Pensem um pouco... Lembram-se da noite de 31 de dezembro de 2019? E dos desejos e propósitos? Das esperanças e dos projetos? Falava-se, sim, de um surto viral numa cidade chinesa de que ninguém sabia o nome. Mas, era um assunto pequeno, distante e menor, perante a grandeza dos sonhos que vislumbrávamos para os 365 dias que despontavam no horizonte.
Pois é, quem poderia imaginar? Um ano com um numeral tão bonito,
simpático até. Dois 20’s, um após o outro. Até em algarismos romanos era
charmoso. MMXX. Que cruel decepção...
Doze meses que jamais serão esquecidos. Mesmo depois que as
gerações agora viventes tiverem desaparecido na poeira, 2020 irá se juntar à
galeria dos anos marcados pelo destino e gravados na pedra do tempo.
Diferentemente dos anos comuns,
a retrospectiva de 2020 é uma história monotemática. A crônica de uma nota só. Dois meses normais e, em março, a humanidade se deparou
com o impensável. A Pandemia. Podia ter sido outra coisa com o mesmo impacto, a
chegada de uma nave alienígena, a descoberta da fonte da juventude ou até a
revelação de que Elvis, afinal, estava mesmo vivo. Mas, não. O que vai ficar na
lembrança e nos arquivos será o COVID-19.
Como não podia deixar de ser, um cataclismo deste calibre fez
aflorar os anjos e os demônios, o melhor e o pior que raça humana tem a
oferecer. De um lado, deslumbrou-nos e aqueceu o nosso coração a entrega
incondicional e corajosa das equipes médicas à missão de salvar vidas e minorar
sofrimentos. Se Churchill vivo estivesse, repetiria sua magistral frase. Nunca tantos deveram tanto a tão poucos.
Do lado negro, assistimos assustados a um festival sem graça de
erros, trapalhadas, politicagens, desonestidades e canalhices de toda a sorte
de políticos ambiciosos, autoridades incompetentes e mesmo mal-intencionadas,
de uma imprensa mundial corrompida e desinformada e de laboratórios
gananciosos. A mim, causou-me espanto e inconformismo a ONU ter-se limitado a nos
oferecer o triste espetáculo de uma OMS desorientada e alarmista.
Há várias lições a serem tiradas disto tudo. Não sei se vamos
aprendê-las. Mesmo com a promessa das vacinas, a herança para 2021 ainda
carrega o perigo dos efeitos colaterais da pandemia. Sequelas psíquicas e
comportamentais de uma quarentena prolongada, cuidados médicos de outras
doenças postergados ou abandonados. Para não falar na ressaca econômica de
centena de milhares de negócios fechados, milhões de desempregados e mais
milhões descendo ao nível da pobreza.
2020 levou mais do que trouxe. No esporte, nos surrupiou Kobe
Bryant, Maradona e Paolo Rossi. Na música, Little Richard, Kenny Rogers, Enio
Moriconi e Eddie van Halen. Nas telas, Sean Connery, Max von Sidow, Kirk
Douglas, Chadwick Boseman e Olivia de Havilland. E o Brasil viu irem embora
Nicette Bruno, Aldir Blanc, Moraes Moreira e Flavio Migliaccio.
E agora estamos novamente no limiar do dia 31 de dezembro. De repente, o
gostinho de ficar fazendo planos e desfiando sonhos ficou amargo. Todo mundo
quer ardentemente que o próximo ano seja melhor, bastante melhor. Do jeito que
foi 2020, nem precisaria muito.
Entretanto, é proibido desacreditar. Esperança é uma velhinha
teimosa, uma canção eterna, uma flor que não definha nunca.
UM VENTUROSO, ABENÇOADO E FELIZ 2021
Oswaldo Pereira