Atravessa-se o Atlântico e é como se um
protetor de ouvidos amortecesse os sons. O eco das vozes enraivecidas perde-se
na distância, ainda que o Face
insista em avivá-las. Mas, apesar da lonjura arredondar as imagens, é na
relativa quietude política de Portugal que se evidencia a excessiva polarização
da vida partidária brasileira.
Não que aqui seja uma mansidão
republicana. Este é um ano de eleições legislativas, aquelas que decidem a
formação do Parlamento e, por consequência, quem vai ocupar o cargo de Primeiro
Ministro. Há várias décadas, Portugal vem sendo governado por um pêndulo que
oscila entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). Em
que pese alguma divergência, principalmente na escolha das alternativas fiscais
e orçamentárias, há uma grande convergência na adoção da social democracia, regime,
aliás, de eleição de quase todos os países do bloco europeu. Os partidos à
esquerda e à direita desse espectro servem apenas como contraponto e têm um
breve protagonismo quando compõem alianças com os partidos maiores.
É claro que há discursos inflamados, acusações
de má administração de parte a parte, embates no Congresso, tricas e futricas
na imprensa. Mas a margem de antagonismo é estreita. No fundo, os princípios
básicos da organização do Estado e o arcabouço do funcionamento da máquina
governamental não estão em causa. O ajuste é fino, o balançar do pêndulo de
somente alguns graus.
Comparado a isto, o Brasil é hoje um
cenário da Grande Guerra. O campo das opiniões é um teatro de trincheiras
opostas, que se encaram no dia a dia das redes sociais. Há tiroteio entre partidos,
morteiros cruzando o ar no Judiciário, sabotagens e artilharia pesada em vários
escalões, terrenos minados por toda a parte.
Só que, contrariamente à Primeira Guerra Mundial, terminada em novembro de 1918 com a vitória da França e seus aliados, a
nossa, do jeito que está, não terá vencedores. Mas, certamente, terá um
perdedor. O Brasil.
Oswaldo
Pereira
Maio
2019
Bolsonaro está nos States recebendo homenagens,visitando ex presidente dos States
ResponderExcluire pelo que se viu, aceito por uma maioria que, não se sabe o que é essa maioria.
O importante é ser bem recebido. Esperamos para ver o depois.
Vamos esperar...
ExcluirMeu caro.
ResponderExcluirDe fato, o ruído dos "tiroteiros" eleva-se. O Congresso, o STF e o STJ não estão preocupados com os destinos do país. E a imprensa também não. Nada os sensibiliza. O governo tem sofrido sucessivos reveses no Congresso e a imprensa insisti que falta "articulação" do Executivo. As derrotas do Executivo, no Congresso, comprometem as reformas que o governo quer implementar, que são indesejadas por expressiva parte do Congresso e do Judiciário. O presidente, ainda que bem intencionado, é castigado impiedosamente pela imprensa por sua incontinência verbal. Um cenário de guerra que o jornalista Fernão Lara Mesquita, no Estadão de hoje (21/5), sintetizou: "Não é o Brasil que está em discussão. O Brasil e só o prêmio dessa disputa".
Caro Zeca,
ExcluirNas últimas décadas, o Brasil, mercê do binômio corrupção & deseducação, vem marchando inexoravelmente em direção a uma ruptura da sociedade. Hoje já temos várias classes distintas. Os políticos, empenhados em enriquecer ilicitamente, os empresários, que para fazer vencer seus negócios no cipoal de propinas e burocracia entram na dança da corrupção, um judiciário venal inatingível em sua impunidade obscena. E o povo, dividido entre os que ainda sonham com um futuro viável e os que querem, sem até saber bem porque, continuar no caminho para o desastre. Estamos à beira de perder a Esperança.
Meu caro.
ExcluirExatamente. Estamos perdendo a Esperança. Muito preocupante.
Temos que lutar, não podemos nos entregar.Temos liberdade de expressão e devemos usá-la.
ResponderExcluir