quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020, UMA RETROSPECTIVA?

Pensem um pouco... Lembram-se da noite de 31 de dezembro de 2019? E dos desejos e propósitos? Das esperanças e dos projetos? Falava-se, sim, de um surto viral numa cidade chinesa de que ninguém sabia o nome. Mas, era um assunto pequeno, distante e menor, perante a grandeza dos sonhos que vislumbrávamos para os 365 dias que despontavam no horizonte.

Pois é, quem poderia imaginar? Um ano com um numeral tão bonito, simpático até. Dois 20’s, um após o outro. Até em algarismos romanos era charmoso. MMXX. Que cruel decepção...

 

Doze meses que jamais serão esquecidos. Mesmo depois que as gerações agora viventes tiverem desaparecido na poeira, 2020 irá se juntar à galeria dos anos marcados pelo destino e gravados na pedra do tempo.

Diferentemente dos anos comuns, a retrospectiva de 2020 é uma história monotemática. A crônica de uma nota só. Dois meses normais e, em março, a humanidade se deparou com o impensável. A Pandemia. Podia ter sido outra coisa com o mesmo impacto, a chegada de uma nave alienígena, a descoberta da fonte da juventude ou até a revelação de que Elvis, afinal, estava mesmo vivo. Mas, não. O que vai ficar na lembrança e nos arquivos será o COVID-19.

De repente, tudo mudou. Narizes e bocas desapareceram para dentro das máscaras, cotovelos passaram a ser os reis da etiqueta, famílias se distanciaram, o trabalho e o ensino foram para as telas dos laptops e dos celulares, palavras como confinamento, distanciamento social e lockdown dominaram as conversas e os discursos. Fiqueemcasa virou hashtag e as ruas, os bares, os shoppings, os cinemas e os teatros ficaram desertos. O mundo virou um filme-catástrofe.

Como não podia deixar de ser, um cataclismo deste calibre fez aflorar os anjos e os demônios, o melhor e o pior que raça humana tem a oferecer. De um lado, deslumbrou-nos e aqueceu o nosso coração a entrega incondicional e corajosa das equipes médicas à missão de salvar vidas e minorar sofrimentos. Se Churchill vivo estivesse, repetiria sua magistral frase. Nunca tantos deveram tanto a tão poucos.

Do lado negro, assistimos assustados a um festival sem graça de erros, trapalhadas, politicagens, desonestidades e canalhices de toda a sorte de políticos ambiciosos, autoridades incompetentes e mesmo mal-intencionadas, de uma imprensa mundial corrompida e desinformada e de laboratórios gananciosos. A mim, causou-me espanto e inconformismo a ONU ter-se limitado a nos oferecer o triste espetáculo de uma OMS desorientada e alarmista.

Há várias lições a serem tiradas disto tudo. Não sei se vamos aprendê-las. Mesmo com a promessa das vacinas, a herança para 2021 ainda carrega o perigo dos efeitos colaterais da pandemia. Sequelas psíquicas e comportamentais de uma quarentena prolongada, cuidados médicos de outras doenças postergados ou abandonados. Para não falar na ressaca econômica de centena de milhares de negócios fechados, milhões de desempregados e mais milhões descendo ao nível da pobreza.

2020 levou mais do que trouxe. No esporte, nos surrupiou Kobe Bryant, Maradona e Paolo Rossi. Na música, Little Richard, Kenny Rogers, Enio Moriconi e  Eddie van Halen.  Nas telas, Sean Connery, Max von Sidow, Kirk Douglas, Chadwick Boseman e Olivia de Havilland. E o Brasil viu irem embora Nicette Bruno, Aldir Blanc, Moraes Moreira e Flavio Migliaccio.

Trump perdeu, num dos pleitos mais apertados da história yankee. A China nos mandou o vírus e o recado de que não está mais para brincadeiras. O proverbial negócio da China mudou. Agora, o negócio É a China. E as fake news tomaram de assalto todos os veículos de informação (sic), da grande imprensa às redes da web.


