Abril
trouxe mil e uma flores
Matizes
de vermelho, azul e rosaTingindo, em miríades de cores
Jardins, canteiros e, esplendorosa,
A própria Natureza, e o céu de amores.
Mas, presos num cruel confinamento
Perdemos para sempre esse momento
Em maio, o mar em branca espuma
Beijou, amoroso, a enseada
E todas as nereidas, uma a uma,
Dançaram nuas na praia enluarada
E Netuno, surgindo em plena bruma
Semeou de conchas a preamar dourada
Mas tolhidos pela infame pandemia
Nem sentimos o odor da maresia
Junho sempre foi o mês da festa
Dos balões e dos rojões, do solstício
Das fogueiras de Beltane, da seresta
Do céu sempre estrelado, do bulício
De crianças, cujo sorriso empresta
Mais beleza ao festival propício
Mas, fechados, tremendo, em nossos lares
Nada vimos dos Santos Populares
Oh! Julho, que sempre fostes belo
O auge do calor ou da invernada
(Dependendo, claro está, do paralelo
Em que se pode achar nossa morada)
Ao norte, deste o sol como um martelo
Ao sul, a cor cinzenta da geada
Mas, fosses tu fulgor ou vela
Só te vimos passar pela janela
Depois de tudo isto veio agosto
Tentando desmentir a triste fama
De ser o vil arauto do desgosto
Provou ser mais gentil que uma dama
Muniu-se de um sorriso em seu rosto
E fez-nos ver da esperança a chama
Mas, prenhes de notícias deprimentes
Apagamos a chama em nossas mentes
Agora vem setembro, e o tempo passa
Seis meses de prisão, rosto coberto
Pela máscara do medo, feia e baça
E do futuro sem saber, ao certo,
Quando enfim termina esta desgraça
E se um dia viverei a céu aberto
Sem medos, cuidados, quarentenas
Um homem sem temores. Livre, apenas.
Oswaldo Pereira
Setembro 2020
se a liberdade dependesse só disso, seria "fácil", mas escrever um texto como este,isso sim é liberdade, humor, atenção.Obrigada por nos levar onde não poderíamos estar.
ResponderExcluirEu é que tenha a agradecer este elogio tão gentil.
ExcluirLindooo Osvaldo muito bem escrito com bom humor. Obrigada por levsr essa pandemia com muita paz , e levar tambem por onde nao poderenos estar presente.
ResponderExcluirTemos de preservar o humor. Como dizia o sábio Millor Fernandes, o Homem é o único animal que ri...
ExcluirObrigado Oswaldo por mais esta pérola com que nos presenteia.
ResponderExcluirValeu, caro Zé.
ExcluirFantástico! Incrível! Extraordinário! senhor Poeta.
ResponderExcluirbjs Zezé
Obrigado, querida Zezé. Poesia, MESMO numa hora destas...
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