terça-feira, 21 de janeiro de 2014

CAVIAR E ESQUERDA






Gauche caviar é um termo cunhado na França no tempo de François Mitterand. Seu significado marcadamente depreciativo reúne, num bem-humorado jogo de palavras,  as noções de hipocrisia, insinceridade  e oportunismo, características de defensores do ideal social-comunista que apregoam as vantagens  do sistema mas vivem  das benesses de seu regime oposto, o capitalismo. Como os há em escala mundial, o termo acabou recebendo traduções como champagne socialist nos países de língua inglesa e esquerda festiva ou esquerda caviar aqui entre nós.

E este é o título do mais novo livro do economista e colunista da VEJA, Rodrigo Constantino.  Para quem já ouviu falar dele, ou leu seus livros e suas crônicas, sabe que Constantino não é de poupar  palavras, nem manda recado,  quando escreve.  É direto, contundente, combativo. E, claro, polêmico.

Nas 428 páginas da edição lançada pela Record, ele esmiuça ad nauseam o comportamento do esquerdista caviar, valendo-se ao mesmo tempo de dezenas de citações de autores que vão de Nelson Rodrigues, Ayn Rand, Vargas Llosa e Luiz Felipe Pondé ao roqueiro Lobão.

Na primeira parte do livro, ele examina as origens do “fenômeno”, como ele próprio denomina, da duplicidade conceitual daqueles que defendem a distribuição equalitária da riqueza ao mesmo tempo em que gozam de privilégios do livre mercado, o corriqueiro “faça  o que eu digo, mas não olhe o que eu faço...”

No capitulo seguinte, trata das “bandeiras” dessa tribo e, no último, das celebridades que ele classifica como ícones, nacionais e estrangeiros, da esquerda caviar, como, por exemplo, Barak Obama, Gandhi, Michael Moore, Oscar Niemayer, Chico Buarque  e um elenco de atores de Hollywood que faria inveja às nomeações para o Oscar (de Harrison Ford a Whoopie Goldberg, passando por Robert Redford, Barbra Streisand, Sean Penn, Brad Pitt, Angelina Jolie, George Clooney e outros que tais...) Até Luiz Fernando Verissimo entrou na lista.

Não vou aqui defender ideologias. Cheguei a uma idade em que a única coisa que defendo é que todos têm direito a professar suas crenças. Direita ou esquerda, exceto quando levadas a extremos,  são caminhos politico-sociais que, se geridos com honestidade de princípios e de meios, podem proporcionar bem estar e felicidade aos habitantes de uma comunidade. História e cultura religiosa ou secular são diferentes para cada povo e não há regime único que sirva para todos. O que pode ser adequado para uns, nem sempre se aplica a outros, embora eu não conheça, até hoje,  um lugar onde o comunismo tenha sido um sucesso de administração pública.

Mas o que eu não acho aceitável, e aí existe um ponto de convergência com o livro de Constantino, é a dualidade de postura daqueles que falam mal da ditadura militar (que, sem dúvida, teve seus pecados) e tecem loas à Cuba de Fidel e à Rússia de Stalin, que posam de “perseguidos” do autoritarismo e recebem polpudas indenizações pagas com o nosso suado dinheirinho.

O regime que gosto mesmo é o da coerência.

Oswaldo Pereira
Janeiro 2014




6 comentários:

  1. ...por falar nisso, lembrei do Barry Lyndon do Kubrick, passou semana passada no Instituto Moreira Salles. No filme genial, fica bem claro durante a narrativa, que coerência não mora na alma humana, muito menos nos atos, da maioria das pessoas. Um filme surpreendente, inteligentíssimo, isento. Para enfrentar a escassez desse atributo,... hay que tener tolerancia

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  2. A "esquerda caviar" é a expressão de um ato falho revelado pela lista dos famosos citados que passam a ser intelectuais a partir do momento que praticam abertamente a incoerência para consigo próprios. A lista precisa ser depurada.Acho uma injustiça incluir Gandhi nessa lista. É como se nela pudesse ser incluído o Mandela. Tanto quanto ele não se enquadra nessa categoria. Outros ainda, como o Obama, podiam ser excluídos. Assim, definitivamente de fora está de fora também o Papa Francisco. Jesus Cristo, por ter transformado a água no melhor vinho no fim da festa, se fosse contemporâneo, estaria na lista. Concordo com o anônimo, hay que tenr tolerancia.

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  3. Coerência e tolerância, duas importantes palavras.

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    1. a coerência não sei, mas a tolerância, suponho, é fruto de uma forma muito atenta da indiferença. Pq "vamos combinar " política e políticos, deixaram de ser um causa de progresso ou fonte de qq tipo de beneficio para os grupos humanos. Como disse o mestre: "Cultura é neurose"

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  4. Querido Primo,
    Como estou de férias, a esta altura da tarde já emborquei umas cachaças. Ébrio, voltei a adolescência, Guevarra é meu idolo. Não suporto qualquer crítica a Sinistra. Afinal, ainda que na prática tenha se revalado um fracasso, alias URSS e quejandos nada mais foram que capitalismos de Estado, o socialismo é um ideal generoso, extremamente generoso.
    Melhor que o ideal socialista, só mesmo o anarquismo, por isso estou com a listta aberta para fundação do Partido Anarquista Utópico. Por enquanto só tenho meu jamegão, mas aos 56 anos de idade estou com esperança de levantar o PAU!
    Geraldo das Geraes

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    1. Caríssimo primo,
      Que alvissareira noticia perceber que a tua verve continua intacta e cada vez mais afiada e que os eflúvios da "branca" só a fazem melhorar. Longa vida ao teu partido, cujo propósito é sobejamente mais honesto do que aqueles que vicejam em nosso combalido Congresso.

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