Resolvi
deixar passar um tempo. A poeira abaixar, os ânimos serenarem.
Mas
o mundo de hoje tem Facebook. E Twitter. Duas ruas do velho oeste onde
vários duelos ocorrem em qualquer tarde ensolarada. Palavras que voam a esmo
como as balas nos antigos tiroteios, contundentes e irreconciliáveis,
destilando peçonha como dardos envenenados.
Nunca
usei (e nem gostei) do Twitter. Sua
proposta de limitar a comunicação a um número pré-determinado de caracteres
insultou-me logo de início. Como assim? Uma linguagem de telegrama na era da
Web? Seria possível que o gosto pelas palavras era agora um pecado abominável? E
a construção de uma frase elaborada, a burilar ideias e lapidar pensamentos,
onde ficava? Passei ao largo...
O
Face tinha melhor propósito, além do
objetivo, que agora descobrimos, de vender informações pessoais. Admitia
imagens, permitia texto longos, citações derramadas por vários parágrafos, e as
caretinhas simpáticas dos emoticons. Nosso
círculo de amizades estava ali, à mão, pronto para nos ver e ouvir. E não só.
Nossa comunidade de amigos nos iria curtir,
cutucar e, suprema prova de carinho, compartilhar
as nossas manifestações, nossos mementos e nossos devaneios.
O
problema é que tudo isso virou arena. Virou campo de batalha. Virou um esgoto
virtual, onde se despeja o lixo das fake news,
o veneno do bullying, o destrave
dos recalques e o rastilho dos confrontos. Um bate-boca só. E, por isto mesmo, as
redes sociais estão desmanchando o sonho para o qual foram concebidas, o de aproximarmo-nos
do aconchego de nossas amizades. Em suma, perdeu a graça.
Tenho
ido cada vez menos ao Face. Quase
somente para publicar os meus textos e rezar para que eles se esgueirem entre a
fuzilaria e cheguem sãos e salvos aos olhos de meus resignados leitores. Não
tenho mais paciência para ficar desbobinando, minutos a fio, esse interminável
espetáculo de engalfinhamento verbal e de troca de farpas.
Prefiro
ler um bom livro.
Oswaldo Pereira
Abril 2018