ATENÇÃO:
Este texto não contem estragantes (spoilers é o cacete...)
Não é o melhor da série. Prá já, do alto da minha autoproclamada cultura bondiana, posso citar outros melhores. On Her Majesty´s Secret Service, por exemplo. Ou Goldfinger. Ou, ainda, o extraordinário Skyfall. Mais pegada, mais malvadeza explícita dos vilões, mais epopeia. Mas, sem dívida, este longamente esperado No Time To Die não chega a decepcionar. Lá estão todos os ingredientes, todo o ritmo ritual, todo o cenário suntuoso, as frases e os gadgets, as tramas de fim do mundo e os diálogos velozes, tudo o que compõe esta fórmula vencedora que está prestes a comemorar 60 anos.
Mas, e principalmente, o que marcará este último filme da franquia é o definitivo descolamento da figura de seu protagonista do padrão de dureza e insensibilidade que estava em sua gênese. Ian Fleming moldou Bond um pouco em cima de sua própria persona de ex-agente e muito em cima dos ideais de masculinidade vigentes das décadas de 1950 e 1960. Uma mescla idealizada de rudeza e charme, ou de humor cáustico com truculência classuda.
O inexpugnável 007 de outras eras, em No Time To Die tornou-se humano, tem dúvidas e dores. Está sofrido e vulnerável. E apaixonado. E isto também se encaixa como uma luva na despedida de Daniel Craig do papel. Alvo de ferrenha desconfiança quando foi escolhido para o rôle em 2006 (como tinha cabelos claros, ganhou de caras a alcunha de James Blond), o ator britânico logo dissipou as desconfianças com uma convincente atuação em Casino Royale.
A partir daí, imprimiu sua marca ao papel. Hermético e caracteristicamente down to business, contrastava com a sofisticação elegante de Pierce Brosnan, seu antecessor. Aos poucos, entretanto, toda a aparente insensibilidade da interpretação foi abrindo brechas e um 007 se entregando a românticos anseios com as anteriormente descartáveis bond girls mudou o quadro.
Craig deixa o papel depois de 15 anos e cinco prestações, com um saldo altamente positivo. Aos 53, passa a batuta bem mais em forma fisicamente do que Connery ou Moore, já meio “pesadões” ao se despedirem do posto.
Voltando a No Time To Die, o filme certamente será lembrado por várias coisas, umas que fazem parte do enredo e outras determinadas pelo acaso. Dada a pandemia, que atrasou a sua estreia por quase dois anos, o intervalo entre lançamentos da franquia foi o maior até agora (6 anos). Várias cenas, inclusive, e por exigência de patrocinadores, tiveram de ser refilmadas para substituir gadgets cuja tecnologia havia sido ultrapassada. Além disso, com uma pauta de gastos em torno de US$900 milhões, é o mais caro Bond de sempre.
Mas, mais importantes são as novidades da trama. É claro que não vou adiantar nada aqui, mas há coisas preciosas (para os aficionados, evidentemente) como as citações. Há as explícitas, principalmente aquela a On Her Majesty’s Secret Service e sua belíssima canção tema (We Have All The Time In The World, na magistral e inesquecível interpretação de Louis Armstrong), e outra, na vinheta de apresentação, a Dr. No. Outras vão exigir um olhar mais atento do espectador mais iniciado. E uma grata surpresa, como Ana de Armas, irrepreensível na pele de uma agente da CIA.
Resumindo, vale a pena ver. Apenas recomendo que, antes, assista novamente a Spectre, o filme anterior, que funciona como um primeiro capítulo, já que as histórias estão interligadas.
Lembrando. No dia cinco de outubro de 1962, estreava em Londres a primeira produção da série (por coincidência, no mesmo dia foi lançado o primeiro single dos Beatles...). Assim, entramos no sexagésimo ano de vida da mais longeva sequência cinematográfica de um personagem de ficção. Uma proposta bem sucedida, sem dúvida.
Se
eu tiver tempo, e os meus abnegados leitores uma extraordinária dose de
paciência, proponho-me resenhar, ao longo dos próximos 12 meses, os 25 filmes.
Seja o que Deus quiser...
Oswaldo Pereira
Outubro 2021
Oswaldo, amigo velho, pra mim o melhor filma da seria ainda e From Russia with love, nunca fui muito fan desse Daniel Craig, ainda acho que o melhor Bnod foi Sean Connery
ResponderExcluirSem dúvida, foi um dos melhores filmes. E o velho Sean é imbatível...
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