Com uma rapidez de dar inveja a muito
americano do Norte, o resultado das eleições municipais brasileiras estava
praticamente apurado antes que soasse a meia-noite do último dia 15, o próprio
dia do pleito. Mesmo um atraso pouco explicado com relação à cidade de São
Paulo e uma entrada de hackers no
sistema não impediram que, ao amanhecer de segunda-feira, analistas,
comentaristas, âncoras, colunistas e outros palpiteiros políticos já pudessem
nos inundar com sua interpretação esclarecida
dos humores institucionais da Nação.
Não sou, e nem quero ser, um analista
político. Desde quando me candidatei, e depois me arrependi, a representante de turma no primeiro ano
do Curso de Direito da PUC, que sempre senti um certo desconforto com os
meandros da vida política e com seu jogo furtivo e calculista.
É claro que entendo, e aceito, ser
impossível a existência hierarquizada de qualquer aglomerado social sem a
atividade política. Ela faz parte do DNA do que chamamos Sociedade Humana. O
problema é que ela leva à procura do poder. E este afrodisíaco pode transformar,
e tem transformado, a disputa pela preferência do eleitorado num campo
pantanoso e minado, onde alianças tornam-se conchavos, acordos travestem-se em armadilhas
e honestidade de princípios num vale-tudo de promessas vazias e descaradas
mentiras.
Mas, mesmo com toda esta alergia epidérmica
ao assunto, eu não posso e, como todo cidadão consciente, não tenho o direito
de abstrair-me do que acontece com a vida política da comunidade em que vivo. E
de oferecer, também, o meu palpite.
Acho que todo mundo concorda que foi uma
guinada para o Centro. Quem ganhou foi a política tradicional, a mesma que
prepondera sobre a Câmara e o Senado e ainda tem nas mãos a chave da
governança, apesar de todos os esforços estapafúrdios do Supremo Tribunal
Federal para legislar.
Muitos interpretam isto como uma derrota
para o Governo. Eu discordo. Bolsonaro, mui sabiamente, não se jogou de corpo e
alma neste pleito. Nem possui ele uma base partidária para tanto. Sua atuação
não passou da indicação, num twitter, de
alguns candidatos. E, se lembrarmos bem, muito antes de 15 de
novembro ele já sinalizava uma aproximação com o Centrão.
Outros alardearam o ressurgimento de uma
“onda vermelha”. Não consigo atinar onde viram isto. O PT simplesmente
derreteu. Algum avanço da esquerda veio do PSOL e do PC do B e, mesmo assim,
pontualmente e ainda não confirmado em São Paulo e Porto Alegre, onde a disputa
foi para o segundo turno. Dos municípios em que a eleição ficou definida, os
partidos identificados com a esquerda mais radical vão controlar menos de 5%.
Assim, o fato do pêndulo do poder
deslocar-se para o meio do espectro político acaba por sinalizar uma mensagem,
tanto para a esquerda como para a direita, com relação a 2022. Será que esta
polarização, tão ardente nas redes sociais e mantida candente pelo
comportamento irresponsável da mídia brasileira, arrefece na hora do voto ir
para as urnas?
Oswaldo Pereira
Novembro
2020
Também acho que o "sábio" ( há controvérsias ) PR Bolsonaro não perdeu nem ganhou nada nesta eleição. Afinal, não era candidato e não tem Partido ...
ResponderExcluirA tendência centrista desta eleição parece refletida nos resultados do PDT, retrato da Centro Esquerda: sem muito sensível alteração em relação à sua posição anterior. O derretimento eleitoral do PT, à esquerda, parece inaugurar um novo ciclo político. Também o derretimento do PSDB e do PSL aponta nessa direção.Em 2022 saberemos melhor se esta onda Centrista, impondo um certo amorfismo, deixará o Brasil sem vitalidade para enfrentar, encaminhar ou resolver os inúmeros e imensos agudos problemas estruturais que o afligem.Parece que, somando-se às tão citadas décadas perdidas, continuaremos perdendo tempo na caminhada que urge. Esperemos que não seja mais uma década ... Até porque o meu tempo de ver acontecer está se esgotando rsssss .....
Excelente análise! Este é realmente o grande medo. Que vença o "deixa estar para ver como é que fica"... Mas as consequências eu também só vou assistir do segundo andar (rsrsrs)...
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