O lugar está totalmente lotado. Nos degraus das duas enormes construções de
pedra que flanqueiam o campo de jogo, a multidão incentiva sua equipe com gritos
e amplos gestos. São agricultores, artesãos, peregrinos que vêm de todos os
pontos da Península, de Izamal, de Mayapan, de Motul. A primeira fila de
espectadores está sentada a nove metros de altura. Abaixo dela, uma parede reta
vai até o chão de terra lisa. Exatamente na linha que divide o campo de 140
metros de extensão por 40 de largura, e a sete metros do solo, está esculpido,
em cada lado da quadra, um anel. São dois times de cinco jogadores, cada um
guarnecendo sua metade do campo. Vestem calções curtos, sandálias de couro e
alguns têm proteções nas pernas. Entre eles, saltita uma esfera de látex negro,
com quase 20 centímetros de diâmetro, pesando cerca de 4 quilos. Usando somente
os ombros, os joelhos, os cotovelos e as ancas, perderão pontos se deixarem a
bola bater mais de uma vez no chão de seu lado, antes de enviá-la para o
território adversário, ou se permitirem que ela saia do campo pela linha
traseira. Ganharão se conseguirem fazê-la passar pelo aro de pedra. Pok-ta-tok é um jogo sagrado. E violento.
O impacto da borracha sólida em movimento frenético pode ferir seriamente e até
matar se atingir com velocidade os jogadores. Faz parte. Ao final da peleja, o
capitão dos vencedores decapitará ritualisticamente o líder dos derrotados.
Assim manda o costume.
Os maias abandonaram o local no século XVI, pouco antes
da chegada dos espanhóis. Mas, até então, e principalmente no período entre 900
e 1200 AD, sua época de ouro, Chichén-Itzá foi o mais importante centro
religioso e cultural da península de Yucatán. Hoje é um sítio arquelógico com
mais 20km quadrados e retem extraordinárias expressões arquitetônicas da
civilização maia-tolteca.
PIRÂMIDE DE KUKULKÁN |
A oeste da pirâmide está o Templo dos Guerreiros. É uma pirâmide baixa e retangular, o que lhe
empresta um ar de solidez e de desafio ao tempo. O andar inferior está suportado
por colunas que representam soldados, esculpidos em baixo relevo. No topo, ao
final da escadaria central, há um magnífico chac-mool,
que é a escultura de uma figura humana sentada, com os braços repousados e a cabeça
virada para a esquerda. Seu simbolismo ainda permanece um mistério, como muitos
que permeiam este sítio.
PRAÇA DAS MIL COLUNAS |
CENOTE SAGRADO |
Um lugar para banhos a vapor, um observatório celestial,
capelas e ossários complementam o impressionante conjunto monumental de
Chichen-Itzá e transpiram seu profundo conteúdo cultual. Parado em silêncio no
centro do imenso espaço da praça principal, torna-se fácil imaginar um dia de festa
em pleno apogeu maia. No alto da Pirâmide, senta-se o Rei, em frente a uma pira
votiva, com seu enorme adorno de cabeça, uma multicolorida alegoria de penas,
seu nariz adunco e seu olhar cruel observando o jogo que se desenrola abaixo.
Generais, concubinas, ministros e servos o cercam em adoração constante. Em
toda a área que cerca o edifício, milhares de pessoas vão e vêm, oferecendo presentes
aos deuses menores e louvando o Deus-Rei que está sentado lá em cima em seu
trono.
Os maias foram uma civilização de guerreiros, cientistas
e astrônomos. Dominaram Yucatán por quase 800 anos, antes de se fragmentarem e
perderem sua hegemonia. Hoje sobrevivem em suas lendas, suas profecias, seus
monumentos e na paisagem humana dessa região do México, onde seus inconfundíveis
narizes aquilinos, olhos oblíquos e tez avermelhada estão por toda parte.
Oswaldo Pereira
Março 2014
Muito, muito interessante. Como consegue descrever tão bem! Parabéns!
ResponderExcluirMuito interessante o seu texto ! Merci !
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