Segunda parte do Hino do Flamengo,
composto pelo genial Lamartine Babo em 1945:
“Na
regata ele me mata
Me
maltrata, me arrebata
Que
emoção no coração
Consagrado
no gramado
Sempre
amado, o mais cotado
Nos
Fla-Flus é o ai Jesus!...”
Jorge Fernando Pinheiro Jesus é um
português com sólida história no futebol de seu país. Na juventude, chegou a
jogar pelo Sporting, mas seu destino estava mesmo fora, ou melhor, ao lado das
quatro linhas. Treinou um bom número de equipes, até chamar a atenção quando
levou o Belenenses a uma inédita final da Taça de Portugal. Do Restelo foi para
o Minho, dando continuidade à sua série de vitórias e conquistas no comando do
Sporting de Braga. Como não podia deixar de ser, logo um dos integrantes da
tríade máxima do panorama futebolístico português chamou-o para treinador. Foi
o Benfica. E, entre 2009 e 2015, Jorge Jesus comandou um dos mais vencedores
períodos da vida benfiquista, quase comparável à Época de Ouro de Coluna,
Torres e Euzébio. Foram 10 títulos, duas finais da Champions League e um rosário
de recordes vitoriosos.
A missão seguinte não foi tão brilhante.
Saindo do Benfica para o seu tradicional rival, Jesus não conseguiu reverter a
situação de profunda crise em que vivia (e ainda vive), o Sporting de Lisboa.
Acabou fazendo um acordo com o clube e foi para a Arábia Saudita. E lá, no
início deste ano, uma improvável esquina do destino apareceu em seu caminho. O
convite do Flamengo.
Não sei se Jesus imaginava a paixão em
que iria mergulhar. O time havia saneado suas finanças e fizera um inteligente
programa de novas contratações. A conquista do campeonato carioca, logo no
início do ano, já dava indicações de que o trem rubro-negro deixara a estação
em que amargara um insípido jejum de títulos. Estava ganhando movimento. Mas,
precisava de mais velocidade. Precisava de um maquinista que soubesse disparar
a pressão que vinha da caldeira. E, o que este novo maquinista fez, foi dirigir
o comboio para além do limite de velocidade da linha. O trem agora parece voar.
Disciplina, plantel e inspiração. Com
esta trinca de cartas, Jesus desembaralhou a monótona cena do futebol
brasileiro, de partidas e mais partidas sem imaginação nem entusiasmo, de
retrancas e caneladas, de passes para o lado. E mais. Sua obsessão com um
esquema sempre ofensivo, ao mesmo tempo em que fecha os espaços na defesa,
atraiu a admiração dos que se recordavam do espírito atacante que, por muito
tempo, foi a característica do jogo brasileiro.
Lamartine adivinhou. O Flamengo de hoje
é o Ai, Jesus.
Oswaldo
Pereira
Novembro
2019