Qualquer analista político que
estude a cena brasileira deste século há de concordar que a eleição
presidencial de 2018 não foi um embate ideológico, uma escolha entre regimes
partidários ou programas de governo e, muito menos, um confronto direto entre Esquerda
e Direita, Conservadores e Progressistas ou qualquer outra dicotomia
político-filosófica. O que dominou o exercício do voto, naquele ano, foi a rejeição.
Depois de anos e anos vendo desenrolar sob seus olhos, e à custa do esfacelamento das infraestruturas de Saúde, da Educação, dos Transportes e da Segurança, o que ficou qualificado como o maior esquema de corrupção já montado no país, uma grande parte do povo brasileiro construíra um sentimento de repulsa, indignação e nojo pela classe de dirigentes que ocupava o Governo.
Após verificar que, na tenebrosa, e criminosa, contabilidade de Mensalões & Petrolões e negociatas com refinarias, uma torrente constante e imparável de recursos formados com o pagamento de impostos era desviada para suportar uma camarilha de canalhas, o contribuinte, e eleitor, partiu à procura de uma alternativa, qualquer que fosse ela, para tirar do poder quem comandava, ou, por ação ou omissão, permitia tal descalabro.
Esta necessidade foi preenchida por um improvável Jair Bolsonaro. Sem sustentação partidária, sem recursos de campanha, sem tempo de TV no horário gratuito, pouco conhecido fora dos meios políticos e castrenses, com um discurso extremado e truculento, Bolsonaro acabou sendo ungido pela adoção de milhões de brasileiros como a única opção visível no obscuro horizonte político do Brasil.
E, incorporando a esperança que nele havia sido depositada por mais de 50 milhões de eleitores, o novo Presidente tratou de segurar a chave do cofre, contrariando uma infinidade de interesses e criando imediatamente uma legião de adversários. A aposta destes adversários era de que sua permanência no cargo seria curta, que seu despreparo e sua agressividade acabassem por destruir o apoio inicial de muitos e que tornar-se-ia fácil removê-lo. Para melhorar suas chances, contavam com a concorrência explícita de seus políticos de cabresto, suas vozes de aluguel na mídia, nas Artes e na Academia e até da inestimável ajudinha dos ministros do Supremo que ali haviam sido colocados por eles mesmos.
De lá para cá, muita coisa aconteceu, inclusive e principalmente o ataque de uma pandemia como há cem anos não se via. E, mesmo dentro desse cenário conturbado, em que Saúde e Economia aparentemente pareciam recomendar enfrentamentos diferenciados da crise sanitária, não só aqui, mas em todo o mundo, a figura de Bolsonaro conseguiu convencer uma grande percentagem do país que ele era não somente mais uma alternativa, mas um caminho.
Muitas causas poderão ser apontadas para explicar este fenômeno. A meu ver, a mais preponderante delas é o próprio comportamento da oposição. A desastrada estratégia de tentar demolir a imagem do Presidente com ataques diários na imprensa, manobras politiqueiras no Congresso e ações exorbitantes do Supremo acabaram por desenhar para largas fatias da população a figura de um homem honesto e corajoso, embora tosco e às vezes deselegante, lutando sozinho contra forças desiguais. Um herói. Um mito.
Outro engano da Esquerda foi pensar que Lula fosse capaz de pesar na balança. A festejada volta de seu líder à corrida presidencial não desencadeou o frenesi esperado. O discurso da rentrée foi fraco, óbvio e pouco empolgante. Adicionalmente, o PT, praticamente derretido nas eleições para Prefeitos e vereadores do ano passado, ainda carrega o estigma da corrupção que praticou no passado recente.
O mais incrível para mim, é verificar que, apesar da crescente maré de apoio popular a Bolsonaro, a oposição ainda insista nos mesmos erros. Há certas atitudes que, de tão primárias e indefensáveis, fazem perceber o descontrole e a falta de visão de que padecem os seus adversários .
A instituição uma Comissão de Inquérito colocando homens com passado político pouco recomendável, com nítida falta de isenção e com o veredito acusatório já pronto na cabeça, como Omar Aziz e Renan Calheiros, no comando, a narrativa da grande imprensa, ignorando ou menosprezando as gigantescas manifestações pró-Bolsonaro ou enchendo os noticiários com ataques ao Governo usando frases e declarações descontextualizadas e preconceituosas e a resistência de um Ministro do Supremo contra o voto auditável são tiros que estão saindo pela culatra.
Será possível que eles, na sua cega investida, não tenham percebido que estes atos e tentativas, ao lado de muitos outros, estão, em vez de minar a popularidade do Presidente, enfurecendo ainda mais seus partidários e aumentando a profundidade de sua base de apoio?
Será que ainda não atinaram com o fato de que o eleitor de Bolsonaro está-se transformando em torcedor? Aquela paixão que leva à adoração incondicional e indiscutível?
Será quer não vislumbram o perigo? Já não digo nem de perderem a eleição do ano que vem. Haja vista as centenas de mega demonstrações de apoio maciço a Bolsonaro, qualquer esforço de interromper seu mandato ou um resultado adverso num pleito sem urnas comprováveis, pode se transformar em algo imprevisível, mas certamente traumático.
Oswaldo Pereira
Maio 2021