A data está marcada. Será
em algum mês de 2033.
O fascínio pelo pequeno
planeta começou no momento em que um homo
sapiens mais esperto notou, dentre os zilhões de pontos luminosos que se
espalhavam por cima de sua cabeça nas noites sem nuvens, um de cor avermelhada,
como se uma pequena brasa, elevada da tosca fogueira que aquecia sua pele pelo
vento cortante da savana, tivesse ido parar no firmamento. Às vezes ela
aparecia, outras não e seu caminho pelo escuro profundo parecia incerto. Por
mais que desse tratos à bola, o nosso interessado primata não conseguiu
encontrar um significado para aquele estranho ponto encarnado e resignou-se
apenas a admirá-lo.
Mas, quando o Nilo passou
a refletir o contorno das pirâmides, os astrônomos do faraó já haviam decifrado
o movimento excêntrico daquela estrela vermelha e, pouco depois, os babilônios
tinham anotado em suas tábuas de barro que ela perfazia 42 circuitos do zodíaco
a cada setenta e nove anos. Logo, os gregos criaram seus deuses e a poesia
mitológica deu-lhes um lugar no céu. O planeta cor de fogo só podia ser o
impetuoso Aries, senhor da guerra.
Aries virou Marte para os romanos e
para os compêndios de astronomia.
Aos poucos, a poesia e a
lenda cederam seu lugar à observação científica. Aristóteles verificou que o deus era apenas um corpo celeste e se
situava muito além da Lua. Pela mesma época, os hindus chegavam a um cálculo
aproximado de seu tamanho. Na Europa, as trevas da Idade Média tiveram de
dissipar-se para que novos avanços científicos fossem retomados. No século XVII
Tito Brache e Johannes Kepler determinaram sua distância da Terra e Gallileo Gallilei viu-o em rudimentar close-up no seu telescópio.
MANCHETE DE 1912 |
ORSON WELLES NO RÁDIO - 1938 |
A Segunda Guerra desviou
as atenções, mas, com o advento da Guerra Fria, a febre voltou. Entre 1949 e
1959, multiplicaram-se os depoimentos sobre a aparição de discos voadores. Tantos, que a Força Aérea americana instituiu uma
investigação oficial do fenômeno, conhecida como Projeto Blue Book. Para a legião de crentes na existência dos Unindentified
Flying Objects (UFO’s), ou OVNI’s, se não eram russos, eles só poderiam vir
de Marte.
A GUERRA DOS MUNDOS - FILME DE 1953 |
Como não podia deixar de ser, a corrida espacial,
mais científica que ficção e mais empolgante que a fábula, sepultou a visão
romântica que se tinha de Marte. Com o homem chegando à Lua, o astro ficara
mais perto. E mais ainda ficou quando as primeiras sondas pousaram em suas
areias vermelhas. Nada havia de fantasmagórico nas fotografias tiradas pelas
naves Viking, embora secretamente
muita gente torcesse para que, de repente, a carinha verde de um marciano
aparecesse diante das câmeras.
Hoje, os probes Opportunity e Curiosity trafegam ágeis pela topografia
marciana, enviando preciosos dados para a Terra. O planeta está mapeado e
parece tão desprovido de vida quanto o nosso satélite natural. Parece. A certeza virá somente quando a
caminhada, que esta semana começou com a viagem orbital do equipamento que
levará os primeiros astronautas, a cápsula Orion,
chegar ao seu destino, em algum momento de 2033.
Alyssa Carson, uma
adolescente de 13 anos, já está se preparando para a grande aventura. Ela terá
32 anos então. Poderá ser o primeiro ser humano a pisar em Marte. E,
finalmente, dirimir as dúvidas que assaltavam aquele homo sapiens que, na noite pré-histórica, primeiro notou um ponto
vermelho no céu.
Oswaldo Pereira
Dezembro 2014
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