"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se
acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar...
Acreditei
nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal mundo não se acabou...
Ih! Vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou".
Composto pelo genial Assis Valente, e
cantado na voz de Carmem Miranda, o samba “E o Mundo Não Acabou” foi o maior
sucesso do Carnaval de 1920. Embalando uma festa que ficou consagrada como um
dos mais permissivos carnavais da crônica carioca (para o seu tempo), a música
definia o sentimento da época em todo o planeta. O mundo acabava de presenciar
duas inimagináveis catástrofes e a ideia prevalente era aproveitar o mais
completa e rapidamente o fato de se ter sobrevivido, antes que outro apocalipse
atacasse de novo. A Grande Guerra matara quase 10 milhões de pessoas. Mas a grande
assassina havia sido a mais cruel pandemia de todos os tempos, desde a Peste
Negra do século XV – a Gripe Espanhola.
Ninguém é capaz de precisar como ele apareceu,
mas, no início de março de 1918, os primeiros casos de infecção com o vírus Influenza A subtipo H1N1 surgiram num
acampamento militar em Kansas, Estados Unidos. O diagnóstico de um surto de
pneumonia não impediu que as tropas embarcassem para o teatro de guerra
europeu. Lá, num cenário de trincheiras lamacentas e de precária higiene, o
vírus espalhou-se rapidamente. Em outubro, quase todo o Continente Europeu fora
invadido pela doença, cuja letalidade era apavorante e não poupava nem soldados
nem a população civil.
Até então, com os países ainda
envolvidos no conflito e com os meios noticiosos sob rígida censura, a endemia
era mantida em segredo. As nações beligerantes temiam que seus adversários
tomassem conhecimento do alarmante número de baixas provocadas pela gripe. Só a
imprensa da Espanha, que se mantivera neutra na Grande Guerra, estampava as
manchetes sobre a avassaladora moléstia que ceifava cada vez mais vidas. Assim,
a hecatombe passou a ostentar o nome de Gripe Espanhola.
Foram 50 milhões de mortes, só no
Ocidente. Não há estatísticas sobre quantos morreram na China, no Japão, em
todo o Extremo-Oriente. Por isso, há hoje estimativas de que o número total de
vítimas fatais tenha chegado perto de 100 milhões.
Em 1919, a Gripe Espanhola chegou ao
Brasil. Apesar de o vírus já estar em sua versão menos letal, ainda assim dezenas
de milhares de brasileiros morreram. Muitos mais foram infectados, mas conseguiram
sobreviver, como a progenitora do escriba deste moribundo blog. Mamãe tinha dois aninhos quando pegou a gripe. Sua salvação
por um médico de Juiz de Fora, onde a família morava, sempre foi um ponto alto
da nossa crônica particular.
Cem anos são passados desde o Carnaval
libertário de 1920. Há ruídos de um outro vírus rondando o mundo. Mas, pelo
menos, no século que nos distancia da Espanhola a Medicina evoluiu. Espero que
o bastante para impedir outra catástrofe e permitir que, no Carnaval deste ano,
possamos cantar alegres e confiantes: “E o Mundo Não Vai se Acabar”...
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2020
"
Oi querido Ozzy!
ResponderExcluirQue números assustadores! Dá mais medo ainda desse corona. Pelo menos o Assis Valente nos dá um "alentozinho". Saudades de vocês. Beijo
Saudades também, querida Madá. Prontos para a "reentrée" no dia 6.
ExcluirDeus o livre de ter replay... assusta...beijos
ResponderExcluirVamos esperar que não. O alerta já foi dado e, pelo menos, há um esforço mundial para conter a epidemia.
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