UM FELIZ NATAL PARA TODOS!
E, como sempre, um Conto de Natal.
Desta vez...
A NOITE DE NOEL
«Noel?....»
O
quarto continua em silêncio. Lá fora, ainda é noite.
«NO-EL!...Levanta,
homem.»
A
cama se mexe. Uma voz grave e lamuriosa ecoa na penumbra.
«O
que é?... Me deixa dormir um pou...»
«Que
dormir coisa nenhuma! Não se lembra que dia é hoje?»
Noel
soergue-se. Olha pela janela, emoldurada do lado de fora pelas
agulhas de gelo que descem do teto. Dá um resmungo choroso.
«Está
nevando muito...»
«Bem...
o que você esperava? A praia de Ipanema? Estamos na Lapônia, meu
caro e hoje são vinte-e-quatro de dezembro. Inverno por estas
bandas. E hora de trabalhar.»
«Já?!
Mas, é madrugada, o dia ainda não começou...»
«Não
começou aqui. No Japão já são três da tarde e as criancinhas
japonesas estão à sua espera. Até reunir as renas, dar-lhes de
comer, atrelá-las ao trenó... você bem sabe que elas estão cada
vez mais preguiçosas...colocar os sacos no bagageiro... isto leva
tempo...»
Noel
sai da cama, esfregando os braços.
«As
criancinhas japonesas acreditam em Buda. O Natal não quer dizer nada
para elas...»
«Isto
foi antes da propaganda americana. Desde que a Coca-Cola
nos reinventou, o Natal é uma grande sacada comercial em todo o
mundo, seja na Ásia, nas Arábias ou na Conchinchina.»
«Pois
é, aí é que está. Cada vez eu trabalho mais, cada vez tenho de
acordar mais cedo. O que é que eu ganho com isso?»
Ela
olha-o com ternura.
«Você sabe bem,
meu querido... Pare de reclamar. Vai tomando banho e se vestindo. Eu
vou lá na oficina ver como estão as coisas. Com as cartas agora
vindo pelo WhatsApp,
há
pedidos de última hora. Tecnologia, Noel. Temos que nos
adaptar...»
Noel
fica olhando ela afastar-se. Estão juntos há muitos, muitos anos.
Nem ele se lembra quantos. Só sabe que sem Mamãe Noel ao seu lado,
este negócio já teria acabado faz tempo.
O
espelho do banheiro reflete seu rosto meio amarrotado pelo sono.
Tenho
de dar um jeito nisso...,
pensa, enquanto liga o aquecedor do chuveiro. Esboça um largo
sorriso, põe um brilho nos olhos. Pigarreia com força e solta a
voz. «Ho-Ho-Ho...». Sai chocho. Tenta de novo. «HO-HO-HO!...»
Melhor,
muito melhor...
Meia-hora
depois, ele já está pronto. O espelho agora mostra um semblante
jovial e radioso, o barrete bem colocado na cabeça, o uniforme
encarnado cheirando a novo, o cinto e as botas reluzindo seu couro
negro. Mamãe Noel dá uma última ajeitada na gola do casaco.
«Proteja-se. Vai estar frio...» Como
se fosse a primeira vez, pensa
ele.
Os
ajudantes estão todos perfilados, acenando, quando ele sobe no
trenó. As renas maneiam as cabeças numa expectativa gostosa. Adoro
este momento, ele
diz para si mesmo. Um ano inteiro de preparativos, trabalho, linhas
de montagem, planilhas de cálculo, horas intermináveis, milhões de
brinquedos, milhões de sonhos... Agora, chegou a hora. «VAMOS!»,
ele anuncia. Mamãe Noel lhe manda um beijo. E a carruagem vermelha
levanta-se do chão, faz uma linda curva no céu e parte.
Duas
horas depois, ela está pousada no quintal de uma casa em Hiroshima.
Já passou por Tóquio, Nagasaki, Yokohama, muitas outras. Noel
consulta seu tablet.
O
nome do menino lhe lembra alguma coisa. O lugar também. Sim, é
isso. Há 70 anos, ele aqui estivera, com uma bola de presente.
Nomura,
Shunji. Só
para descobrir que o garoto perdera as pernas na explosão da bomba.
