“Real
power is – I don’t even want to use the word – fear” (O verdadeiro
poder é – eu até não quero usar a palavra – medo).
Esta frase foi dita por Donald Trump a
Bob Woodward numa entrevista em março de 2016. E é a abertura do último livro
deste, Fear, lançado no ano passado.
Acabei de lê-lo, e posso confessar que fiquei com medo. Não no sentido que
Trump quis dar, mas pelo que o relato de Woodward inspira, ou transpira, sobre
a personalidade errática, imatura e instável do Presidente dos Estados Unidos.
Woodward é um dos mais premiados e
respeitados jornalistas americanos. Sua fama começou há 48 anos quando, ainda
um jovem repórter do prestigiado Washington
Post, publicou, juntamente com seu colega Carl Bernstein, as reportagens
que iriam desaguar no histórico escândalo do Watergate e na eventual renúncia
de Richard Nixon. Seu livro sobre o acontecimento, All The President’s Men (Todos Os Homens do Presidente),
transformou-se num dos maiores sucessos editoriais do mundo inteiro e acabou
sendo levado para as telas. De lá para cá, Bob Woodward já publicou 19 livros
sobre a cena política americana e extensas avaliações das administrações de
Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama. Credenciais não lhe faltam.
O Donald Trump que emerge das suas
páginas é um indivíduo quase paranoicamente egocêntrico, avesso a conselhos e
opiniões alheias, desrespeitoso com assessores e perigosamente impulsivo nas
decisões que toma. Como a maioria dessas decisões carregam em si o peso de
mexer com a ordem mundial, avalie-se o risco. Contra a recomendação da quase
totalidade de seus secretários e conselheiros civis e militares, gente da
melhor competência que foi cruelmente destratada por ele, Trump tem rasgado
acordos, insultado aliados, quebrado protocolos da liturgia do cargo, abusando
do impromptu em seus contatos com a
grande imprensa (a quem acusa de persegui-lo) e nas explosões às vezes infantis
que despeja nos seus twitters.
No primeiro capítulo de Fear, Woodward relata a fixação de Trump
na extinção do KORUS, o acordo entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul,
firmado há mais de 50 anos. O dinheiro gasto na manutenção de 28.000 soldados
americanos na península e um generoso favorecimento comercial aos coreanos eram
as razões do Presidente. Muito embora sua assessoria em mercado internacional e
os chefes militares tivessem contra argumentado que o preço era pequeno dado o
acesso que, pelo acordo, os americanos tinham à inteligência sul-coreana e à possibilidade de detectar o lançamento
de mísseis da Coreia do Norte em apenas 3 segundos (versus 15 minutos na base de Portland, no Alasca), Trump bateu o
pé. Mandou preparar a carta de revogação do KORUS. Que só não foi assinada
porque seu secretário particular retirou-a da pilha de papéis da escrivaninha
do Salão Oval, valendo-se de outra característica da personalidade do
Presidente. Trump tende a esquecer rapidamente das suas instruções, não tem
agenda e nem sentido de follow-up. O
KORUS continua em força até hoje.
O livro termina em meados de 2018. Desde
então, temos presenciado a guerra comercial com a China, a briga com a NATO, as
idas e vindas dos encontros com Kim Jong-un, as ameaças ao México, a denúncia
do acordo nuclear com o Irã, a marcha do inquérito sobre a influência dos hackers russos no processo eleitoral.
Rajadas de vento que perturbam as águas da estabilidade global.
No ano que vem, novas eleições
presidenciais. Paralelamente a tudo o que Woodward nos mostrou, os Estados
Unidos estão crescendo a níveis mais altos do que nos anos anteriores e o
desemprego caiu significativamente. Será o suficiente para que o eleitor
americano queira repetir a dose?
Oswaldo
Pereira
Junho
2019
Cão que ladra não morde. Será?
ResponderExcluirDepende do cão...
ExcluirDifícil , muito difícil avaliar. é forte para o americano o crescimento que acontece nos Estados Unidos. O americano, povo, tende a se incomodar quando mexe no bolso dele, para menos....
ResponderExcluirHá ainda algum tempo, vamos esperar.
Trump lançou hoje sua campanha para a reeleição. O adversário mais provável dele será Joe Biden. Os democratas continuam a apresentar candidatos sem carisma, o que pode lhes sair caro outra vez.
ExcluirApesar do Woodward, eu acredito que o Trump esta sendo um bom presidente para os USA, pelo menos é isso também que dizem meus amigos americanos, republicanos, que estão vendo o crescimento econômico do pais : mais emprego, maior poder aquisitivo, etc.
ResponderExcluirInfelizmente tem sempre aqueles que querem desestabilizar o governo ...
Se a Administração Trump for um sucesso, estará inaugurada uma nova maneira de governar. E o resto do mundo vai ter de aprender a conviver com ela...
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