“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá
na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda
girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos
dominando de jeitos diferentes!”
Este é o texto do twitter que Carlos Bolsonaro, filho do Presidente brasileiro,
postou há dias, desencadeando uma tempestade de críticas raivosas na imprensa e
comentários ácidos que iam ao extremo de ver nesses dois parágrafos uma
indiscutível apologia dos regimes de exceção. Li, reli e li outra vez a
mensagem tuitada. E não pude deixar
de imaginar quais seriam as reações de ranger de dentes se ele tivesse postado,
por exemplo, o seguinte:
“A
democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais.”
Ou ainda:
“A
democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos
incompetentes.”
Para aqueles que ainda não as
reconheceram, estas frases foram ditas por dois grandes pensadores. A primeira
é de Winston Churchill. A segunda, de George Bernard Shaw. São citadas e
repetidas vezes sem conta, sempre com reverência à acuidade intelectual de
ambos seus criadores.
O problema é que Democracia não é só a
visão romântica das praças da Grécia Antiga, o povo reunido em torno de Péricles
votando se a Acrópole devia ou não ser construída. Democracia, ou o seu pleno
exercício, exige mais do que dá. Demanda muitas coisas. Educação e fervor
cívicos. Interesse perene pelas coisas públicas, a “eterna vigilância” definida
por Thomas Jefferson, a consciência do poder do voto, a cobrança inesgotável, o
acompanhamento incansável. Pelo que me é dado ver e ouvir nestes atribulados
dias e por este atribulado planeta, na maioria das sociedades políticas atuais,
esses atributos inexistem. Em grande parte do mundo dito democrata, a Democracia é apenas uma fantasia, um simulacro, uma
pantomima.
Tomemos Portugal, por exemplo. A grande
preocupação dos analistas políticos daqui não é especialmente com o resultado
das eleições legislativas do próximo dia 6. É com a abstenção. No pleito de
2015, ela foi de 44%. Ou seja, quase metade do eleitorado português renunciou
ao seu direito de escolher seus representantes. No meio do ano, para o Parlamento
Europeu, esta renúncia chegou a 70%. Em toda a Europa, há um desencanto com o
voto e, por consequência, um alargado distanciamento entre o povo e seus
representantes.
No Brasil, com o regime de voto obrigatório,
a abstenção é forçosamente pequena, mas a qualidade do voto também é. Por
vários anos, grande parte dos brasileiros desincumbiu-se da “chatice” de ir às
urnas num dia de praia com enfado e inconsciência. Muitos, minutos depois de
apertar os botões das urnas eletrônicas, sequer se lembravam do nome de seu
candidato.
Democracia não é só liberdade de votar.
Democracia pressupõe, em primeiro lugar, o desejo
de votar e a preparação consciente para identificar aquele que esteja mais
apto para defender as ideias de quem o escolhe. Representatividade é a palavra-chave da vida democrática. Além da
escolha qualificada, a representatividade só se mantem pela proximidade entre
eleitor e eleito, pela observação diária, pela cobrança permanente. Votar e
virar as costas é delegar um direito que não deve ser alienado.
Dá trabalho? Evidentemente. Mas, toda vez que uma sociedade escolhe
refestelar-se na preguiça institucional, no dar de ombros, a Democracia passa a
ser escrita com d minúsculo. Uma
coisa menor.
Oswaldo
Pereira
Setembro
2019
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ResponderExcluir?
ExcluirErros de digitação não toleráveis. Mas o que eu apaguei agora refaço.
ResponderExcluirSilêncio no pleito
Silêncio no peito
Vai ser bom, observarmos estes silêncios.
Mas, deve haver um jeito
ExcluirDe soltar a voz
O silêncio é o algoz
A foz, o fim
Um sonho desfeito...
Bem dito.
ExcluirObservar o silêncio não implica em silenciar.
C'est vrai...
ExcluirPenso que ainda necessitaremos de muitos anos para alcançar esse estágio de compreensão da verdadeira democracia. A percepção de que na democracia todos temos direitos, mas sobretudo deveres, anda bastante distante. Penso porém que estamos num momento de um despertar do civismo, sentimento muito importante para acreditarmos ser possível, sim, contribuir na busca por um país melhor. É uma pequena luz que se acende.
ResponderExcluirTentativa e erro. E nova tentativa. Este, dizem, é o caminho da perfeição. Porém, quanto tempo?...
ExcluirCada um tem a visão do que acontece. Só sete meses de governo saindo de tempos do "cada um faz o que quer". Acredito na democracia e não perdi a esperança de um melhor governo. Temos excelências dando seu tempo,seu trabalho,sacrificando suas famílias e nunca vi o povo tão otimista. Porque não esperar um pouco.Tantas coisas já estão acontecendo. Homens cultos e capacitados não deixariam o que faziam para servir a esse governo. Temos que admitir que estávamos no caos.....
ResponderExcluirA grande conscientização política no Brasil está acontecendo graças às redes sociais. E isto é um bom sinal. Mas, é preciso levar esta participação para as urnas. É lá, afinal, que se decide o futuro do país, na escolha eleitoral de prefeitos, governadores, vereadores, deputados e senadores. Um Presidente, sozinho, não pode fazer tudo.
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