sábado, 20 de outubro de 2018

DESTINOS CERTOS: OS PASSADIÇOS DO PAIVA




Como todo país inteligente, Portugal tem investido pesado em turismo. Aproveitando o declínio e a insegurança de outros destinos turísticos, como Tunísia, Egito e Turquia, por exemplo, antes sonho de consumo dos europeus nórdicos, e marqueteando com extrema habilidade seu clima temperado, a sua prodigiosa História e a excelência de sua infraestrutura hoteleira, Portugal está na moda. Em 2018, a expectativa é de mais de 24 milhões de visitantes.

E basta andar por aqui para constatar esta verdade. Do Terreiro do Paço às praias do Algarve, dos vales do Minho às planuras do Alentejo, turistas de todas as categorias se regalam com intermináveis dias de sol, pratos regionais de revirar os olhos, vinhos soberbos na melhor relação custo/benefício deste lado do Mundo e paisagens ainda pristinas se alongando por entre pedaços de um rico e majestoso passado.

Mercê de um excelente sistema de autoestradas, que fazem ainda menores as distâncias já reduzidas de um país geograficamente pequeno, a descoberta das inúmeras sutilezas de seu território resulta numa tarefa fácil, tranquila e extremamente prazerosa. Ciente disto, o Governo português vem, desde a virada deste século, disponibilizando recursos às administrações municipais, além de crédito e vantagens fiscais a empreendedores privados, para recuperação e manutenção de sítios naturais e históricos de interesse e potencial turísticos. E, acredite, são muitos. Com quase 900 anos de existência, fora seu período pré-independência, que remonta ao tempo dos fenícios, e abençoado com dezenas de regiões de climas diversos, Portugal é sempre uma novidade.

Um exemplo.

A mais ou menos 30 quilômetros da cidade do Porto, existe uma belíssima região em cujo território corre um sinuoso rio, esgueirando-se por entre encostas escarpadas, formando em seu caminho ora furiosas corredeiras, ora remansos de profunda calma. Conhecida como a Garganta do Paiva, é o cenário onde o rio do mesmo nome oferece paisagens deslumbrantes, até há pouco conhecida apenas por tenazes montanhistas e empedernidos aficionados do rafting.
Em junho de 2015, ciente das possibilidades turísticas do lugar, o Governo português fez construir um passadiço, ou seja, um extenso caminho em madeira ao longo da margem esquerda do Paiva.  Margeando o fluxo d’água por mais de 8 quilômetros, iniciando com uma subida de 400 metros e mais de mil degraus, esse passadiço propicia um passeio inesquecível, no qual, a cada curva, o visitante se depara com uma natureza ainda em estado puro, em que cabras montesas equilibram-se nas pedras, árvores fornecem sombras acolhedoras, a vista se perde nos encantos do vale acentuado e um silêncio reverencial parece tudo rodear.

Em junho de 2016, entretanto, um incêndio, insuflado em grande parte pelo denso eucaliptal que cobria as encostas, destruiu 1.200 metros do percurso. Felizmente, em rápida ação, as autoridades portuguesas repararam o dano, reconstruído a parte afetada e cuidando para que árvores autóctones substituíssem os eucaliptos.

E os Passadiços lá estão, novamente em todo o seu esplendor, como pude constatar há dias, numa abençoada manhã de verão tardio.

Oswaldo Pereira
Outubro 2018





terça-feira, 9 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018




Descontando os 20,3% de abstenção, quase 120 milhões de brasileiros foram votar. Um colégio eleitoral respeitável que, pelo menos, indica um apego salutar ao que chamamos de Democracia. Ainda que o sistema triture este apego em suas lâminas corrompidas, ainda que uma boa maioria dos eleitos lambuzem esses votos na lama do pântano da Administração Pública, ainda assim, o povo verte sua dose de esperança cada vez que o Brasil o chama às urnas.

Nos quase 200 anos de independência que compõem a nossa História, vimos, com lapsos de tempo, cumprindo este compromisso com certa assiduidade, de maneira às vezes defeituosa, às vezes tutelada, às vezes até com um certo enfado. Por desinformação ou por interesse curto, muitas vezes desincumbimo-nos deste direito como se fosse uma obrigação chata. Mas, sempre fomos.

Em tempos recentes, as evidências de generalizada malversação do sofrido dinheiro que nos é tirado como imposto, da suja praça de vendilhões em que se transformaram Congressos e Assembleias, da untuosa arrogância, ungida pela certeza da impunidade, da maioria dos nossos políticos, da desfaçatez com que, em corredores do poder e na calada de uma noite perene, aprovavam regras e leis em seu próprio interesse fizeram minguar a confiança no processo. Democrático? Bem...

Mas, continuamos sempre a ir, numa doida perseverança, numa visão teimosa de Dom Sebastião, a pé, sob chuva ou sol, colocar nossa gota de esperança no oceano do futuro da Nação.
Desta vez, não foi diferente. Ou foi?

A partir dos resultados já divulgados, dá para sentir que alguma coisa mudou. Um suave sopro de conscientização, uma leve brisa de responsabilidade parece ter bafejado o eleitor tenaz, mas cansado. Prá começo de conversa, o eixo formador de opinião mudou de lugar. A TV, e seu famigerado Horário Político, uma palhaçada de frases feitas e promessas vazias, foram soterradas pelas novas vias de comunicação. Hoje, o eleitor faz seu próprio programa de informação política pelas redes sociais. Já não resta dúvida que o WhatsApp foi o grande influenciador destas últimas eleições.
Como resultado, essa maior conscientização operou alguns milagres. Currais eleitorais foram desmontados. Nomes e dinastias, dizimados. Romero Jucá, Roberto Requião, Edison Lobão, Eunício Oliveira, Lindberg Faria, cardeais intocáveis por décadas foram defenestrados. Os Sarneys banidos em seu próprio latifúndio. E a “presidenta” Dilma finalmente repudiada.

A mesma coisa aconteceu com legendas e partidos. O PSDB perdeu 4 cadeiras no Senado e 14 na Câmara. O MDB, 7 e 18, respectivamente. Embora mantendo sua hegemonia no Nordeste, o PT tem agora menos 6 senadores. Por outro lado, o nanico partido de Jair Bolsonaro, o PSL, saiu de 2 para 51 lugares na Câmara Alta.  E, é claro, a quase vitória dele no primeiro turno (46% dos votos válidos) indica que alguma coisa mudou. Entende-se que a inelegibilidade de Lula revirou o mapa eleitoral. Acho, entretanto, que foi a desastrosa, corrupta e desonesta administração do PT, nestes 14 anos, que dispararam a enorme rejeição que explodiu no meio mais eficiente de convencimento que temos hoje. O celular.

Oswaldo Pereira
Outubro 2018