Tudo ou Nada.
Este foi o nome dado (Everything Or Nothing - EON) por dois pequenos produtores cinematográficos, em 1961, à empresa que haviam acabado de formar. Tanto o canadense Harry Saltzman como o americano Albert Broccoli tinham uma ideia comum – adquirir os direitos de filmagem dos livros do inglês Ian Fleming, cujo sucesso como autor fora catapultado às estrelas após a revista LIFE ter revelado From Russia With Love como uma das preferências literárias de John Kennedy.
Apesar da imediata e imensa publicidade em torno da obra de Fleming e da elevação de seus thrillers à categoria de best-sellers, a iniciativa de leva-los às telas ainda era considerada uma hipótese arriscada. E não seria a primeira. Em outubro de 1954, a rede televisiva americana CBS havia inserido, em seu programa semanal Climax!, um capítulo com a versão para a telinha de Casino Royale. O curta, com Barry Nelson no papel de Bond e Peter Lorre como Le Chiffre, não suscitou muita agitação e, visto com os olhos de hoje, é simplesmente caricato.
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Mas, a recém criada EON Productions Ltd, fazendo jus a seu nome, estava decidida a apostar. Com os direitos finalmente adquiridos, o que tinham de resolver era qual dos títulos de Fleming iria primeiro para os cinemas. Como Casino Royale, o livro inicial da lista, já fizera sua aparição na TV, Dr No foi o escolhido, por ter uma trama instigante e, em princípio, ser mais fácil e menos dispendioso para filmar. Tudo estava pronto para dar início à mais longeva e financeiramente exitosa franquia cinematográfica de todos os tempos. E a criação de um dos dois ícones britânicos que iriam marcar a segunda metade do século XX. O outro seriam os Beatles.
Faltava agora encontrar Bond.
O favorito de Harry Saltzman para o papel era o ator britânico Cary Grant. Havia, entretanto, dois impedimentos. Grant só se comprometia com um filme; e Fleming, caracteristicamente participando ativamente da escolha, era contra. Grant era Grant em todos os filmes que fazia e o escritor queria alguém que não eclipsasse o personagem. E ele já tinha definido com precisão o tipo físico de seu herói: esguio, olhos azuis acinzentados, cabelos curtos e negros, uma boca “cruel” até ao detalhe de uma cicatriz de 7,6 cm em sua face direita. Admitindo posteriormente que compusera Bond a partir de um amálgama de todos os agentes secretos e comandos que conhecera durante a Segunda Guerra Mundial, Fleming até desenhara o seu rosto para servir de guia à procura. Além disso, em alguns trechos de seus livros, Bond era fisicamente comparado a Hoagy Carmichael, um famoso compositor americano (só para referência, Carmichael foi um dos compositores de “Stardust”, um dos grandes sucessos da década de 1940).
JAMES BOND: DESENHO DE IAN FLEMING
HOAGY CARMICHAEL |
Broccoli, Saltzman e Fleming chegaram até a promover um concurso. O vencedor foi um modelo de 28 anos, chamado Peter Anthony. Infelizmente, Anthony não tinha jeito para representar. Continuaram a procura até convidarem um ator com experiência de teatro e cinema, mas pouco conhecido. Em 1962, o escocês Thomas Sean Connery fizera teatro e papéis subalternos no cinema, como por exemplo, o de um soldado trapalhão em The Longest Day (O Dia Mais Longo).
Connery compareceu à entrevista vestido com desalinho e com a barba por fazer, tipo seja o que Deus quiser. Mas acertou em cheio no tipo macho que estava na cabeça dos entrevistadores. Ao vê-lo caminhar para o seu carro, ao final do encontro, Saltzman comentou: look how he moves (veja como ele se move). Os outros dois concordaram.
Pronto. Haviam encontrado Bond.
(continua)
Oswaldo Pereira
Novembro
2021
e criaram o magnifico James Bond na pele do imortal Sean Connery
ResponderExcluirAbsoluto no papel.
ExcluirOla Oswaldo.
ResponderExcluirComo sempre sua pesquiza para saber como se originou a lendaria figura do escoses Sean Conery foi muito boa.
Vi todos os filmes dele e achei muito adequado ator.
Os outros James Bond nao convenceran tanto como o Sean.
Vai meus parabens por seu caprichoso trabalho.
Emilio Telleria
Que belo resumo!!!
ResponderExcluirOswaldo, Sean é um autor magnético, que encantou e tornou real todos os personagens. Pela sua descrição da escolha de um quase desconhecido para o ícone Bond, parece que o convencimento se estendia ao seu dia a dia. Parabéns por sua envolvente resenha.
ResponderExcluirSean Connery tinha receio de que sua imagem ficasse colada ao personagem. Foi o contrário...
ExcluirGostei! Gosto de saber de tudo (quase tudo) que este por trás da realidade e também da ficção. Parabéns Oswaldo!
ResponderExcluirObrigado Iran.
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