Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá...
Ah! Sabiá
Se você soubesse
Talvez até nem cantasse
Guardasse o canto, soltasse o pranto
Ou um grito
Sobre esta terra arrasada
Sobre este planalto maldito
Sobre as cúpulas brancas de um palácio
Que brotou do nada
Que brotou da mão calejada
De um povo
Em cujas veias uma teimosa esperança
Bombeia um coração que sonha,
Mas já cansa
Um palácio que o futuro
Parecia trazer de mão beijada
A Alvorada
A miragem de um porvir
Tão belo,
Verdeamarelo
Nascido para ser uma Catedral
Um lugar santo
Hoje o porvir agoniza, num canto
Ferido, torcido, estuprado
Pisado por pés enlameados de um barro sujo
Estrangulado por mãos que fedem a dinheiro podre
Irremediavelmente traído por hienas
Por propinas,
Pelo toma lá dá cá dos conchavos
Ah! Sabiá, não cantes
Antes, chora um lamento
Um réquiem de tristes rimas
Pelas sinas e desditas
Deste doce Pindorama
Que teve nas mãos o amanhã
A chama, a luz
Infinitas, ao alcance de acenos
Mas que o deixou escapar
Na sanha dos vendilhões que trocaram o seu futuro
Por moedas, vantagens, pensões
Iates no cais,
Paraísos fiscais
Privilégios obscenos
Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam...
Deixa prá lá...
Oswaldo
Pereira
Abril 2015
MUITO INSPIRADO!
ResponderExcluirMuito bem construído, inspirado pela infinita tristeza que é ver este país "estrangulado pela mão da roubalheira que fede a dinheiro sujo". Não há análise sociológica que supere essa imagem.
ResponderExcluirMuito bom, Oswaldo. Tristeza mais do que motivada.
ResponderExcluirBj
GOSTEI IMENSO
ResponderExcluirVocê mostra nesta inspiração toda uma tristeza com o que acontece e saudade de outros tempos.
ResponderExcluirAbr.
Nostalgia é o que senti ao ler o belo poema. Isso é nossa verdade hoje. Tenhamos esperança.
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