segunda-feira, 13 de maio de 2019

CENÁRIO DE GUERRA



Atravessa-se o Atlântico e é como se um protetor de ouvidos amortecesse os sons. O eco das vozes enraivecidas perde-se na distância, ainda que o Face insista em avivá-las. Mas, apesar da lonjura arredondar as imagens, é na relativa quietude política de Portugal que se evidencia a excessiva polarização da vida partidária brasileira.

Não que aqui seja uma mansidão republicana. Este é um ano de eleições legislativas, aquelas que decidem a formação do Parlamento e, por consequência, quem vai ocupar o cargo de Primeiro Ministro. Há várias décadas, Portugal vem sendo governado por um pêndulo que oscila entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). Em que pese alguma divergência, principalmente na escolha das alternativas fiscais e orçamentárias, há uma grande convergência na adoção da social democracia, regime, aliás, de eleição de quase todos os países do bloco europeu. Os partidos à esquerda e à direita desse espectro servem apenas como contraponto e têm um breve protagonismo quando compõem alianças com os partidos maiores.

É claro que há discursos inflamados, acusações de má administração de parte a parte, embates no Congresso, tricas e futricas na imprensa. Mas a margem de antagonismo é estreita. No fundo, os princípios básicos da organização do Estado e o arcabouço do funcionamento da máquina governamental não estão em causa. O ajuste é fino, o balançar do pêndulo de somente alguns graus.

Comparado a isto, o Brasil é hoje um cenário da Grande Guerra. O campo das opiniões é um teatro de trincheiras opostas, que se encaram no dia a dia das redes sociais. Há tiroteio entre partidos, morteiros cruzando o ar no Judiciário, sabotagens e artilharia pesada em vários escalões, terrenos minados por toda a parte.

Só que, contrariamente à Primeira Guerra Mundial, terminada em novembro de 1918 com a vitória da França e seus aliados, a nossa, do jeito que está, não terá vencedores. Mas, certamente, terá um perdedor. O Brasil.

Oswaldo Pereira
Maio 2019

6 comentários:

  1. Bolsonaro está nos States recebendo homenagens,visitando ex presidente dos States
    e pelo que se viu, aceito por uma maioria que, não se sabe o que é essa maioria.
    O importante é ser bem recebido. Esperamos para ver o depois.

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  2. Jose AntonioS. Bordeira21 de maio de 2019 às 19:51

    Meu caro.
    De fato, o ruído dos "tiroteiros" eleva-se. O Congresso, o STF e o STJ não estão preocupados com os destinos do país. E a imprensa também não. Nada os sensibiliza. O governo tem sofrido sucessivos reveses no Congresso e a imprensa insisti que falta "articulação" do Executivo. As derrotas do Executivo, no Congresso, comprometem as reformas que o governo quer implementar, que são indesejadas por expressiva parte do Congresso e do Judiciário. O presidente, ainda que bem intencionado, é castigado impiedosamente pela imprensa por sua incontinência verbal. Um cenário de guerra que o jornalista Fernão Lara Mesquita, no Estadão de hoje (21/5), sintetizou: "Não é o Brasil que está em discussão. O Brasil e só o prêmio dessa disputa".

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    1. Caro Zeca,
      Nas últimas décadas, o Brasil, mercê do binômio corrupção & deseducação, vem marchando inexoravelmente em direção a uma ruptura da sociedade. Hoje já temos várias classes distintas. Os políticos, empenhados em enriquecer ilicitamente, os empresários, que para fazer vencer seus negócios no cipoal de propinas e burocracia entram na dança da corrupção, um judiciário venal inatingível em sua impunidade obscena. E o povo, dividido entre os que ainda sonham com um futuro viável e os que querem, sem até saber bem porque, continuar no caminho para o desastre. Estamos à beira de perder a Esperança.

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    2. Jose Antonio Simões Bordeira23 de maio de 2019 às 12:06

      Meu caro.
      Exatamente. Estamos perdendo a Esperança. Muito preocupante.

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  3. Temos que lutar, não podemos nos entregar.Temos liberdade de expressão e devemos usá-la.

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