sábado, 18 de abril de 2015

THE HILLS ARE ALIVE...






Maria Augusta Kutschera era, em sua juventude, uma fervorosa adepta do Socialismo e não acreditava na existência de Deus. Nascida num trem a caminho de Viena, órfã em criança e criada por tios, sonhava ser professora pública. Num certo Domingo de Ramos, entretanto, entrou numa igreja crendo que ia assistir a um concerto de músicas de Bach. O que ouviu foi um discurso do padre local. E isto mudou sua vida. Profundamente impressionada com a revelação da fé católica que ouvira, e que a convertera, ingressou, logo após ter-se graduado no Colégio de Educação Progressiva da capital austríaca, na Abadia Beneditina de Nonnberg, em Salzburgo, como noviça.

MARIA KUTSCHERA EM 1926


Às turras com a disciplina do convento, Maria começou a ter problemas de saúde. Por esta época, um Barão viúvo solicitou à Madre Superiora que lhe enviasse alguém para cuidar de uma de suas crianças, uma menina que padecia da mesma moléstia que matara sua mulher, a escarlatina. A menina chamava-se também Maria e o convento achou que poderia matar vários coelhos com um só golpe – satisfazer o Barão, ajudar a filha doente e verificar se a missão melhoraria a saúde e o humor da postulante rebelde.



A esta altura, qualquer pessoa que não tenha passado os últimos 50 anos incomunicável numa caverna do Afeganistão sabe perfeitamente do que eu estou falando. O Barão era Georg von Trapp, herói da Primeira Guerra Mundial como comandante de submarinos e pai de sete filhos. Maria era a noviça que, ao aceitar o desafio de recuperar a menina doente, conquistou o afeto de toda a prole e o coração de seu pai.

No espaço de doze meses, entre 1926, quando Maria ingressou no serviço da família, e 1927, ano de seu casamento com von Trapp, o romance desenrolou-se, mais por iniciativa do Barão, imediatamente apaixonado pela nova empregada, do que dela, conquistada inicialmente apenas pela afeição das crianças, ainda magoadas pela perda da mãe.

Os von Trapp já eram uma família musical, mesmo antes que Maria chegasse a Salzburgo. Entretanto, como forma de sobrevivência a partir da depressão mundial começada em 1929, na qual o Barão perdeu quase toda sua fortuna, só no início dos anos 1930 eles deram início a uma carreira profissional como grupo vocal de músicas tradicionais austríacas. Eram muito bons e o sucesso foi grande. Em 1938, quando aconteceu o Anschluss, a anexação da Áustria à Alemanha hitlerista, a Família de Cantores von Trapp estava no topo das paradas.

Georg von Trapp era, no entanto, um medular antinazista. E logo percebeu o perigo que ele e a família corriam na progressiva dominação de seu país pelos alemães. A primeira complicação surgiu quando foram convidados, e declinaram, a cantar numa comemoração pelo aniversário de Adolf Hitler.  A segunda, e definitiva, veio quando ele decidiu recusar um posto na Marinha do Terceiro Reich. Sabendo que era um caminho sem volta, conseguiram, à última hora, partir para uma turnê musical nos Estados Unidos. Não foi uma empolgante travessia dos Alpes ao som de Climb Every Mountain, mas teve sua dose de drama, pois foram vários os percalços até que conseguissem um visto de permanência na América.

A fama que os precedia abriu-lhes as portas no Novo Mundo. Com os ganhos obtidos num meio artístico em expansão após o término da guerra, compraram uma propriedade em Vermont, no seio de uma natureza que em tudo lembrava a Áustria nativa, e construíram uma pousada e uma escola de música. O bastante para garantir uma vida estável e tranquila, mesmo após a morte do Barão em 1947.

A FAMÍLIA VON TRAPP NOS ESTADOS UNIDOS: MARIA E GEORG CERCADOS PELOS SETE FILHOS DELE

Dois anos depois, um fato novo iria catapultar a saga privada dos von Trapp para as estrelas. Instada por vários amigos, Maria, que agora assumia plenamente as funções de matriarca (além dos sete filhos originais, Georg tivera mais três com ela), decidiu escrever suas memórias num livro, The Story of the Trapp Family Singers (A História dos Cantores da Família Trapp).


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Este mês, comemoram-se os cinquenta anos da estreia de The Sound of Music (aqui no Brasil, traduzido com duvidoso gosto como “A Noviça Rebelde”...). Era a versão cinematográfica do megassucesso da Broadway, que entre 1959 e 1963 enchera os teatros por 1.443 apresentações. Antes, duas produções do cinema alemão haviam sido baseadas no livro de Maria von Trapp. Apesar de sofrer severo ataque da crítica, que o desancou como sendo enjoativamente açucarado (estamos falando de uma época em que as produções musicais já se pautavam por West Side Story e a cena pop americana era dominada pela Invasão Inglesa e pelos Beach Boys), e da própria família Trapp, que não via no filme, e nem na peça, um justo reconhecimento de sua carreira como cantores profissionais, The Sound of Music arrebatou as plateias de todo o mundo e os favores da Academia. Foram dez indicações, cinco Oscars e, até hoje, a segunda maior bilheteria da história (só perde para Gone With the Wind – E o Vento Levou).

A FAMÍLIA VON TRAPP DO CINEMA


Hoje é quase um cult para as famílias que, no aconchego de suas salas, se deliciam com as peripécias de Fräulein Maria e cantam a mágica trilha sonora dos geniais Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II. E aplaudem toda vez que Maria e as crianças terminam a sequência musical de Do Re Mi, nas escadas dos jardins de Mirabell.

Para complementar.

Maria Franziska von Trapp, a única sobrevivente dos sete filhos e justamente aquela para quem o Barão solicitou cuidados ao convento e desencadeou toda a história, morreu em 2014, aos 99 anos. Hoje, só Johaness, filho caçula da noviça com o Barão, está vivo e administra a propriedade familiar, atualmente um resort que fabrica até sua própria cerveja, The Shades of Salzburg. Os atores que protagonizaram o casal e os filhos no filme estão todos vivos.



Uma das últimas canções do filme é Something Good. Algo de muito bom para vermos e ouvirmos mais uma vez...



Oswaldo Pereira
Abril 2015









2 comentários:

  1. Oswaldo, e a terceira vez que escrevo um comentário e coloco conta Google, clico PUBLICAR e desaparece. Ele deve estar por aí.

    Falei de minha admiração pela bela família que lutaram cantando!!!!!

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  2. Música salva. Isso faz parte da Matemática. Boa lembrança.

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