A 12 quilômetros
a oeste da cidade de Ushuaia, o Parque Nacional Tierra del Fuego é um dos lugares
mais visitados da região. Dentro de seus 630 km², situa-se uma
lindíssima baía, cujo nome, Lapataia,
significa “baía do bosque”, no idioma dos índios yáganes. Na realidade, a baía é um fiorde da margem setentrional do
Canal Beagle e marca o limite ocidental da fronteira entre a Argentina e o
Chile. No caminho que leva às suas águas, num painel em madeira, está escrito o
seguinte: “Aqui finaliza la Ruta no. 3 –
Alaska 17.848 km.” Para os caminhantes
de todo o mundo, é um lugar de reverência. La
Ruta no. 3 é o trecho final da Estrada Panamericana, cujo início fica no
extremo norte do Continente. E é aqui que ela termina. No fim do mundo.
Vir para estes
confins da Patagônia é uma viagem que atrai cada vez mais os turistas. De
barco, como fizemos, ela começou em Santiago, uma capital abençoada pelos
vinhos e pela brisa constante do Pacífico. Daí, é sempre para o sul, com as
latitudes aumentando e os dias, neste verão meridional, também.
Dizem que
descrever a Patagônia é tarefa para uma vida. Eu discordo. A verdade mesmo é
que é impossível. O que a gente pode fazer é tirar centenas de fotos, selfies para convencer-nos depois que realmente
estivemos lá, e tentar guardar na memória os poentes infinitos, as manhãs
primordiais, os horizontes sem fim, as montanhas serenas e as noites
estreladas. Em qualquer ordem...
Mas, para não
deixar a minha dezena de leitores com uma ponta de frustração, aqui vão algumas breves
anotações.
Puerto Montt
SALTOS DO PETROHUE |
É
a região dos lagos, com uma forte pincelada de arquitetura germânica. Se você
estiver distraído, vai pensar que acordou na Baviera. Só que há vulcões por
perto. O Osorno pode estar coberto de neve, mesmo no verão, mas não se engane. Sua
classificação é ainda de vulcão ativo. E
não deixe de ir aos saltos do rio Petrohue, onde o azul das águas e o branco
das espumas oferecem um espetáculo deslumbrante de cascatas e corredeiras. Se
ainda houver tempo, alugue um barco e dê uma volta pelo Lago Todos los Santos.
Seu apelido é Lago Esmeralda. É só
olhar para a sua superfície e perceber o porquê.
Punta Arenas
Aqui
você chegou a uma página da história. Para aportar em Punta Arenas, é preciso
entrar no Estreito de Magalhães. E, enquanto o barco singra placidamente entre
as montanhas, sentir a saga do navegador português, indo rumo ao desconhecido e
à glória em sua nau quinhentista. Mas, nem só de história vive o homem. É a
hora e o lugar para saborear um must culinário
destas plagas. Uma centolla, ou,
traduzindo, a imensa santola que é um ícone da gastronomia patagônica...
ESTREITO DE MAGALHÃES |
Ushuaia
A
Terra do Fogo é uma imensa ilha, dividida entre Chile e Argentina. O Canal
Beagle, de que falamos acima, banha a parte norte da ilha. Deve seu nome a um
navio, famoso por ter transportado até aqui Charles Darwin e sua prodigiosa
curiosidade. É uma região lindíssima. E esta, caros amigos, não dá mesmo para
descrever. Sorry... Mas, contentem-se
com esta foto que tirei, ao mesmo tempo em que saboreava a deliciosa cerveja
feita aqui. E que também se chama Beagle...
Cabo Horn
Desde
o século XVI até o advento dos grandes oceanliners
modernos, a simples menção a este nome era o suficiente para gelar o sangue
dos mais intrépidos marinheiros. O mau humor constante do tempo, as traiçoeiras
correntes, os ventos assassinos e as rochas submersas fizeram do Horn um cemitério de navios. Cruzá-lo e
sobreviver era tão raro que ao pirata que conseguisse passar incólume era
concedida a honra de poder usar uma argola de ouro na orelha esquerda. No dia
que atravessamos, o mar estava misericordiosamente manso. Mesmo assim, eu quero
a minha argola...
