Amanhã será 4 de abril. Para a maioria dos brasileiros que, de alguma forma e feitio, se interessam pelo futuro deste país, a data traz uma aura de expectativa. Amanhã, a Justiça desta terra se achará defronte a uma encruzilhada conceitual que poderá definir se estamos mesmo num Estado de Direito Legal ou Casuístico. Afinal, foram os próprios membros do Supremo Tribunal Federal que se auto conduziram para esta camisa de onze varas. Permeáveis a pressões, inconstantes em seus julgamentos e com os ouvidos abertos às ambições políticas, vários de seus ministros acabaram por permitir o julgamento esdrúxulo de um habeas corpus a um condenado em segunda instância. Rasgaram o Processo Penal e sua própria decisão de dois anos atrás.’
Será
um problema da data?
No
dia 4 de abril de 1968, três importantes curvas do destino deixaram marcas no
chão deste planeta.
Simultaneamente
lançado pela MGM no Warner Cinerama Theater, em Hollywood, e no Loew’s Capitol
em Nova Iorque, estreava 2001: Uma
Odisseia no Espaço. Fruto da reunião de dois imensos talentos, o escritor
de ficção científica Arthur C. Clarke e o realizador de cinema Stanley Kubrick,
o filme iria mexer com a cabeça de uma geração e inspirar uma descendência de produções
que seguem a mesma trilha até hoje. Clarke tinha apenas uma ideia na cabeça e
uma dúvida quando procurou Kubrick. Obcecado com a questão de por que uma
determinada tribo de macacos pré-históricos havia dado o salto quântico e
disparado na rota da evolução, o escritor ficou maravilhado com a solução do monólito
negro proposta pelo cineasta. Bingo!
No
mesmo dia 4, às seis da tarde, Martin Luther King estava na varanda do Lorraine
Motel, em Memphis, quando foi morto pela bala de um fuzil Remington modelo
760. As ondas de choque de seu
assassinato reverberaram por uma nação dividida pelos conflitos raciais e pela
guerra no Viet Nam. Mas, ele deixara uma mensagem e um recado. As batalhas
pelos Direitos Civis foram muitas, houve avanços e retrocessos, mas hoje
ninguém pode negar que a morte de King pôs os Estados Unidos no caminho de uma igualdade
de direitos cujas leis, embora ainda desrespeitadas por muitos, são um marco
contra o preconceito.
O
terceiro acontecimento faz parte da minha crônica pessoal. No dia 4 de abril de
1968, estava eu à espera de dois amigos para almoçarmos juntos. Morando em
Portugal, na época, viera ao Rio em férias, depois de mais de dois anos, e o
local mais adequado para o encontro, já que ambos trabalhavam no Centro, foi
a esquina da Avenida Rio Branco com Presidente Vargas. Para os mais esquecidos,
é a praça onde se situa a majestosa Igreja da Candelária.
Em
Portugal, vivia-se ainda sob o regime de Salazar. Aqui, era o Governo do Costa
e Silva. Eu apenas trocara ditaduras, mas, que diabos, eu estava em férias e
procurava ser apolítico.
A
primeira sensação de que algo estava errado foi um aumento rápido e prodigioso
de pessoas naquele local. E, não estavam de passagem. Vinham, e ficavam, como à
espera de algo. Quando dei por mim, estava cercado por uma multidão incalculável,
impedido de sair dali. Algumas faixas já apareciam. E, então, eu entendi. Era o
dia da Missa de Sétimo Dia de Edson Luis Souto, um estudante morto dias antes e
transformado, pela oposição ao Governo, num símbolo de resistência. Eu estava
preso numa página da História.
A
polícia veio, a cavalo. As cenas da dispersão na base de sabre e gás lacrimogênio
correram o mundo e, até hoje, fazem parte dos documentários da época.
Isto
tudo faz exatos 50 anos no dia de amanhã. 1968, um ano que para alguns não
acabou, iria cumprir sua sina de divisor de águas, nos Dias de Maio na França,
na Ofensiva do Tet no Viet Nam, no assassinato de Robert Kennedy, no massacre
de My Lai, no nascimento da Tropicália, no lançamento do Álbum Branco dos Beatles, na assinatura do AI-5.
E
2018, como será?
Oswaldo Pereira
Abril 2018
Se não pior, será como 1968. Afinal ( e cada vez mais ), este não acabou ....
ResponderExcluirValha-nos Deus...
ExcluirIncrível a sua memória e mais incrível ao ligar todos esses fatos ao dia 04/04 de amanhã. impossível prever o que acontecerá amanhã mas qualquer das decisões a meu ver trarão graves consequências ao pais.
ResponderExcluirbjs Zezé
Será um imprevisível cenário de confronto. Estamos entrando, a partir de hoje, num terreno perigoso...
ExcluirPor mais traumático que seja ainda estou torcendo para que o lógico aconteça, ou seja, que o processo legal seja respeitado. Melhor do que continuar nesse país de faz de conta para quem tem poder e dinheiro.
ResponderExcluirFelizmente, mesmo pela margem mínima, o bom senso prevaleceu. Uma homenagem às duas mulheres do Supremo.
ExcluirSim, tudo nos leva a crer que o processo legal será respeitado. Sinto que o povo na rua está mudando pouco a pouco a consciência do povo.
ResponderExcluirApesar do espetáculo midiático montado pelo PT, Lula vai ter de ir, mesmo, para a cadeia. E isto vai servir de aviso para todos os outros corruptos deste país. A hora deles também vai chegar...
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