O
livro “Birds of the West Indies” (Pássaros das Índias Ocidentais) foi escrito
em 1936 por um ornitólogo americano e teve 11 edições. Seu autor era um reconhecido
expert no assunto, cujo interesse pelas aves começara cedo, ainda
adolescente, quando acompanhou o pai em uma excursão ao delta do rio Orinoco e
ao Amazonas. Especializando-se no estudo dos pássaros da região caribenha,
acabou por tornar-se referência, vindo a ocupar o cargo de curador de
ornitologia da Academia de Ciências da Filadélfia. E, fora do estreito campo de
sua especialidade, certamente teria ele passado despercebido pela cena mundial,
não fosse por um pequeno detalhe. Ele se chamava James Bond.
Em fevereiro de 1952, um ex-integrante dos serviços de inteligência da Marinha inglesa finalmente conseguira as condições ideais que o propiciavam exercer seu mais dileto passatempo. Num regime de trabalho junto ao jornal Sunday Times, que lhe permitia tirar regularmente os meses de janeiro a março de férias, ele começou a escrever. O tema de seu primeiro romance alicerçava-se na figura de um agente britânico, cuja imagem e peripécias eram inspiradas por sua própria e extraordinária carreira militar durante a Segunda Guerra Mundial.
Com a persona de seu herói firmemente delineada, só faltava um nome que, segundo sua concepção, deveria ser as ordinary as possible (o mais comum possível). Foi quando o livro de Bond caiu-lhe nas mãos. Estava resolvido.
James Bond e Ian Fleming encontraram-se apenas uma vez, em 1964, pouco antes da morte deste último. O ornitólogo sempre achou graça em ver seu nome transformar-se numa celebridade. Nessa visita, Fleming presenteou-o com um exemplar de You Only Live Twice e a seguinte dedicatória: To the real James Bond, from the thief of his identity (Ao verdadeiro James Bond, do ladrão de sua identidade). Em 2008, muitos anos após a morte de ambos, esse exemplar foi leiloado por US$ 86 mil.
O livro que Fleming iniciara em fevereiro de 1952, Casino Royale, foi publicado no ano seguinte, muito por influência de seu irmão mais velho, Peter Fleming, um já reconhecido escritor de livros de viagens, junto aos editores. E teve um sucesso relativo, acabando por receber 3 edições. Animado, Fleming seguiu em frente. Entre 1953 e 1966, foram 14 histórias do personagem, a saber:
Casino Royale 1953
Live and Let Die 1954
Moonraker
1955
Diamonds
Are Forever 1956
From
Russia With Love 1957
Dr.
No 1958
Goldfinger
1959
For
Your Eyes Only 1960
Thunderball 1961
The Spy Who Loved Me 1962
On Her Majesty’s Secret
Service 1963
You Only Live Twice 1964
E, publicados postumamente
Goldeneye 1965
Octopussy/The Living Daylights
1966
Até 1961, os livros vendiam bem, mas sem qualquer grande projeção e longe de serem best-sellers. Mas, a inescrutável mão do destino ia tudo mudar. Em março daquele ano, a revista LIFE teve como tema central uma entrevista com o então Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Perguntado sobre suas preferências literárias, Kennedy declarou que lera recentemente um ótimo thiller, intitulado From Russia With Love.
Pronto.
Estávamos em plena Guerra Fria, e o gênero spy novels, antes desprezado pelos puristas, estava explodindo. Foi instantâneo. Ian Fleming chegava ao olimpo.
Do olimpo a Hollywood, foi um pulo. Em 1962, a dupla de produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli resolvera surfar a onda dos filmes de espionagem e contatou Fleming. Ia começar a mais longa e exitosa série cinematográfica de todos os tempos.
(Continua)
Oswaldo Pereira
Outubro
2021
Nota: Este é o primeiro texto, de uma série que, para horror de alguns dos meus abnegados leitores, pretendo escrever sobre a filmografia de James Bond, neste ano em que a franquia chega aos 60 anos. God help us...