sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

TOI 700 d

EXOPLANETA TOI 700 d


TOI 700 é uma estrela vermelha anã. Seu ponto alaranjado e luminoso faz parte do desenho estelar em que, em 1597, algum astrônomo renascentista, perscrutando o céu em seu telescópio primitivo, imaginou ter visto a imagem de um peixe. Sua primeira interpretação visual fez-lhe ver um espadarte. Mas, quando colegas seus começaram a elaborar um dos primeiros atlas celestes do século XVII, o pescado mudou de nome. No pergaminho em que o mapa da abóbada ganhou suas iluminuras, a constelação recebeu o nome batismal de outro peixe. O Dourado.

Como qualquer constelação que se preze, Dourado tem um extenso elenco de várias variedades de formas espaciais, como nebulosas, gigantes brancos, novas e estrelas moribundas.  E, claro, nenhuma delas está num mesmo plano de distância. Embora colaborem todas para formar a configuração pisciana imaginada pelos astrônomos quinhentistas, sua luz vem de profundidades diversas, algumas longínquas, outras nem tanto.

TOI 700 está “perto”. Cem anos-luz nos separam de seu pequeno sistema solar, uma tutimeia em termos de proximidades abissais. E seria apenas mais um sistema desimportante, não fosse por um pequeno detalhe.

Criado pela NASA, o satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), tem como missão exclusiva a procura de planetas fora do nosso sistema solar que apresentem condições de abrigarem vida. Quer dizer, vida no sentido daquela que entendemos, ou seja, de seres que dependam de água e metabolizem oxigênio e alimentos para manterem-se vivos. Demais categorias estão fora da jogada. É a célebre busca da resposta à pergunta: Estamos sós no Universo?

Muitos desses exoplanetas já foram identificados. Mas, agora em janeiro, TESS encontrou orbitando nossa vizinha TOI 700 um sério candidato ao clube. Batizado com o nome de TOI 700 d, o planeta flutua numa zona considerada habitável, isto é, com as adequadas condições de suportar algum tipo de vida. Sua distância de seu sol anão (40% menor que o nosso) o provê de temperaturas semelhantes às nossas e tudo indica que é capaz de conter água.

Fico imaginando... A imagem que nos chega de TOI 700 d tem um século. Se lá estiver agora alguém também nos espreitando, estará nos vendo em 1920. Um mundo saído da carnificina da Primeira Grande Guerra, com pouco mais de um bilhão de habitantes, desigual e incompreensível. Revoluções, anos loucos, avanços e retrocessos.

Daqui a mais ou menos 30 anos, as nossas primeiras emissões de rádio estarão chegando a TOI 700 d, provas incontestáveis da nossa presença e inteligência. Haverá lá alguém para nos ouvir? Terão eles a capacidade de, como seres tão ou mais desenvolvidos como nós, responder ao nosso zumbido? Ou serão eles ainda uma tribo de macacos, esperando para se transformarem em homo sapiens?

Quem sabe daqui a 30 anos teremos uma reposta?

Oswaldo Pereira
Janeiro 2019

2 comentários:

  1. Ah ! admirável mundo ... Não o Novo, o proposto por Huxley, nem o velho, este em que teimamos repetir nossas manifestações de estupidez ...

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    1. Qual serão as virtudes e os pecados dos habitantes de TOI 700d?

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