III –
RELIGIOSIDADE
Ôôômmmm...
O
som é universalmente conhecido. Evoca mantras transcendentais, uma elevação ao
estado alfa, a perfeição do nirvana.
Seu timbre grave sintetiza num só tom o nome de 33.000 deuses.
A
Índia foi o berço de várias religiões e, até hoje, seus cultos, rituais e
acólitos povoam uma terra em que tudo é sagrado. Todas as formas de vida
recebem a proteção de uma divindade e a reverência de uma população que tem
sempre os olhos postos nos ciclos cósmicos da eternidade.
Atualmente,
o hinduísmo domina, com 80% de
seguidores. Seguem-se o islamismo (13%),
o cristianismo (3%), o sikhismo (2%), o budismo e o jainismo, com
1% cada. Um por cento parece pouco, mas, numa população total de 1,3 bilhão,
cada uma destas duas últimas contabiliza 13 milhões de fiéis...
Assim,
Brahma, Vishnu e Shiva, a trindade máxima do hinduísmo, que representam,
respectivamente, a Criação, a Preservação e a Destruição, são onipresentes numa
miríade de templos e altares, construídos com requintes ou singeleza, erguidos
às margens de rios ou escavados nas rochas, louvados em ritos milenares e
celebrados nos textos santificados dos vedas
ou na intrincada mitologia do Mahabharata
ou do Ramayana.
No
plano a seguir, uma constelação de entidades está identificada com cada aspecto
da vida e do universo. Conceitos como chakras,
tantra, karma e práticas como o yoga,
a alimentação vegetariana e os hábitos de purificação de corpo e espírito
comandam o dia-a-dia de centenas de milhões de pessoas. A crença no ciclo de
reencarnação e na necessidade de evoluir sempre, até atingir-se a liberação
final de sua repetição, compõe o núcleo central de uma filosofia de
comportamento e convivência.
Os
guias que nos acompanharam foram pródigos em explicações sobre o que víamos e
ouvíamos nos templos e nas ruas. E não o faziam apenas para atender à nossa
ávida curiosidade. Faziam-no quase como um dever religioso...
FINAL
– UM ROTEIRO
Se
soubesse o que agora sei, teria invertido a ordem do nosso roteiro. Primeiro,
iria a Goa, onde a ainda forte influência portuguesa permite apenas um primeiro
gostinho dos sabores indianos. É Índia, claro, mas uma Índia light, um prelúdio do impacto que virá a
seguir.
Daí,
iria a Mumbai, para um tratamento de imersão num torvelinho humano
indescritível, um banho caudaloso e quente de cheiros, cores e alaridos, a
Índia com I maiúsculo, dos filmes e das crônicas.
UDAIPUR: THE TAJ LAKE HOTEL |
Então,
seria a vez do mítico Rajastão, a Índia dos palácios, das grandes extensões
onde a planura sem fim dos campos contracena o fausto dos marajás com a
pobreza extrema do povo, dos lagos de Udaipur, da pureza branca de Ranakpur, do
monolítico forte de Mehran Garh em Jodhpur, dos espelhos de Samode, do Palácio
dos Ventos dentro da cidade rosa de Jaipur, dos elefantes de Amber.
PALÁCIO DOS VENTOS EM JAIPUR |
O TEMPLO DOURADO DE AMRITSAR |
Só
depois viria Uttar Pradesh e a cereja do bolo – o Taj Mahal.
Aí
sim, estaria preparado para a cidade velha de Delhi, para o pandemônio humano,
o caos urbano e o mais lunático trânsito do planeta. E para a paz celestial da
Mesquita de Jama Masjid...
E
terminaria no Punjab, terra dos sikhs e
do Templo Dourado de Amritsar. O adeus seria na fronteira com o Paquistão, em
Wagah, envolvido pelo frenesi patriótico que acompanha os malabarismos da ordem
unida dos guardas, na cerimônia de descida da bandeira.
Mas,
não interessa a ordem. O que aprendi foi inesquecível. Em qualquer
sequência, a Índia é um mundo que deve ser visto, ouvido, inalado, saboreado e
tocado. Só não há como descrevê-lo.
Oswaldo Pereira
Novembro 2015