O mundo parece estar com febre. Dos gilets jaunes franceses, aos ninjas de Hong-Kong. Dos desconfiados
eleitores bolivianos aos enraivecidos contribuintes chilenos. 1968 todo de
novo. Do burn baby burn dos guetos negros. Dos les jours em Mai de Paris.
Povo nas ruas. Uma onda cíclica que
deságua por entre os canyons de
concreto das grandes cidades. Um monstro icônico que rebate balas de borracha e
inspira gás lacrimogêneo. Estaremos nós novamente sob o império das vontades
das grandes marchas populares, as poderosas manifs
de 50 anos atrás? Terá a moda voltado?
E o que ela hoje significa? Há meio
século, o planeta experimentava um salto quântico. Moral e costumes davam uma
acentuada guinada no conceito dos valores tidos como pedras basilares pela
sociedade dita civilizada. Saindo da hecatombe da guerra, o comportamento certinho era o padrão default para um mundo cansado, mas
esperançoso de um futuro tranquilo e regido pelos denominadores família, trabalho e, se possível, religião.
A contracultura da beat generation, o desencanto com o Establishment, a liberalização da pílula, a floresta mágica das
drogas, a desconstrução da arte e os mantras hare-krishnas sobre a Era de Aquarius viraram, a partir do início da década de 1960, o mundo engomado e
esterilizado, saído da Segunda Guerra Mundial e mantido refém do medo da Bomba,
de pernas para o ar. Ir para a rua protestar era de riguer ou, melhor dizendo, IN.
Tudo indica que estamos em nova mudança
de ciclo. Não sei que Era é esta, mas o milênio que nasceu sob a fumaça da
Torres Gêmeas vem agitando suas bandeiras. A ferramenta do século, as Redes
Sociais, já está mudando, como há 50 anos as flores nos cabelos, os patamares e
as etiquetas de comportamento. Inclusive, e principalmente, na disseminação de
percepções políticas antes só atingida por esforços imensos de coordenação.
Hoje, bastam alguns cliques.
Assim, o povo está vindo de novo para as
praças e avenidas. Menos românticos do que há 5 décadas. Mais conscientes, e,
por isso mesmo, mais decididos, incansáveis e combativos. Não querem mais mudar
o mundo. Seus objetivos são específicos, dizem respeito às suas necessidades e
sonhos de agora, aos direitos que entendem como seus. Novos tempos.
Oswaldo
Pereira
Novembro
2019
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