Melhor fora que não tivessem feito nada.
A cerimônia do Oscar (ou dos Prêmios da Academia, como preferirem) nasceu em 1928. No início, era uma festa privada. Só pessoas diretamente ligadas à indústria cinematográfica eram convidadas e a coisa toda transcorria num banquete.
Com o aparecimento da televisão, o evento ganhou os Estados Unidos, e depois o mundo, transformando-se, pouco a pouco, num acontecimento planetário e um must para quem gostava de cinema. Era uma oportunidade de ver seus ídolos quase pessoalmente, fora da fita, falando sem scripts, movimentando-se no palco e desprovidos da caracterização e da maquiagem que usavam para encarnar um personagem. Puxa, como está velho ou caramba, engordou... eram comentários nas salas de estar de espectadores espalhados pelo globo.
Confessadamente, sou um deles. Há mais de 40 anos, não perco uma. E de muito tempo para cá, a cerimônia definiu seu padrão. Monumentais teatros, palcos gigantescos, iluminações deslumbrantes, tapetes vermelhos, espetaculares números de dança e música, gente vestida a rigor e muito, muito glamour. Teve, também, de tudo. Discursos emocionantes, troca de envelopes, choros de alegria, quedas no palco, aplausos de pé e apresentadores geniais, outros nem tanto.
O que se viu ontem não foi nada disto. OK, há uma pandemia, 2020 foi ano tenebroso para o cinema. Mas, a solução que encontraram foi um desastre. Para já, o local escolhido. Uma mistura de lanchonete dos anos 50 com uma sala de bingo para idosos. Depois, o ritmo da premiação. Nos anos anteriores, adotou-se a regra de limitar o tempo dos agradecimentos, para que a ladainha não se estendesse muito. Pois ontem, isto foi abandonado. Cada agraciado levou o tempo que quis. Alguns foram comedidos, mas outros gastaram minutos infindáveis, contando sua vida desde o primário e citando, um a um, todos os participantes da produção, desde os cinegrafistas até o entregador de pizza, para não falar nas homenagens a familiares, desde as bisavós até os netos. Um saco!
Uma pena. Teria sido melhor pular este ano, desistir da cerimônia e enviar os Oscars por Sedex para os vencedores. Poupava tempo e dinheiro.
Oswaldo Pereira
Abril 2021