Aqui, tivemos o surgimento de um novo regime político, com a transformação do STF em Supremo Tribunal Imperial. Manda que pode e obedece quem tem juízes...

E agora estamos novamente no limiar do dia 31 de dezembro. De repente, o gostinho de ficar fazendo planos e desfiando sonhos ficou amargo. Todo mundo quer ardentemente que o próximo ano seja melhor, bastante melhor. Do jeito que foi 2020, nem precisaria muito. 

Entretanto, é proibido desacreditar. Esperança é uma velhinha teimosa, uma canção eterna, uma flor que não definha nunca.


UM VENTUROSO, ABENÇOADO E FELIZ 2021

Oswaldo Pereira

Dezembro 2020

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

NATAL 2020


Queridos e pacientes leitores deste blog.

UM ABENÇOADO NATAL

e, este ano, em vez de um conto, vai uma louvação


Quero louvar o Natal. E quero ouvir minha voz ecoar pelos caminhos, por ruas agora desertas, envolvidas no silêncio de uma noite escurecida, de almas sós e incertas.

Quero que anjos sozinhos, cansados de tanto de voar por precoces cemitérios, lembrem-se qu’inda há céu e vida, que o canto inda persiste.

E que, apesar de triste, ele evoca os mistérios d’outra noite abençoada, cingida pela estrela guia, pelo brilho da orvalhada, pelo choro de um menino.

Quero agora ouvir o sino, as vozes unidas em preces, em catedrais, ou até, mesmo em simples cantoria, espalhar-se pelos ventos, coros juntados aos centos, mais de mil, mais de um milhão, neste grito, neste rito, nesta fé

Nesta minha louvação

Oswaldo Pereira

Dezembro 2020

domingo, 20 de dezembro de 2020

MUITAS PERGUNTAS


Quando eu devia ter certezas, tenho dúvidas. Onde eu devia achar direção, vejo encruzilhadas. Na hora em que eu preciso de um destino, o mapa está de cabeça para baixo. No momento em que quero um Norte, me dão a Rosa dos Ventos. No instante em que eu preciso de uma orientação sensata de um órgão internacional credível, aparece a OMS.

Foram nove meses de um espetáculo inédito na História. Um planeta inteiro perdido, desorientado, desnorteado, entontecido. E, naturalmente, amedrontado.

O COVID-19 veio nos mostrar quão fracos somos. Quão ovelhas e muares somos. Quão fáceis de emprenhar pelo ouvido somos. E quão facilmente nos desvestimos de nossa apregoada, e suposta, superioridade sobre as outras espécies. Homo sapiens, sei...

Nove meses passados, e não sabemos nada. Vivemos num mundo de achismos, teorias, contradições. De oportunismos, politicagens, egocentrismos, patranhas. Toda a Humanidade refém de um conto de terror, e ninguém diz coisa com coisa.

E, para jogar mais lenha nessa fogueira e aumentar a fumaça que nos cega, aí vem a vacina. Ou melhor, aí vem mais uma controvérsia, mais uma batalha de disses e me disses para exacerbar nosso medo e a nossa confusão.

Perguntas? Sim, eu as tenho, num ponto da minha vida em que já devia ter todas as respostas na ponta da língua.

Há ou não uma pandemia? Estatisticamente, mesmo adotando os números de infecções e mortes fortemente inflados pela mídia e pelas autoridades, o COVID apresenta um grau de contágio igual a qualquer outra virose e uma taxa de letalidade muito menor.

Se tecnicamente não é uma pandemia, é necessário atropelar todos os protocolos exigidos para se fabricar uma vacina sob o discutível argumento de que há uma situação emergencial?

Como tornar obrigatória uma vacina que não passou pelas fases mais importantes do desenvolvimento de medicamentos semelhantes, e adotado desde que o mundo é mundo, que é o teste em animais?

