,
mas porque não há como atendê-los.
Pressionado pela Organização Internacional da Saúde, que vê a infecção espalhar-se pelas Américas, e pela
inquietação do Comitê Olímpico Internacional, o Governo finalmente resolveu
declarar guerra ao mosquito e vai empregar no conflito 200.000 soldados do
Exército. Só para comparar, na Segunda Guerra Mundial, a Força Expedicionária
Brasileira arregimentou 50.000 para lutar na Europa.
Mas, nem uma força de um
milhão de homens conseguirá vencer a batalha, se um outro componente poderoso não
ajudar. O comportamento do brasileiro
com relação ao lixo e à sujeira. Se não nos conscientizarmos de que o sucesso
desta empreitada depende muito mais de cada um de nós, da nossa ação do
dia-a-dia, do cuidado com o que é nosso, (não) será o fim da picada...
Oswaldo Pereira
Janeiro 2016