terça-feira, 22 de janeiro de 2019

PAPO DE BAR: ÀS ARMAS...




«Prá que que eu fui voltar...»

«Antonia! Mal chegou e já está reclamando?»

«Pois é, não estava mais aguentando o Trump. E depois da derrota do PT, resolvi voltar para o Rio. Mas, mal chego...»

«Qual é o problema? Você não sente a renovação no ar? Menos ministérios, pessoas técnicas em suas áreas substituindo as indicações políticas, enxugamento da máquina, reformas sendo propostas... Não é um começo saudável?»

«É... pode ser... mas esta da liberação das armas me derrubou. Que insensatez é essa?»

«Insensatez?! Prá começo de conversa, o que houve foi uma flexibilização maior de um direito que sempre existiu. A posse de armas nunca foi proibida, desde que atendidos os regulamentos de registro e propriedade. Pensando bem, a nova legislação até aperfeiçoa o que antes havia. Agora, o cidadão tem de ter seus antecedentes examinados, precisa fazer um curso de uso da arma, tem de ser morador em áreas estatisticamente perigosas. É um avanço.»

«O inferno está cheio de boas intenções, Cezar. Você acha mesmo que este protocolo todo vai ser observado tintim-por-tintim? Como diz o Batman, santa ingenuidade...»

«Ora, por que não acreditar? E não me diga que você concorda com a situação que temos, os bandidos com um bruto arsenal e a sociedade desarmada?»

«Claro que não concordo, mas o que se está fazendo é uma inversão de valores. É como aquela história de dois garotos preparando-se para uma briga. Um deles tem um porrete nas mãos. O que você faz? Tira o porrete da mão dele, ou dá um porrete também para o outro? O que podia ser uma briguinha de socos e pontapés transforma-se numa coisa muito mais violenta e perigosa... O que o Governo tem de fazer é acabar com a bandidagem e garantir a segurança do cidadão comum.»

«Não me venha com fábulas. A bandidagem, como você chama, não acaba assim, de uma hora para outra. É evidente que o Governo também vai ocupar-se disto, mas leva tempo. Tem de se tentar tudo para assegurar a defesa do povo. Dar-lhe um meio de se defender pode inibir as ações de violência da criminalidade.»

«É, mas em compensação, a violência doméstica pode aumentar. Com o feminicídio nos níveis em que já está, o que impede um marido bêbado de usar seu revólver contra a mulher ou, numa discussão acalorada de uma reunião de condomínio, um cabeça quente ir até seu apartamento e voltar com um pau de fogo na mão? O povo, que você quer ver defendido, não é composto de santos justiceiros e bem-intencionados. É gente, às vezes com os nervos à flor da pele. E, please, não me venha com a alegoria do liquidificador do Lorenzoni...»

«Bem, o que ele quis dizer é que a culpa da violência não é só da arma. Quando o indivíduo é mau, ele irá praticar um ato violento com ou sem arma. Por outro lado, o cidadão de bem, armado, terá a chance de se defender e proteger sua residência.»

«Agora, você me confundiu. Você acha mesmo que o seu cidadão de bem, mesmo com suas eventuais aulas de tiro, vai ter alguma chance contra um bandido que entra na sua casa? O ladrão convive diariamente com a sua arma. É sua ferramenta de trabalho. E você, no recesso de seu lar, não anda todo o tempo com a sua na cintura, feito um cowboy. O bandido já entra com a dele na mão. E se você tiver crianças em casa e, de acordo com a nova legislação, for obrigado a guardar a sua em um cofre? Imagine a cena. Ó seu ladrão, espere um pouquinho enquanto eu acerto a combinação do segredo e...»

«Você, então, é adepta do nunca reagir, política adotada nestes últimos anos... E que nos trouxe à situação de hoje, uma sociedade com medo, à mercê de qualquer borra-botas, às vezes até desarmado, que infunde um terror tão grande que as pessoas entregam tudo sem discutir...»

«Não sei, não sei... Tem de haver uma solução. Só acho que esta não vai funcionar.»

«Vamos ver. As estatísticas vão nos dizer...»

«Desde que nós dois não façamos parte delas...»

Oswaldo Pereira
Janeiro 2019

5 comentários:

  1. Depende do povo a que se dá o direito da posse. Os suíços são armados até os dentes e não me parece que lá não tenha ocorrido qualquer efeito nocivo. Aí, já sem o direito, o recorde é olímpico! Feliz ano novo. Grande abraço.

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    1. A palavra mágica é Educação... De "Deseducação" somos mesmo os campeões mundiais...

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  2. Com certeza somos subdesenvolvidos também nesta questão. E concordo que precisamos muito da palavra mágica para termos qualidade de vida! bravo!

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    1. Temos de encontrá-la, antes que seja tarde e irreversível...

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  3. Não sei o que exigem para o porte de arma. Dependerá disso. Certamente as pessoas criteriosas poderão ter e será uma proteção. Sempre tivemos armas em casa, nas fazendas e nada errado aconteceu.Eu fui presenteada com uma pequena e linda arma, uma verdadeira joia, e dei de presente para parente que usa, sabe usar.Sou a favor do porte e atualmente é uma proteção.

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