Tem
sobrado pouco espaço. Como 95% das atenções continuam sendo divididas entre as
consequências sanitárias e políticas desta longa pandemia, parcos assuntos,
temas e notícias conseguem escapar desse empuxo gravitacional: o buraco negro
do qual nenhuma inspiração literária reluz.
A coisa ainda é mais grave do que se pensa. Mesmo que se procure enveredar por outros aspectos da vida, da Natureza ou do simples interregno entre o nascer e o pôr-do-sol, a que chamamos de dia, o eco do COVID parece tudo poluir. Mais potente que o próprio vírus, sua sombra agrava as conversas mais inocentes, contagia palavras e frases soltas ao vento, inocula o mais suave raciocínio com o gérmen da enxurrada diária que domina todos os meios em que a nossa percepção se apoia.
Fica difícil escrever. Mesmo que, depois de horas a espremer o cérebro, consiga-se parir (numa cesariana, é claro) um parágrafo ainda banhado em líquido placentário, e que a ele apliquemos a proverbial palmada, ele morrerá. O ar está tóxico. Uma apneia cruel o liquidará em segundos.
As mentes estão distraídas, ofuscadas. Os comentários caminham sempre para o mesmo mote. Não há mais isenção suficiente para falar, por exemplo, dos jogos da Copa América, ou da Eurocopa, ou ainda das Olimpíadas. Viu, houve aglomeração no Maracanã. E o estádio cheio em Budapeste? São uns loucos... Está aumentando o número de casos em Tóquio...
Não adianta. Após, se e quando tudo isto acabar, vamos ter de despoluir também nossas almas, nossas mentes. Um detox, uma fisioterapia cerebral, até que os colóquios voltem a ser apenas isto, alegres conversas sobre planos e aventuras, sobre o amor e seus mistérios, sobre o futuro, sobre a Vida.
Julho
2021
Assim seja ...
ResponderExcluirO vírus é apenas um acidente de percurso e nem tem tanta importância. A dificuldade está exatamente no homem. O modo como se posiciona diante de si mesmo e do outro na ânsia de dominar. Apartado de si e de seus semelhantes parece q só lhe resta, especular sobre a morte, como se dessa forma pudesse ainda! estar no controle. Comandar.
ResponderExcluirAnátemas da condição humana. Aliás, sempre achei que o projeto "Homem" não é lá essas coisas...
ExcluirSeu desabafo/manifesto atinge fundo a atual maior apreensão do ser humano, pelo menos o que ainda tem algum resquício de sensibilidade: a quebra da comunicação sadia entre pessoas, com ou sem divergências. Situação cada vez mais difícil e tensa.
ResponderExcluirQuando isto terminar, o detox poderá vir. Mas, vai levar muito tempo, até que tido volte ao normal.
ResponderExcluirMeu caro Oswaldo
ResponderExcluirA contaminação desse vírus , clinicamente, infecciona os pulmões em alguns casos. E, de forma perversa, em larga medida, a "contaminação" mais severa atinge as mentes. E nesse caso, não há perspectivas de cura no horizonte. Sublinho pontos do texto que, a meu sentir, definiram bem essa trágica quadra: "A coisa ainda é mais grave do que se pensa."; "O ar está tóxico.". E dos comentários de Ana Flores: "a quebra da comunicação sadia entre pessoas ..."; "Situação cada vez mais difícil e tensa.". Adiante, a despoluição das mentes será muito penosa.
Novas etiquetas, novos protocolos... Vai mesmo custar muito para a volta à "normalidade", o que quer que isto signifique...
ExcluirRetomando!
ResponderExcluirPor onde iremos?
E quando?
Ver-nos-emos?
Não sabemos
ExcluirO que e quando
Um dia seremos...
Passou dos limite qualquer entendimento da reação da humanidade com a Pandemônia, mas esse era o Alvo a ser atingido através do MEDO e da Propaganda MACIÇA, colocar todos de joelhos e obedientes.
ResponderExcluirAcho que mais do que ter atingido alguns pulmões, atingiu em cheio as cabeças.
Não há outro assunto, nas ruas, nas lojas, nos corredores, fora todas as pessoas de Máscaras onde quer que se vá e que instintivamente nos faz lembrar do assunto: Está na Cara de cada um.
Ao me encontrar com pessoas, eu já vou avisando: o assunto Pandemia está proibido, mas veja de qualquer forma até proibindo, já falei no assunto que quero evitar.
Sem saída e como digo sempre: Ser Humano Projeto que não deu certo.
bjs Zezé
Concordo integralmente. Estamos sem espaço. A máscara nos impede até de respirar direito. Um mundo de viciados em álcool-gel.
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