Se é sabido que há, nem que seja minimamente, o risco de distúrbios colaterais, até de longo prazo, na aplicação das vacinas, por que fazê-la em fatias etárias da população nas quais a incidência da doença causada pelo vírus e a probabilidade de óbito é moderada, pequena ou quase nula?

Por outro lado, se a vacina é absolutamente segura, porque alguns laboratórios estão exigindo uma declaração de isenção de responsabilidade de quem a recebe?

A vacina de maior grau de confiabilidade garante imunização de 95%. Se aplicada a todos os brasileiros, ainda 10 milhões (5% de 200 milhões) ficariam desprotegidos e expostos ao COVID. Após nove meses, o número acumulado de casos de coronavírus no Brasil é de 6,5 milhões. Faz isto algum sentido?

Tenho procurado me afastar do noticiário. Eles só me trazem dúvidas. E o que eu preciso é de respostas...

Oswaldo Pereira

Dezembro 2020

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

PRECONCEITOS



Sempre fui um ferrenho opositor de qualquer forma de racismo. Em nome desta convicção defendi, no decorrer da minha longa vida, amigos e colegas meus de demonstrações de intolerância a cores e etnias.

O recente caso ocorrido numa partida da Champions League, em que os dois times abandonaram o campo em repúdio a um alegado episódio de preconceito racial do quarto árbitro contra Pierre Webó, membro da comissão técnica do Istanbul Basaksehir, adversário do PSG, faz-me pensar.

Pelo relato da imprensa, o juiz teria se referido a Webó, que já havia sido advertido com um cartão amarelo por reclamar acintosamente da arbitragem, como “aquele negro ali”.

E aí eu me lembrei de um texto que escrevi em fevereiro de 2017, intitulado MEDO DAS PALAVRAS, que transcrevo a seguir.

“Em um mundo que progressivamente depende da comunicação, as pessoas passaram a ter medo das palavras. Coisas que antes eram ditas com naturalidade, voando livremente no cotidiano coloquial de gerações, foram de repente apanhadas por furores de reprovação, enjauladas como bactérias perigosas, tachadas de ofensivas.

Não sei por que artes de uma memória culpada, certos vocábulos perderam sua inocência e, trancafiados por uma rigorosa censura, foram banidos da conversação ligeira. Tornaram-se párias, anátemas, injúrias. Alguns podem até, se ditos em alta voz e em público, servirem de base para ações penais e processos tenebrosos.

É claro que insultos e xingamentos são agressões verbais e muitas podem até levar a ofensas graves, de que todo cidadão tem o direito de se defender na Justiça. Um princípio legal que vem do tempo dos romanos. Mas, para existir o crime, tem de haver a intenção. Não é a palavra que isto determina, e sim o animus do ofensor, a sua vontade de aparelhar o vocábulo de uma intenção de ferir moralmente o ofendido.

Estou enchendo a paciência de vocês todos com este palavrório para dizer do meu espanto em saber que a palavra mulata está sendo vetada neste iminente Carnaval carioca. Cáspite!, para usar um termo muito em voga do tempo em que a mulata era sinônimo de rainha dos nossos sambas e marchinhas. A mulata sempre foi o símbolo da proverbial tolerância dos nossos descobridores com relação à raça, exatamente a ausência de preconceito que uniu lusos e africanos, neste proclamado caldeamento de etnias que é a marca da pele dos brasileiros.

Demonizar esta palavra, só porque algum energúmeno descobriu que mulata foi uma corruptela de mula em tempos de Brasil Colônia é o mesmo que, de agora em diante, colocar no Index o adjetivo coitado que, todos sabem, é o particípio passado no verbo coitar, um reconhecido sinônimo do verbo f..der. Coitado quer dizer, assim, ... você já adivinhou.