Ele entreolha pelo vidro da janela. Na pequena sala, um velhinho
sentado numa cadeira de rodas brinca com o neto em seu colo. Nas mãos
do menino, a bola. Guardada por décadas. Inútil, naquele Natal
longínquo. Agora, um motivo de sorriso para os dois, criança e avô.
Noel vai até o trenó e volta com uma outra bola. Toda feita de luz
e de esperança. Sem que os dois percebam, ele entra na sala e a
deposita em cima da mesa. Enquanto sua luminosidade se espalha pelo
ambiente e o enche de calor e bem estar, ele sai de mansinho.
Do
lado de fora, suspira, feliz. Uma leve vibração lhe agita o peito.
É
a emoção, ele
pensa. Mas, não é só. Também é o celular. Ele atende. É Mamãe
Noel.
«Então,
você já está na China?»
«Bem...
estou ainda no Japão...»
«Noel!
Você está atrasado, homem de Deus...»
«OK,
OK, já estou indo...»
Aperta
o passo, sobe no trenó e diz.
«Rudolph,
para Beijing. À toda!...»
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2015
Ora bolas fazer a gente chorar logo pela manhã? Não está certo! Está certíssimo qdo o motivo é esse: solidariedade, um pouco de amor e o calor dos rituais. Não tem preço. Boas Festas pra vocês. Um ano todo...todo!
ResponderExcluirChorar de emocao eh sempre bom (estou sem acentos e cedilhas pq estou nos States num computador decididamente yankee...) Um grande Natal para voce, filhas e toda a familia.
ExcluirÓtimo conto. Aproveito para desejar ao amigo Boas Festas e um Ano Novo maravilhoso e a todos os seus. Em 2016 temos que nos encontrar. Grande abraço do Thomaz.
ResponderExcluirObrigadissimo, grande amigo Thomaz. Certamente que temos de nos ver no proximo ano e desfiar grandes papos... Um Natal muito Feliz e um Ano Novo de muita paz.
ExcluirGostei muito do teu conto! Mas...o Pai Natal não vai passar por aqui? Um abraço grande.
ResponderExcluirGostei muito do teu conto! Mas...o Pai Natal não vai passar por aqui? Um abraço grande.
ResponderExcluirEh claro que sim! Ha uma canc~ao de Natal brasileira que diz: "Seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem..." Um belo Natal, querida prima, e um Novo Ano cheio de saude. Bjs
ExcluirPuxa vida ! Por mim ..... por aquilo que você é, por aquilo que escreve, eu lhe dava o prémio Nobel de presente de Natal. Que os seus sapatinhos recebam a melhor energia para seguir o caminho da felicidade . bom natal para o pai Noel, Mitú Noel e ..... filhotes ! abração - graça
ResponderExcluirQuerida Graca, seus elogios valem para mim muito mais do que o Nobel...Um rico Natal, cheio presentes ao pe da arvore e de paz do coracao... Beijos de todos.
ExcluirEmocionante conto de Natal. É data tão preciosa que exixtem contos tao diversos e com um assunto tão doce e que nos remete a grandes emoções. Que o Natal de toda a familia seja de paz e muita alegria. Beijos, Cleusa.
ResponderExcluirQuerida Cleusa, mais uma vez, obrigado pelos seus sempre gentis comentários. Um Natal cheio de boas novas e de muita felicidade.
ExcluirCaro Primo,
ResponderExcluirElogiar os seus textos já está ficando repetitivo. Você é mesmo "bamba", tem feito sucesso entre meus colegas de Receita Estadual.
Para você e para os seus, um alegre Natal e que 2016 seja pleno de saúde e que você continue nos brindando com muitas outras crônicas inspiradas.
Abraços,
Geraldo
Obrigadíssimo, caro primo
ExcluirMas, lembro-me que você também é bamba na escrita e tive especial prazer em vê-lo retornar às páginas da VOZ DA CIDADE com um belo artigo.
Grande abraço
Caro Oswaldo
ResponderExcluirV. como sempre sui generis ate com o velinho Noel.
Feliz Natal para V. seu amigo,
Gonza
Caro Oswaldo
ResponderExcluirV. como sempre sui generis ate com o velinho Noel.
Feliz Natal para V. seu amigo,
Gonza
Valeu, Almirante. Um grande Natal para você e toda a família.
ExcluirValeu, Almirante. Um grande Natal para você e toda a família.
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