Foi há 50 anos. Um dos conflitos armados mais breves da
História começou no dia 5 de junho de 1967. No dia 11, tudo estava acabado. E
os motivos para esta guerra relâmpago vinham de longe. Muito longe.
Os egípcios ainda eram
os reis da civilização quando os judeus, no êxodo total liderado por um bíblico
Moisés, chegaram às portas de Canaã. Numa data que os historiadores colocam
entre 1180 e 1150 a.C., Josué e os israelitas, vindo de onde hoje situa-se a
Jordânia, empurrando os filisteus para o sul e os fenícios para o norte,
entraram na terra prometida por Abraão à sua descendência. Ficaram por dez
séculos, até serem dispersados pelos romanos, e sofrerem as desgraças da
diáspora por outros vinte. Os árabes a reocuparam, até que, em 1948, no
rescaldo da Segunda Grande Guerra e no remorso do Holocausto, a ONU criou o
Estado de Israel.
Criou também um
monumental pomo de discórdia. Desde o primeiro instante de sua existência, o
novo país viu-se enredado na polêmica sobre quem tinha direito àquela terra e
no vórtice da incompatibilidade religiosa de duas fés irreconciliáveis.
Cercados pelos árabes,
determinados a revogar pela força a decisão da ONU, os israelenses sobreviveram
por um fio no final da década de 1940. Em
1956, durante a crise do Canal de Suez, o novo país e o Egito voltaram às
armas, com Israel reagindo ao fechamento do Estreito de Tiran, crucial para a
sua navegação, pelos egípcios e levando a guerra até a península do Sinai. Com
a intervenção da ONU e a criação de uma força multinacional para supervisionar
as zonas de conflito e arrefecer os ânimos, a paz voltou.
Mas era uma paz
inquieta, ou, no mínimo provisória. A chama lenta de uma incompatibilidade
milenar continuava ardendo, agora polarizada pela Guerra Fria. Era uma questão
de tempo. Ou de pretextos.
No início de junho de
1967, os pretextos começaram a aparecer por todo o lado. Egito e Síria, unidos
desde a malograda criação da República Árabe Unida, fecharam um pacto militar
com a Jordânia, praticamente cercando Israel. No dia 4, instigado pelos
soviéticos, que lhe asseguraram ter informações (falsas) sobre uma mobilização
das tropas israelenses, o Presidente egípcio Gamal Abdel Nasser mandou fechar,
como em 1956, o estratégico Estreito de Tiran. Era o mesmo que declarar guerra
aos judeus. E estes não perderam tempo.
MAPA DO ORIENTE MÉDIO EM 1967 |
A Operação FOCUS é, até
hoje, um case study em qualquer
escola de estratégia militar. Criada e aperfeiçoada pelo staff israelense, foi executada com perfeita eficiência pelos seus
generais. Logo na madrugada do dia 5, ondas de aviões atacaram de surpresa as
bases aéreas do Egito. Vindos do Mediterrâneo, destruíram no solo praticamente
a totalidade da força aérea egípcia. Sem cobertura, os tanques árabes, de
fabricação russa, ficaram à mercê dos blindados de Israel, os superiores Abrahams americanos. Foi um passeio.
AVIAÇÃO ISRAELENSE A CAMINHO DO SINAI |
Resolvida com rapidez a
frente do Sinai, os israelenses concentraram suas ações na margem ocidental do
rio Jordão, onde as tropas do Rei Hussein conseguiram resistir pouco mais de um
dia. No dia 8, os jordanianos cessavam a resistência e os tanques israelenses
chegavam ao lado leste de Jerusalém.
A Síria foi o desenlace.
Com sua aviação dominando os céus, as tropas israelenses penetraram em rápidos
movimentos nas Colinas de Golan e as dominaram em quarenta e oito horas.
Pronto. Em seis dias, a fatura estava liquidada.
Mas, isto foi apenas
mais um capítulo de uma história que dura quase quatro mil anos. Em 1973, outra
guerra iria acontecer. E, desde então, foram poucos os momentos de trégua. A
chama lenta da discórdia lá continua, nos atentados, nas represálias, nas
ameaças. Lágrimas que continuam a cair no solo de Canaã, no deserto do Sinai,
nas marés do Mar Vermelho, nas águas do Rio Jordão.
Oswaldo
Pereira
Junho
2017
É UMA INACREDITÁVEL HISTÓRIA, DIGO ATÉ FASCINANTE, CORAGEM, PERSISTÊNCIA, CERTEZA DO VENCER, PAIXÃO PELA TERRA (TÃO PEQUENA) PORÉM PURA HISTÓRIA .
ResponderExcluirFIQUEI APAIXONADA POR TUDO QUE LÁ VI E SENTI E IMPRESSIONADA COM A TRANQUILIDADE DE ASSENTAR NUMA MESA AO AR LIVRE PARA TOMAR E COMER ALGUMA COISA E NOS PARECER A TRANQUILIDADE TOTAL APEZAR DE, AO LADO, UM JOVEM COM UMA ENORME "CARBINA' TAMBÉM TOMANDO SEU LANCHE.QUANTO MAIS LEIO SOBRE OS ACONTECIMENTOS NAQUELA TERRA MAIS CURIOSIDADE TENHO .
É um amor à terra que faz superar a sensação de constante perigo. No mais, é uma situação de total insensatez...
ExcluirParabéns Oswaldo! Um grande prazer ler este belo e eficiente texto sôbre a guerra dos 6 dias e a história do povo judeu. Abordas um longo período histórico de forma leve. concisa, com informações básicas que interessam a todos que gostam de ouvir boas histórias e estórias! abs
Obrigadíssimo, Isadora. É sempre bom receber retornos como este.
ExcluirQuatro mil anos de história e seis dias extraordinários. Tudo resumido com maestria. Justa homenagem a esse bravo povo judeu no transcurso dos 50 anos da extraordinária campanha militar. Três distintas frentes de combate vencidas em seis dias de estratégia, inteligência, disciplina e bravura. Síntese histórica e homenagem irretocáveis. Parabéns meu caro. Zeca.
ResponderExcluirObrigado, caro Zeca. Quando eu era pequeno, havia uma profecia que vaticinava o fim do mundo quando os judeus retornassem à sua terra. Mais uma que falhou...
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