Mas, já que a moda é a dos eufemismos, e palavras antes inocentes viraram ameaças à paz social, eu, do alto dos meus 76 anos, vou reivindicar meus direitos. A partir de agora vocês estão proibidos de me chamar de Velho (conota coisas gastas, usadas, imprestáveis), Idoso (vem de ido, acabado, indica partida, desaparecimento), Senior (um inadmissível anglicismo, usado preconceituosamente nas entradas de cinema e nos cartões de transporte urbano), Coroa (termo que atenta não só contra a lógica, pois o que tem este adereço real a ver com idade?, como também insinua uma certa feminilidade), Tio (sou filho único e sobrinhos os tenho só por afinidade) e, em hipótese nenhuma, digam que estou na 3ª Idade.  Terceira é sempre uma coisa inferior, terceira classe, terceira categoria, terceira divisão, terceiro mundo...

Nada disto. Se quiserem, tratem-me de jovem há mais tempo. Ou simplesmente pelo meu nome. Porque, se usarem algum dos termos do parágrafo anterior, eu chamo a Polícia...”

Oswaldo Pereira

Dezembro 2020

domingo, 6 de dezembro de 2020

ARCA & COVID

 



Segundo narram as Sagradas Escrituras, a Arca de Noé, depois de começar a navegar assim que as águas do Dilúvio a elevaram do solo de Canaã e manter-se flutuando durante os 40 dias da tormenta, ainda singrou uma Terra totalmente coberta de água (20 pés acima da mais alta montanha) por mais 5 meses, até encalhar no cume do monte Ararat.

Interpretações bíblicas datam todo esse acontecimento com uma precisão de dar inveja. Segundo elas, a chuvarada começou em 6 de maio de 2349 a.C. e Noé só ancorou seu transatlântico na montanha turca em 30 novembro do mesmo ano.

E eu, que já algum tempo, em meus devaneios solitários de noites insones, percebia uma certa analogia poética dos nossos dias pandêmicos com a passagem bíblica (uma Humanidade confinada na barcaça do Medo, navegando um mar de horrores viróticos e vivendo na esperança de uma promessa firme para se salvar), tive quase uma epifania quando comparei as datas.

O COVID, embora tenha dado o ar de sua desgraça ao final do ano passado em Wuhan, só se tornou efetivamente global, ou seja, com incidência em grande escala nos cinco continentes, no segundo trimestre de 2020. No dia 2 de dezembro, o Reino Unido deu início efetivo à vacinação de seus súditos.

Chegamos ao Ararat?  

A Bíblia não fala do que aconteceu a seguir com muitos detalhes. Há o lance do arco-íris e da pomba com o galhinho de oliveira no bico. Mas, cá prá nós, será que você consegue imaginar a louca euforia que teve ter dominado bichos e gente? A fome de coisa melhor que as rações controladas servidas na Arca, o desejo de correr em terra firme, sentir o vento lambendo crinas, penas, pelos e cabelos, de banhos em riachos e cascatas. A satisfação de cios contidos por meses nos porões da nave. O deslumbramento de começar a andar por uma Terra renovada, verdinha como a Primavera, pronta para ser repovoada.

É isso que vai acontecer conosco? Embora ainda exista um receio, até certo ponto justificado, com relação às vacinas, tenho certeza que muitas centenas de milhões de pessoas, exaustas e apavoradas pela mídia irresponsável, irão voluntariamente procura-las. Apesar de os Governos não falarem abertamente em obrigatoriedade, ela vai acabar sendo virtualmente imposta pelas restrições que serão estabelecidas para aqueles que decidirem não se vacinar.

Assim, pelo bem ou pelo mal, grande parte da população do planeta, queira ou não, vai receber em seu bracinho uma picada americana, alemã, belga, russa ou chinesa.

Imaginando positivamente, isto pode significar que, com bilhões de seres devidamente vacinados, a pandemia seja levantada nos albores de 2021. Vamos partir para os novos Loucos Anos 20, exatamente um século depois? Vamos, em bom tupiniquim, arrebentar a boca do balão?  Tirar o atraso? Balançar a roseira?

Ou fazer como Noé e sua família que, por uma razão não explicada, só saiu de arca um ano depois de chegar ao Ararat?

Oswaldo Pereira

Dezembro 2020