Um mundo louco, alguns, ou muitos,
dirão. Lutas fratricidas na Síria, talibãs no Afeganistão, Maduro na Venezuela. Trump liderando o país mais poderoso do planeta confiando apenas nos volteios
de seus neurônios e nos 140 caracteres de seus twitters, rasgando acordos, jogando quedas de braço com a China,
com o Irã, com Kim Jong-un. O velho leão da Ilhas Britânicas tentando, em vão,
rugir como no século XIX, enquanto afunda suas patas cansadas no atoleiro do Brexit. Putin sonhando com Ivan, o
Terrível, e vendo-se Tzar ao olhar
para o espelho dourado do Kremlin. Profundas trincheiras ideológicas na Itália,
na Espanha, no Brasil.
Mundo louco... Sim, e os saudosistas
acrescentam, seus olhos molhados pela saudade do passado. Ah! no meu tempo..
Permitam-me contrariá-los, caros amigos.
Há 80 anos, num mês de setembro ainda verdejando o verão no Hemisfério Norte,
dava-se início a uma hecatombe sem precedentes na história humana. Embates
ideológicos, comerciais e sociais, os mesmos problemas que hoje nos afligem,
eram estopins de um imenso barril de pólvora, acesos com a invasão alemã à
Polônia. Todos jogaram-se de cabeça num redemoinho sem volta, entregando-se a
uma destruição insensata de vidas e de sonhos. Países destroçados, cicatrizes
de atrocidades inomináveis por toda a parte. 50 milhões de mortos, civis em sua
maioria.
Era assim que as divergências, as
contendas, as disputas, os desacordos eram resolvidos até a metade do século XX.
Com tanques, exércitos, belonaves, aviões e bombas. Muitas bombas. Até os
cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
E, mais do que a hipotética
magnanimidade dos donos do poder ou um improvável surto global de bom senso,
foi o medo atômico que passou a segurar as tropas em seus quartéis. Foi a
conscientização de que numa guerra nuclear todos perderiam, o grande preventivo.
Pelo bem ou pelo mal, com raras exceções
regionais, vivemos em paz. As bravatas de Trump e as contra-bravatas de Putin
vão para o lugar comum das manchetes mundiais. Os soldados são outros, são os
CEO’s das megaempresas, os master analistas
dos mercados financeiros, banqueiros mais poderosos do que imperadores romanos.
E, há mais. As batalhas comerciais estão saindo de cena. A guerra já está sendo
cibernética. A dominação será exercida pela capacidade de controlar a
informação e disseminá-la com a velocidade da luz. Corações e mentes, para não
falar em mercados e fortunas, serão conquistados ou perdidos na tela de um
celular. Pode ser desconfortável pensar nisto. Mas, ainda é melhor do que ver
um tanque entrando pela minha rua...
Oswaldo
Pereira
Setembro
2019
Excelente análise...gostei muito
ResponderExcluirValeu. Mas, quem é você, xará?
ExcluirGostaria de saber mais.
ExcluirAchava que ia ler mais do mesmo. Mas vc surpreende e resolvi ver se havia alguma identidade com o que ainda não verbalizei. Bingo! Vc acertou em cheio. Essa appartenance à l'humqnité en tant qu'être humain vivant de toutes les époques! Não estamoa melhores nem piores, mudamos de estágio mas continuamos uma só humanidade. Mais esclarecida porque convergindo para sermos uma única pessoa. Talvez o Deus que projetamos. E nesse emaranhado quântico vc se sai magnificamente como um escritor! Grande abraço.
ResponderExcluirDesculpe, um grande escritor!
ResponderExcluirAssim, meu caro amigo, eu fico à míngua de palavras para agradecer... "Muitíssimo obrigado" é o superlativo dos lugares-comuns. "Valeu!" soa-me minimamente desproporcional ao (indevido) elogio. Winston Churchill, após El Alamein, a primeira vitória britânica na Segunda Guerra, disse: "This has warmed the British heart in a cold long night". Seu comentário teve este efeito. Thanks.
ExcluirFoi fantástica a fala do Churchill. Visitei o navio onde ele passou bastante tempo durante a guerra mandando mensagens para muitos.Lá está em Londres.Impressiona ter comandado tantos naquele navio. Levei meu filho,então com 14 anos .Ele ficou tão encantado com tudo aquilo que foi muito dificil sair. É impressionante .
ResponderExcluirChurchill foi um dos maiores frasistas da História. Ninguém como ele soube dizer a coisa certa no momento certo.
ExcluirSinto também isso, "difícil dizer a coisa certa no momento certo".Poderíamos terminar tantos pensamentos, assuntos, verdades, mentiras se fosse fácil. E o melhor é que ninguém teria dúvida e ninguém diria: será que é isso ou aquilo ?
ResponderExcluirPois é. Ter a percepção de Churchill é para muito poucos. O que se ouve por aí, nos nossos meios políticos, então...
ExcluirA Humanidade apenas sofisticou, mas o ser humano continua o mesmo. bjs Zezé
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