CABO HORN |
Falklands
Ou
Malvinas. A disputa tem origem no século XVI e, até hoje, persiste. Da guerra
de 1982 entre a Grã-Bretanha e a Argentina restam memoriais e minas ainda
espalhadas em algumas praias. O perigo está mapeado e não atrapalha em nada um
lindo dia de verão em Gypsy Cove, onde pinguins desfilam nas areias brancas com
a solenidade de lordes ingleses em passeio dominical. Port Stanley, a capital, continua
britânica até a medula, com direito a pub
e fish & chips...
Puerto Madryn
A
cidade é a porta de entrada para a fascinante Península Valdés, paraíso dos
guanacos, das ovelhas, de mais pinguins e de leões e elefantes marinhos. Para
vê-los, é preciso rodar horas entre estâncias espalhadas num horizonte
totalmente plano e de vegetação baixa. É claro que vale a pena. Enseadas
recortadas entre o mar cor de anil e rochas fossilizadas abrigam várias
populações destes simpáticos animais do mar, cuja aparente ocupação principal é
espreguiçar-se ao sol e posar para as nossas fotos.
PINGUINS NA PENÍNSULA VALDÉS |
Dias
de 18 horas de luz, pôr do sol no mar, neve nos cumes, vales profundos,
planuras até onde a vista alcança, paisagens que parecem recém-nascidas. A
Natureza mostrando sua força e sua poesia. Isto é a Patagônia. Um destino certo
no fim do mundo.
Oswaldo Pereira
Janeiro 2018
Hola Oswaldo, tu report es maravilloso, como siempre: me hace sentir como si hubiera estado allì con tigo.
ResponderExcluirUn abrazo muy fuerte
Gianna
Gracias, querida. Es una región verdaderamente increible.
ExcluirNavegar é preciso. ..viver.....
ResponderExcluir...não o é. O interessante desta frase é que o termo "preciso" não indica necessidade e sim exatidão, certeza, a indicar que a arte de navegar implica em fazer tudo certo. Assim me disseram. Assim eu acreditei.
ExcluirSim, será que eles tinham certeza ?Cabral mudou a rota por causa dos ventos.E,dizem que, achou o Brasil! Que já era conhecidos dos espanhois.
ExcluirNão podemos saber a verdade, eles queriam terras e será que tinham certeza ?Tudo pode ser.
Fiquei encantada com esta terra descrita por você. Leio bastante e nunca tive vontade de conhecer, agora, estou quase de mala arrumada...Obrigada.
Sim, exato e necessário. A frase é de um português,né? Enquanto navegantes sabiam bem o que queriam na Terra e nos Mares tão vastos.
ResponderExcluirVastos e nunca dantes navegados. Foram heróis numa dimensão que desafia palavras. O que os terá inspirado? Que vinho mágico terão bebido?
ExcluirO vinho sem dúvida, a geografia e talvez o idioma. Uma língua sem a aspereza do espanhol. Com a doçura capaz de convencer o interlocutor, além das palavras.
ExcluirA língua portuguesa é o seu maior legado. Existir um continente chamado Brasil que, embora cercado de "habla española", fala exatamente a mesma língua do Oiapoque ao Chuí, é o maior milagre de Portugal.
Excluir😊
ResponderExcluirSeu descrever, contar e sentir é tão incrível que eu,
ResponderExcluirjamais tivera vontade de ir para aquelas bandas e depois de tudo que li, claro, envolvida pelo sentimento que você sentiu e descreve saindo da alma, penso fortemente em conhecer este fascinante mundo. E, tão perto de nós.
Não deixe de ir. É tudo o que você aprecia.
ExcluirMuito bom e perfeitamente descrito!
ResponderExcluirValeu!...
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